Capítulo 5

3.6K 474 30
                                    

Caminhamos em silêncio, Lucas estava muito calado, e aproveitei para dar uma boa olhada nele. Ele usava uma calça jeans escura e uma camisa preta de gola polo. Lucas era muito mais alto que eu, certamente tinha por volta de 1,90. Seus olhos verdes e cabelos castanhos harmonizavam com sua pele, que devido a exposição ao ar livre apresentava-se bronzeada. Seu corpo parecia ser musculoso, e eu tinha muita vontade de tocá-lo. Esconder meus sentimentos por ele tornara-se praticamente impossível.

Chegamos aos estábulos e alguns dos trabalhadores o cumprimentaram e em seguida sorriram para mim. Eu não conhecia ninguém, meu pai não me queria de intimidade com o pessoal do haras e ameaçou me envergonhar na frente de todos caso me visse de papo com alguém. Se ele soubesse que eu conversava com Lucas e com Stella nem sei o que faria, a vantagem dele não me dar a mínima era essa: todos esses anos ele nunca desconfiou que eu tinha amizade com eles. Olhei para todos os lados e agradeci por não ver meu pai em nenhum lugar, sabia que seu trabalho era em outra área do haras, esse era o outro motivo de ter a certeza de que estava segura.

Assim que nos aproximamos Mavrós veio até Lucas.

— E aí rapaz! — exclamou e começou a acariciar o cavalo, fiquei observando sua mão e desejando que ele também me fizesse algum carinho. Estava tão perdida em minhas fantasias que não percebi ele falando comigo. — Karen?

Assustei-me e levantei meu olhar para ele.

— Oi?

— Você estava longe — comentou intrigado.

— É... — O que poderia dizer? Que estava fantasiando sobre sua mão no meu corpo? Só de imaginar fiquei vermelha.

— Agora você me deixou curioso, o que você estava pensando? — questionou olhando-me intrigado.

— Nada demais — disse mexendo os ombros. — Nossa ele está cada vez mais lindo — falei me referindo ao cavalo, tentando mudar de assunto.

Lucas sorriu e voltou se olhar para Mavrós.

— Ele está mesmo, não é? — Ele ainda acariciava o cavalo e me lembrei da conversa daquelas mulheres, será que se eu tomasse alguma iniciativa Lucas me veria com outros olhos? Será que ele poderia gostar pelo menos um pouquinho de mim? Eu estava enfeitiçada e me aproximei um pouco mais de Lucas, ele percebeu minha aproximação e me olhou desconfiado. — Karen?

Eu estava muito nervosa, mas não podia me afastar. Nunca havia beijado ninguém, o que era uma vergonha, já estava com dezoito anos e não sabia como agir. Tinha que mudar aquilo, precisava tentar. Eu desejava o Lucas. Por todos esses anos nutri um sentimento verdadeiro por ele, um sentimento muito diferente o qual não entendia, mas sabia ser algo muito especial.

Lucas era meu primeiro pensamento quando acordava e o último antes de dormir.

Antes que eu perdesse a coragem, impulsionei meu corpo para frente, agi com rapidez sem esperar qualquer reação por parte dele, assim fiquei na ponta dos pés, ergui minhas mãos e segurei-o pelos ombros, então corajosamente colei meus lábios nos deles.

Em um primeiro momento Lucas ficou paralisado, certamente não esperava essa atitude partindo de mim. Porém, em questão de segundos ele me segurou pela cintura e correspondeu ao meu beijo, senti sua língua forçando a entrada em minha boca e eu abri os lábios.

Lucas gemeu na minha boca e me senti no paraíso, eu estava beijando o Lucas, o meu amor, meu príncipe, meu herói. Fiquei tão eufórica que colei meu corpo no dele e em minha barriga senti sua dureza. Não sei quanto tempo durou o nosso beijo, só sei que foi o melhor momento da minha vida. Pela primeira vez senti meu corpo reagir diante o toque de um homem. Tudo em mim pegava fogo e queria congelar aquele momento. Desejava ficar para sempre nos braços do Lucas.

