Capítulo 5

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Rodrigo desprendeu-se do cinto e saiu pelo painel do carro, que a essa altura nada mais era do que uma imensa janela para ele passar. A respiração estava curta, embora o carro não tivesse afundado ainda por completo. Enfim estava imerso. Olhou para o alto a fim de ver se o infeliz ainda estava ali na ponte, olhando o trabalho que acabara de fazer; mas não. As pessoas começavam a surgir para olhar o que havia acontecido. Ele deu uma rápida olhada ao seu redor, os olhos ardiam um pouco pela água salgada. Mas onde ela estava?

— Droga!

Rodrigo pegou o máximo de ar que podia guardar em seus pulmões e mergulhou novamente. Chegou junto à porta do passageiro e lá estava ela: desacordada e com um pequeno corte do lado direito da testa. Provavelmente ficou inconsciente antes mesmo de tentar sair do carro. Ele abriu a porta com certa dificuldade, a desprendeu do cinto e subiu com ela até a superfície.

Algumas pessoas quando viram que ele voltara com alguém inconsciente, ajudaram-no a sair com ela da água. Nem a polícia nem a ambulância chegara ainda no local.

Rodrigo estava preocupado, ajoelhado em frente a ela, tentando ouvir alguma pulsação. Irritava-lhe ver que com tantas pessoas em sua volta, nenhuma delas tentou ajudá-lo. Pensou consigo que chegara a hora de pôr em pratica o que tanto vira seu irmão treinar. Segurou o nariz de Heloísa e assoprou sua boca. Mediu rapidamente onde faria a massagem cardíaca e pronto. Começou a tentativa de salvar a mulher que só sabia o nome.

Foram quatro tentativas e nada... Ele sentia um desespero. Sentia a mesma sensação de quando não conseguia salvar a mulher dos seus sonhos. Recusava-se a deixa-la ir. Não! Assoprou novamente sua boca e fez a massagem com certa força.

— Por favor...

Ele continuava a fazer a massagem cardíaca mais forte.

— Respira! — gritando.

Como se tivesse ouvido essas palavras, Heloísa tossiu e jogou uma boa quantidade de água que havia engolido. Mas isso não foi o suficiente. Os batimentos voltaram, mas a mesma continuou inconsciente.

Rodrigo olhou para os lados, a polícia chegaria logo. Isso não era nada bom.

A ambulância chegou primeiro. Rodrigo foi praticamente obrigado a acompanhá-los até o hospital. Ela não tinha ninguém, estava inconsciente e sem documento algum.

Assim que chegaram ao hospital, ele assinou o papel de entrada e desapareceu do local. De maneira alguma ele podia ser fichado na polícia agora, ainda mais por algo que ele não teve culpa. Seja lá quem fosse o louco daquela caminhonete, quase conseguira o que pretendia... Matá-los.

****

Era pouco mais de 11hrs da manhã quando Heloísa abriu os olhos dentro daquele hospital. Não tinha ninguém, apenas um barulho irritante de um aparelho ligado em seu dedo.

Como se entendesse do mesmo, ela tirou-o de sua mão e estava sentando-se na cama quando uma enfermeira entrou em seu quarto e já saiu. Sem entender e sem querer entender, Heloísa continuou levantando-se. Queria saber onde estavam suas roupas.

O quarto definitivamente não era de um hospital pago. A mesa com apenas uma gaveta ficava ao seu lado e tinha apenas uma flor murcha, provavelmente do último paciente que estivera ali, pensava ela. Lembrava vagamente o porquê de estar ali... O motorista, o acidente na água... O desgraçado a essa hora devia estar longe.

Antes de arriscar-se a descer da cama, foi surpreendida com um homem e uma mulher que entraram falando com ela, provavelmente eram médicos.

— Ei, ei, onde é que você está indo?

Memórias [Concluída]Where stories live. Discover now