Capítulo 2

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    O relógio apontava exatamente 1h da manhã, quando Heloísa descia as escadas da mansão em passos silenciosos. Um casaco um tanto grosso para se usar no Rio de Janeiro, tapava quase todo o corpo de Heloísa. Luvas negras nas mãos e o salto alto ela só vestiu quando saiu pela porta da sala. Pegar o carro seria muito arriscado. Antes mesmo de chegar ao portão, Antônio ouviria e já estaria atrás dela. Os seguranças rodeavam a casa inteira. Era impossível sair sem que a vissem. Então se lembrou, de que quem manda naquilo tudo, é ela.

Ela veio aproximando-se do portão. O barulho do salto era abafado pelo gramado da entrada da casa.

— Senhora McGarden?

— Abra-o — apontando para o portão.

— Mas, senhora...

— A-go-ra.

Heloísa não precisou nem repetir. Pelo jeito se abrisse a boca mais uma vez, seriam demitidos naquela mesma hora. Ela saiu da mansão, mas antes de continuar sua caminhada até onde pegaria um táxi, virou-se e deixou mais um recado:

— E não quero ninguém indo dizer nada ao senhor McGarden. Entendido?

Todos apenas assentiram com a cabeça. Assim que chegou a uma avenida, logo passou um táxi e a mesma seguiu ao endereço indicado. Antônio não acordou durante aquela noite inteira e muito menos um dos seguranças atreveu-se a ir acorda-lo para dizer que a senhora McGarden estava pelas ruas do Rio, àquela hora e sozinha.

Não demorou muito até ela chegar ao local. Se Antônio soubesse do perigo que a mulher corria, jamais tomaria uma garrafa de Rum aquela noite. Mas ele também mal sabia que a Heloísa de agora, sabe muito bem se defender sozinha. Ela desceu do táxi e o mandou ir. Andou por uns cinco minutos até chegar onde o tal homem indicou. Estava escuro, e deu graças pelo casaco. Era perto do mar e um vento um tanto gélido soprava.

O homem que se aproximava dela, tinha apenas alguns fios no lugar do cabelo. Era baixo e muito barrigudo. Mas, ao contrário do que Heloísa imaginava, estava muito bem vestido. Junto dele encontravam-se mais dois homens. O velho aparentava uns sessenta anos, enquanto os outros dois não passavam dos trinta.

— Senhora Maria — beijando a mão dela.

— Onde ele está?

— Venha conosco.

Ela o seguiu. Estavam em um lugar deserto, onde a única coisa que tinham como testemunhas, era aquele imenso mar. Conforme ela foi se aproximando, ela viu dois carros parados próximos a um pequeno rochedo. Um deles tinha o farol ligado bem de frente para uma figura, que logo ela percebeu ser um homem de joelhos com um capuz na cabeça. O homem no chão apenas fazia ruídos, provavelmente estava com a boca amarrada por algo.

— É ele? — falou com tom de desprezo.

— Isso é a senhora quem vai me dizer — rindo.

Dizendo isso, o homem baixinho e careca puxou o capuz da cabeça do homem e Heloísa pode vê-lo melhor.

— E então? Acertei? É esse?

Heloísa olhou para o homem de joelhos. Era jovem e olhava para todos desesperadamente, mas não a olhava nos olhos. Ela foi aproximando-se dele, até ficar frente a frente. Em seguida abaixou e, olhando no fundo dos olhos dele, ela disse:

— Sim, é esse mesmo.

O homem careca não conteve a alegria, comemorou com os outros dois e disse:

— Posso matá-lo agora?

Quando disse isso, logo o rapaz que se encontrava de joelhos, caiu para o lado e começou a rastejar no chão, gritando em meio ao lenço que tapava a sua boca. Não fez muito, logo os dois homens que estavam ao lado do carro, o seguraram de frente para ela.

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