[Cap.11] Protege-te ou salve-a.

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Idára saiu por de trás das lonas carregando o figurino dos contorcionistas, teve de passar três horas a fio debruçada sobre a máquina de costura junto a Mãe Ursa que depois de todo aquele tempo de olhos presos na costura tinha qualificado um período livre para descanso e havia adormecido ali mesmo sobre a máquina. Idára se propôs a entregar os figurinos já feitos, mas com uma ideia em mente. Lucinda que era a mãe de Fred e contorcionista tinha sido citada no diário. Não que pretenderia falar com ela, seria mais concedido falar a Fred.

Era uma turma animada, o pessoal do contorcionismo em maioria era deveras divertido. Se reuniram numa roda a jogar dados, poucos é que estavam fora observando o jogo. Fred se encontrava no outro canto com uma vassoura, de novo estava a ser discreto somente a si mesmo, tinha abaixado os quadris e esticado as pernas, os olhos ficavam se estreitando cada vez que os ciscos sumiam, estava os jogando para o canto da barraca.

— Outra tarefa de Barbuxa?

Ele deu um salto para o lado quase atravessando a barraca.

— Idára! Desde quando se chega assim em alguém? Barbuxa não me deixa quieto! — largou a vassoura e pôs um sorriso. — O que é isso na sua mão?

— São os figurinos novos de vocês.

— Sério? RAPAZE... — ela tapou a boca dele com uma das mãos.

— Depois você os entrega, que tal se saíssemos um pouquinho daqui? Preciso conversar com você.

Cauteloso ele a seguiu, andaram lado a lado nisto que Fred ficou pelo canto dos olhos a fitá-la, o levava para bem depois das tendas.

— O que foi?

— Sempre viveu aqui no circo, certo?

— Sim, — ele respondeu franzindo as sobrancelhas — em grande porção. 

— Por que em grande porção?

— É melhor achar um lugar para se encostar é uma longa história. Era uma vez...

— Estou falando sério Fred!

— Calma senhorita olhos de trovão, não é normal para mim a ter perguntando algo sobre minha vida ou melhor o meu passado. Se esqueceu da famosa frase de seu avô? "Deixem o passado onde está"?

O seu semblante permaneceu sério, isto poderia aumentar a implicância dele. Estava tenso e o humor era usado para distrair sua mente.

— Pare de se divertir e conte-me.

— É você quem manda futura patroa! Deve conhecer minha mãe Lucinda e o palhaço Duarte, o velho sempre foi muito leal ao circo, mas quando eu tinha oito anos nós passamos dois anos fora por algum motivo que minha mãe nunca me contou, mas voltamos porque parece que seu avô estava em apuros no México e meu pai era o único que podia ajudar. — ele disse "pai" com fraqueza e os seus olhos foram guiados para as tendas.

— Vocês voltaram quando?

— Pergunta difícil, minha memória não é tão boa. Acho que sou apenas um ano mais novo que você, se lembra dessa data? É mais difícil do que parece, desenrugue essa cara, se passar o vento agora... Tudo bem, não precisa me fuzilar deste jeito! Perguntarei a minha mãe.

Idára temeu levar aquilo adiante, por certo parou de olhar para Fred e abaixou a cabeça num sentido desapontado, pensou que deveria ter outras alternativas, mas estava tão perto de pelo menos uma pequena fagulha. Era isto, a coragem estava bem ali e a mantinha aquecida, cogitou arriscar e era bom fazê-lo rápido antes que o vento a esfriasse.

— Certo-certo, a pergunte também sobre Amália, se nesse tempo sua mãe a viu ou algo assim. Por favor Fred não conte que falei isso a mais ninguém.

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