No entanto, minha alegria foi massacrada, de repente Lucas segurou meus braços e me afastou dele, me empurrou com força e quase caí. Naquele instante não entendi o que estava acontecendo com ele.

— O que você está pensando? — esbravejou de forma muito rude, parecia estar com raiva.

Eu nunca o vi daquela maneira, afinal sempre me tratou com muito carinho.

— Eu... é m-me desc... — gaguejei, pois não sabia o que dizer.

Enganei-me ao pensar que Lucas estava gostando do beijo, mas ele estava frustrado, enraivecido.

— Karen, nunca mais faça isso novamente, eu não te dei permissão para sair me agarrando — articulou entredentes.

Eu queria chorar, mas me segurei, estava tomando ciência que mais uma vez eu amava, e essa pessoa não poderia corresponder a esse amor. Eu abaixei a cabeça e olhei para o chão envergonhada.

— Desculpe-me, não sei o que me deu — declarei querendo sair correndo dali.

— Karen, você merece uma surra por agir desse jeito, eu deveria contar para seu pai e mandar que ele te desse uma lição — expôs andando de um lado para o outro.

Fiquei apavorada, se Lucas contasse algo para o meu pai, eu não sei qual seria sua reação.

— Por favor, não fale nada com ele — pedi com a voz trêmula.

— Vou pensar nisso. Realmente Karen, você me decepcionou! — Sua voz saiu como um rosnado.

Olhei para ele e Lucas não estava me olhando, senti meu coração se quebrando, eu era uma decepção para minha mãe, para o meu pai e agora o Lucas disse que eu era uma decepção para ele. Lucas se virou e foi embora, como se estivesse fugindo de algum bicho. Ao vê-lo se afastar, não pude me conter e deixei minhas lágrimas descerem.

Sem olhar para os lados saí correndo e fui o mais longe que pude, corri até não sentir minhas pernas, me ajoelhei no chão e chorei pela minha má sorte. Lamentei ter nascido, lamentei por ter feito algo errado e acima de tudo lamentei amar um homem que assim como meus pais me via como uma decepção. Chorei até não ter mais lágrimas.

A noite havia caído e resolvi voltar para casa, não sabia o que ia fazer, ainda tinha dez dias para ficar no haras. Aguardaria o retorno de Stella para me despedir dela, e enquanto isso ficaria longe do Lucas, fora do seu caminho.

Quando estava passando pela minha árvore vi Lucas chegando de moto com uma garota em sua garupa. Eles desceram e Lucas a beijou agressivamente segurando seu rosto. Fiquei escondida vendo eles se agarrarem, e eu que pensei que não poderia chorar mais, estava enganada, pois minhas lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto novamente. Fiquei ali chorando e sofrendo em silêncio até que se afastaram.

Eles desapareceram de minhas vistas e voltei a caminhar em direção a casa do meu pai. Entrando em casa percebi que meu pai já havia chegado, ele estava na sala bebendo.

— Então finalmente você apareceu —  falou e eu paralisei. — Onde você estava?

Engoli a seco. 

— Eu só estava vendo os cavalos, agora vou para o quarto — menti e comecei a caminhar para o quarto.

— Espere aí agora mocinha — ele disse e veio até mim, meu pai me olhava com raiva. — Você é uma vagabundinha igualzinho a sua mãe.

— O quê? — Comecei a tremer, pois meu pai estava muito próximo.

— O Lucas me disse que eu deveria te dar uma surra, para aprender a respeitar pessoas do nível dele.

Não podia ser. O Lucas não era uma pessoa esnobe, como ele poderia falar isso?

O olhar do meu pai brilhava de ódio, toda a sua raiva estava direcionada a mim, e ali, naquele momento eu percebi que algo muito ruim poderia me acontecer. O medo me dominou e eu não tinha a quem pedir socorro.

Para mim restava apenas aceitar, seja lá o que acontecesse.

Minha PerfeiçãoWhere stories live. Discover now