Capítulo 3

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Os anos foram passando e sempre ficava feliz quando chegavam minhas férias e ia para o haras, não por causa do meu pai, esse me tratava com tanto desprezo quanto minha mãe. Eu sempre ficava fora de seu caminho, e já não tinha esperança de que iria gostar de mim. Assim como minha mãe, meu pai me odiava. Minha única alegria, nas férias, era o Lucas, e também a Stella, eles sempre me davam atenção e todo ano quando eu chegava ao haras passava bastante tempo com eles, mais com a Stella, pois o Lucas ajudava o pai nos negócios da família, porém, ele procurava entreter nós duas quando podia.

Com quinze anos, teve um dia que meu pai me deu um tapa, porque eu havia esquecido de guardar meu sapato no quarto, essa foi a primeira vez que havia me batido, ele costumava me agredir verbalmente, mas naquele dia estava com mais ódio que o normal, depois de me bater meu pai me segurou pelo braço me sacudindo e disse que se eu contasse a qualquer pessoa o que fez, iria me dar uma surra e machucaria a pessoa que eu contasse. Naquele momento fiquei com um grande medo dele, resolvi me afastar ainda mais de seu caminho, eu só continuava indo ao haras todo ano por causa do Lucas e da Stella.

No dia que meu pai me bateu fiquei no meu refúgio no haras, embaixo da árvore, Stella precisou viajar com a mãe para a capital para passar o resto da semana, então estava ainda mais solitária. Tudo tornou-se pior naquele dia, já estava acostumada com o desprezo do meu pai, ou a agressão verbal e até a física. A maior dor em meu coração foi quando o Lucas chegou e vi que havia uma garota em sua garupa. Eles desceram da moto e ele a puxou pela cintura e a beijou. Vendo essa cena senti um grande aperto em meu coração, não entendia o que se passava comigo, e do por que sentir o meu coração despedaçado.

Nunca soube que o Lucas tinha uma namorada, e ela era muito bonita. Após beijá-la se afastou dela e pegou em sua mão, enquanto disse alguma coisa e ela começou a rir. Essa foi a primeira vez que ele não olhou para o meu refúgio, ele sempre vinha até minha árvore quando me via, mas naquele dia ele só enxergava aquela menina. Depois de conversarem por mais alguns momentos eles foram caminhando para a parte de trás da casa principal.

Ainda fiquei olhando para a direção em que eles foram e me sentei encostada a árvore abraçando meus joelhos, então comecei a chorar. O Lucas era muito lindo, naquele momento percebi que meus sentimentos por ele não eram o de uma irmã, pois era assim que me tratava, como sua irmã mais nova.

O Lucas nunca me amaria, aquele sentimento tão forte que acabava de perceber seria apenas meu. Ele sempre seria meu príncipe, mas eu nunca seria a sua princesa.

Passei o resto daquelas férias muito deprimida, um dia estava sentada no lugar de sempre e ouvi que alguém se aproximava, quando olhei vi que era tia Ivete me trazendo alguma coisa para comer, ela, no decorrer dos anos, continuava a cuidar de mim, até mesmo quando Stella não estava por perto.

— Aí está você — disse com um sorriso

Eu sorri para ela.

— Oi tia Ivete.

— Por que vejo que você está mais triste que o normal? — indagou olhando diretamente em meus olhos.

Baixei a cabeça e comecei a mexer na grama perto de mim.

— Não é nada.

— Está sentindo a falta da Stella? Se for isso pode ficar tranquila, amanhã ela estará aqui — informou enquanto passava a mão por meu cabelo.

— Eu estou bem — menti.

Ela me observou com atenção e balançou a cabeça.

— Você pode enganar qualquer um, mas não a mim. Foi seu pai que fez alguma coisa?

— Não — respondi muito rápido, não queria criar mais problemas, a última coisa da qual eu precisava era tia Ivete indo falar com meu pai, isso o deixaria muito contrariado e ele descontaria em mim. — Meu pai não fez nada.

Ela suspirou e abaixou na minha frente e passou a mão em meu cabelo.

— Vejo que você está muito triste Karen, você tem certeza de que está bem?

Minha vontade era chorar, depois de ter visto o Lucas com sua namorada, todas as noites eu chorava silenciosamente, eu estava com quinze anos, mas eu amava o Lucas, esse sentimento foi crescendo dentro de mim, eu já estava acostumada a não ser amada por meus pais, ou qualquer outra pessoa, claro que eu tinha minhas amigas que gostavam de mim, a mãe da Vicky também parecia gostar de mim, a mãe da Mel também gostava, mesmo estando infeliz com a perda de seu filho, ela sempre tinha uma palavra carinhosa para mim, mas o que eu queria mesmo era ser amada e única para alguém, eu nunca tive isso, e saber que o Lucas não me via do mesmo modo que eu o via machucava mais que qualquer coisa, era uma dor imensa e eu teria que me acostumar a isso.

— Então, menina Karen, você vai me contar o que está havendo? Você pode confiar em mim — Tia Ivete disse tirando-me dos meus devaneios.

— Eu sei, e estou bem de verdade — menti desviando meu olhar.

— Bom se você insiste, não vou forçar. — Ela se levantou e me deu um pote que estava em sua mão. — Toma isso é para você, Lucas mandou te dar, é seu doce favorito — comentou e piscou para mim.

Eu sorri e peguei o pote.

— Obrigada, não sabia que Lucas estava em casa.

— Ele está na casa de alguns amigos, mas ligou e mandou que te desse esse mousse de chocolate.

— Ah! — esbocei desanimada.

— Karen, olha para mim — pediu.

Eu levantei meu olhar para ela.

— Oi?

— Tudo acontece no momento certo, eu sei dos seus sentimentos, o mundo dá muitas voltas, e eu tenho certeza que um dia você será muito feliz.

Apenas acenei com a cabeça, mesmo não entendendo muito bem o que ela queria dizer sobre saber dos meus sentimentos, ela não poderia saber que eu amava o Lucas, eu mesma só descobri isso há alguns dias. Tia Ivete, mais uma vez acariciou meu cabelo e com um sorriso afastou- se de mim.

Mesmo depois de ver o Lucas nos braços de outra garota me dei conta de que não podia deixar de vê-lo,  eu queria que ele fosse feliz, ele não era obrigado a gostar de mim, então eu guardaria meu amor dentro de mim, onde ninguém pudesse ver. 

Minha PerfeiçãoWhere stories live. Discover now