Capítulo 9

89 9 2
                                    



O dia amanhecera ensolarado, para desgosto de Heloísa. Levantou da cama e pôde perceber que Rodrigo já saíra para trabalhar, e pelo visto atrasado, pois metade do café que ele próprio fizera, ficou em cima da mesa e uma rosca açucarada que Heloísa trouxera do seu trabalho mordida ao lado. Riu ao ver aquela bagunça. Era tão característico dele que até podia vê-lo em sua frente, olhando o relógio em seu pulso e largando tudo pela metade; Percebeu que também tinha um rastro generoso de água espalhada no chão.

Ao seguir o mesmo, só confirmou o que suspeitara. Saiu atrasado, mas não deixou de molhar o pequeno canteiro de flores. Qual seria sua ligação com elas?

Bom, aliviou-se em lembrar que era dia da faxineira limpar a casa, e por isso Heloísa nem ousou a se aventurar na louça como fazia algumas vezes. Mais uma tentativa e acabariam sem pratos ou copos durante o resto da semana. Pensava no que iria fazer para almoçar. Não era uma cozinheira de mão cheia, mas precisava se virar, afinal não tinha empregados, por enquanto. Iria fazer uma omelete, não devia ser tão difícil assim. Já vira Rodrigo fazendo para ambos, e se ele conseguia, então... Quando abriu a geladeira e pegou um ovo, a campainha tocou. Quem será que era? Era hora do almoço e Heloísa não pôde evitar o pensamento de que fosse realmente alguém muito inconveniente.

Ao abrir a porta, sem ao menos ter certeza de quem se tratara, Heloísa foi apertada em um forte abraço.

— Bom dia, Heloísa! — sorrindo.

— Julia?

— Desculpe-me vir assim, sem avisar. É que eu queria uma companhia para almoçar. Odeio almoçar sozinha e meu marido está viajando.

— Mas é que...

— Não se preocupe, é aqui na minha casa mesmo. É só atravessarmos a rua — sorrindo — Ah, eu não aceito um não como resposta.

Heloísa não tinha mais desculpas. Era aceitar ou aceitar o convite dela.

Julia conversava com Heloísa como se já se conhecessem há muito tempo. Já Heloísa sentia-se um tanto receosa. Ninguém leva alguém assim para a própria casa sem conhecer. Ela não podia negar que uma coisa iria gostar: de conhecer o interior daquele casarão. O Cheiro era de madeira antiga, simplesmente toda a casa era com moveis rústicos, o que particularmente Heloísa não gostou. Adorava coisas modernas, e quanto mais modernas, melhor... Já imaginara aquela casa inteiramente modificada.

A dona daquele casarão pediu que Heloísa sentasse-se um pouco até que o almoço fosse servido.

— E então? Eu fiz um ótimo negócio, não acha? Ela é...

— Magnifica — olhando com atenção todo o interior da sala.

Antes que Julia pudesse dizer algo, ambas foram interrompidas pelo barulho de uma breve corrida nas escadas. Era uma menina de uns 16 anos. Carregava em seu rosto uma expressão de impaciência e um piercing no nariz. Heloísa observava a menina. Era uma linda jovem.

— Mãe, cadê o fone do meu celular?

— Eu não sei Mariana. Você sabe que essas coisas é a Cida quem sabe.

— Que droga, mãe!

Sem ao menos cumprimentar Heloísa, a mesma logo voltou para o seu quarto. Julia olhou para Heloísa e disse, em tom de cansada:

— Minha filha Mariana, idade difícil essa... Sabe como é?

Heloísa percebera que a mesma dissera sem nenhum motivo em especial, mas aquilo fez com que ela formasse um nó em sua garganta e não conseguira dizer nada além de um simples "não".

Memórias [Concluída]Where stories live. Discover now