Capítulo 2

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Dois dias depois estava do lado de fora comendo uma banana que tia Ivete me deu, ela sempre que podia vinha me ver. Descobri que ela trabalhava na casa grande, onde vivia o patrão do meu pai, ela me mostrou até onde poderia andar pelo haras, o lugar era lindo e encontrei um refúgio embaixo de uma árvore que ficava em um lugar mais elevado do haras e ali eu via quase todo o terreno. Só via meu pai a noite e ele não falava comigo, então procurava ficar fora do seu caminho, se não fosse por tia Ivete eu poderia estar morrendo de fome. Sentia falta das minhas amigas Vicky, Mel e Gabriela, até mesmo o irmão gêmeo da Mel estava fazendo falta, mesmo ele puxando meu cabelo toda hora.

Estava distraída quando ouvi o barulho de uma moto, olhei em volta e levantei me escondendo atrás da árvore. Vi quando um rapaz parou em frente à casa grande, saiu da moto e retirou o capacete. Ele pôs o capacete no guidão da moto e depois com as mãos na cintura olhou tudo em volta, como se tivesse procurando algo. De repente ele olhou na minha direção e me viu, certamente não me escondi direito e fiquei com medo que ele pudesse brigar comigo.

Por um bom tempo o rapaz ficou me olhando, de onde eu estava pude perceber que ele era muito bonito e fiquei intrigada, tia Ivone saiu por uma porta lateral e foi até ele, o rapaz misterioso deu um beijo em seu rosto ela sorriu e ele falou alguma coisa e apontou em minha direção. Tia Ivete me viu e sorriu, então voltou a falar com ele e os dois vieram em minha direção. Fiquei nervosa, não sabia se deveria correr, então lembrei que correr às vezes piorava as coisas, resolvi ficar parada.

— Pode parar de se esconder — pediu o rapaz misterioso e achei sua voz muito bonita. — Te encontrei. — disse bem perto de mim. Olhei para ele e fiquei paralisada sem saber como agir. Esse moço parece um príncipe! Pensei na hora.

— Para de perturbar a menina — Tia Ivete falou com um sorriso na voz.

— Tia Ivete! Estou só me apresentando — argumentou com o sorriso mais lindo que havia visto. — Quem é essa menina linda? — perguntou olhando direto para mim.

— Ela é a filha do Antônio, está passando as férias com ele — respondeu tia Ivete.

— Nossa! O Antônio tem uma filha linda. E que olhos mais lindos — comentou enquanto me olhava com carinho. — Qual seu nome, menina bonita?

— Karen — respondi envergonhada.

— O nome combina com você. Eu sou o Lucas. — Ele ergueu a mão para se apresentar. Eu a segurei e ele a sacudiu carinhosamente. — Prazer te conhecer Karen.

Eu não sabia o que falar e só balancei a cabeça.

— Assim que der vou te levar para conhecer os cavalos, você já os viu? — perguntou com um sorriso acolhedor.

— Não senhor — respondi.

— Pode me chamar de Lucas, menina Karen. Tenho somente 19 anos, não sou nenhum velho — cochichou com expressão marota e passou a mão no meu cabelo para então piscar para mim.

Engraçado, nunca o tinha visto antes, mas com seu carinho, seu sorriso e suas palavras, senti uma felicidade completa.


Alguns dias depois, estava parada do lado de fora da casa do meu pai lendo um gibi quando alguém cutucou meu ombro me assustando. Olhei para o lado e vi uma garota um pouco mais velha, sua pele morena e cabelos cacheados eram lindos. Ela sorriu para mim e se sentou ao meu lado.

— Você deve ser a Karen, meu irmão falou de você — comentou e encarou-me, ela estendeu a mão e eu repeti seu gesto. — Eu sou a Stella, irmã do Lucas e do Benjamin. — Vendo minha cara de confusa ela riu. — Você ainda não conheceu o Ben, nosso irmão mais velho, ele vive viajando pelo mundo por causa das empresas de papai.

— Ah!

— Eu sou irmã de criação deles, mamãe e papai me adotaram quando eu era apenas um bebê, por isso sou tão diferente em aparência — declarou sem me dar a chance de falar nada. — E quase não fico por aqui, pois mamãe quer que eu estude na mesma escola que ela, na capital, geralmente passo as férias aqui então provavelmente nos encontraremos bastante, se você vier passar suas férias aqui todos os anos.

Eu apenas sacudia a cabeça, pois a menina não parava de falar, quando eu tentava esboçar alguma coisa, ela começava a falar novamente. Ela era engraçada e muito espevitada. Gostei dela, que me lembrava um pouco das minhas amigas.

Ela tentou convencer-me a ir com ela para sua casa, mas lembrei que meu pai me proibiu de me aproximar. Ele no pouco que falou comigo deixou claro que não queria que ficasse de papo com ninguém. Por isso sempre conversava com Lucas escondida dele. Não queria aborrecer meu pai, pois tinha medo que me batesse, ou pior: que me mandasse embora dali para nunca mais voltar.

O mês passou e quase não vi meu pai, quando o encontrava ele era muito grosseiro, minha única alegria era o Lucas, e a Stella que conversavam comigo e me levavam para ver os cavalos. Eu adorava passar o tempo com o Lucas. Tia Ivete também era boa comigo, sempre me agradando e dando coisas gostosas para eu comer, apesar do meu pai não gostar de mim e me tratar mal, eu estava adorando minhas férias, principalmente pelos novos amigos que adquiri.


Um dia antes de eu ir embora, Stella não podia ficar comigo, pois tinha que visitar uma tia, ela chegou a reclamar que odiava ir na casa da tia, pois não se dava bem com a prima, que segundo ela, a desprezava por conta da cor de sua pele. Não entendia porque algumas pessoas faziam esse tipo de coisa: tratar mal alguém por conta de sua cor.

Fiquei um tempo sozinha sentada no chão, encostada a minha árvore quando Lucas se aproximou.

— Menina Karen, você irá embora amanhã? — questionou sentando-se ao meu lado e encostando-se na árvore também.

— Eu vou — Falei com tristeza, pois meu coração estava apertado apenas em saber que não veria o Lucas.

— Você volta no próximo ano, não é? — perguntou animado.

— Acho que sim.

— Promete para mim, que voltará todos os anos? — pediu olhando-me com seu jeito afetuoso.

— Eu prometo — asseguro com um sorriso.

Lucas me abraçou e beijou minha cabeça.

— Boa viagem preciosa, estude bastante e não se esqueça desse seu amigo aqui — pediu enquanto bagunçava meu cabelo.

Eu ri.

— Pode deixar, não vou esquecer.

Naquela noite chorei, porque ficaria um ano inteiro sem ver o Lucas, meu mais novo amigo, e sua irmã, a Stella. Eu gostava muito deles. Mas para mim o Lucas era especial, ele era como um príncipe, o meu príncipe.

Minha PerfeiçãoWhere stories live. Discover now