[Cap.18] Me diga, mas não o que eu lhe disse.

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Apressados o pessoal do circo empacotavam tudonovamente, mais uma saída. Idára passou pela copa, paraconferir se faltava algo a ser retirado, tudo vazio só a barracafurada no teto mantinha o lugar. Foi-se a pensar comoreuniria Penha e Barbuxa ali, se deveria começar com alguma sugestão ou que inventasse qualquer trejeito sobre oslivros de gramática, mesmo que ao rodar em círculosnenhuma ideia apareceu. Seguiu pelo jeito mais simples, erasó chamá-los, não era difícil mesmo. Foi até a lavanderia,onde Barbuxa quase sempre se ocupava lavando muitasroupas. 

— Madame, pode me seguir por um instante? — seaproximou temerosa da mulher mais alta. 

— É algo que julga do muito necessário? Estou decidindoquais fantasias preciso realmente lavar ou deixá-las podrespor mais alguns dias. 

— Posso dizer que será rápido. 

Barbuxa suspeitou que se tratava de uma conversaparticular, notou que ela estava mais avoada e distante nosúltimos meses, não tinha verificado antes pois quandoconsultou Penha a resposta dele era a mesma, isto é coisa deadolescente. Como de costume brigaram pois ela supôs que elenunca chegou a ser um, evolui para a idade de jegue, foi o quedisse a ele quando teve de o deixar para não tacar a panelaem sua pessoa. Realmente os dois não aparentavam serequilibrados. Foram juntas para a cozinha, Penha as viuentrar, os seus olhos semicerrados deixaram o livro dereceitas. O chamou também, ele olhou assustado paraBarbuxa, foi verificar se não tinha deixado nada cozinhando,enrolou nisto, Idára não desistiu. 

Também a seguiu, chegaram até a dispensa, ela seposicionou na frente deles, era momento do nervosismo porisso precisou engolir saliva algumas vezes e acalmar as mãossuadas as alisando uma na outra.

 — Eu quero perguntar sobre a minha mãe. 

A mulher pulou para trás e se Penha não tivesse seatentado no pesar que continha os olhos dela teria tido amesma reação. Mesmo que fosse presumível que uma horaela teria mais curiosidade, ambos jamais pensariam queseriam a fonte. O que Hamish diria ou Clarisse? Sentiam que nesta parte não deveriam entrar. Os dois se entreolharam,não costumavam entrar em acordo para nada, masbrilhantemente estavam a cochichar se estaria certo falarsobre Amália. 

— Nos diga o que exatamente quer saber. — Penhafalou de um jeito cuidadoso. 

— Como ela era, como ela se foi... — gesticulou tocando nos cabelos, na ponta do nariz, dava ideiasinconscientes. 

Ficaram ainda mais cautelosos, tinham o acordo do silêncio, secontassem demais e detalhes das quais ela não soubesse,deveriam zelar a tratar de seus sentimentos. E se falassem demenos e ela já soubesse algo, talvez o motivo da últimareunião, cochicharam sobre a foto, a possibilidade de elaestar envolvida, o que ainda não sabiam. E encobrir mentirasatrás de mentiras era pesaroso demais. Nisto estavam deacordo, até certo ponto, o tom passou a ficar mais claro eentão eles estavam a discutir, não era algo que Idáraconsideraria improvável, mas não havia saído nada daquelesdois baús. 

— E a empresa El-Payo? — Isto chamou a atenção deles,voltaram com os olhos de gato buscando o laser. 

Poderiam fingir melhor, mas estavam desconfortáveis,Penha levantou o nariz, demonstrando nojo. Barbuxa ficou paralisada aencarando. 

— Foi esse um dos motivos de Penha ter saído e eu ter sidocontratada em seu lugar para os serviços de comunicação eno final, todos os outros. — resmungou a olhar para o lado. 

— Seu avô me implorou três meses depois da minha saída.Ele precisava de mim, eu sou alguém importante nesteambiente ao contrário de certas pessoas. — Penha apoiou ocotovelo sobre a mesa. 

— Se você fosse tão importante não tinham me colocadoem seu lugar! — o rosto da madame estava começando a tomar otom vermelho.

— Pois é, foi um infortúnio, mas eu voltei. Você quedeveria ir embora, estou aqui de volta para o meu posto, nãoprecisamos de uma extra. — Penha dizia e as veias da testasaltavam. 

— Extra? — gargalhou alto. — Quem é extra seu velho magricela! 

Idára percebeu que não teria respostas daqueles dois, seaventurou em ficar entre eles, mas quase foi estapeada.Clarisse espiou tudo da porta, Mãe Ursa também estava aolado dela com a mesma expressão sem cor que tinha. Clarisseinterrompeu a briga e ditou a Idára que a acompanhasse oque ela fez relutantemente. Eles tinham mesmo parado debrigar, a olhavam com culpa. Ao passar pela porta Mãe Ursasegurou em seu braço e falou bem próxima ao seu ouvido.

 — Se lhe ajudar você cuidará dela para mim? Tenho sidouma covarde por muito tempo... — mexeu com os dedos nobraço dela, falava como se tivesse uma pessoa além de Idára— Penha e Barbuxa não tem nenhum envolvimento com essaempresa, isto é ligado a família. — soltou o braço dela esussurrou que não fizesse nenhuma pergunta. 

A cabeça não tinha rodado tanto quanto agora, chegoupara o canto da barraca onde sua avó estava à espreita, umapostura nova, de braveza a deixava até mais alta. Se Hamishestivesse ao seu lado perceberia que aquilo era uma imitaçãobarata da pose natural dele. 

— Onde você escutou este absurdo?! — Não dando tempopara a neta responder logo retrucou. — Só pode ser Rebeca! 

— E por que seria minha prima? 

— Ora não sabe? Ela fugiu. — resmungou algumaspalavras. — Igual a... — Calou-se rápido. 

— Continue vó, igual a minha mãe? — estava muito bravaquando disse isto.

 — O que sua mãe tem a ver com seu hoje? É tão precisotrazê-la de volta? 

— Vocês a tiraram de mim, vó! 

— Idára, ninguém a tirou de você ela se foi... 

— É! Devorada pelos leões! Sem ter realizado das coisasque mais amava! A liberdade era tudo que ela mais queria evocês a negaram isso. — sentenciou e já havia começado achorar.

 Outras testemunhas adentraram no caso, nisto paraaplacar os ditos Barbuxa e Penha foram para o lado deClarisse, Kaíke foi avisado por Mãe Ursa. Levou Idára parafora até para perto das barracas desmontadas. O choro eratamanho, nunca tinha chorado tão alto assim desde quenascera, o pai a abraçou forte e acariciava seus cabelos.Levou um tempo para se acalmar, só ficaram os soluços parainterromper suas palavras. 

— Pai, me fale sobre a minha mãe. Não perguntei sobre elapor tanto tempo. Meu coração dói tanto agora, queroconhecer sobre ela através de você. Diga-me meu pai, à luz deseu filtro. Estava mais próximo dela, não minta para mimcomo todo mundo. — Os lábios trêmulos os soluçosdesesperados a moviam sua estatura por inteiro,tudo coagia com violência dentro de si, segurava o choro,mas ele batia em sua porta com a força de um vendaval. 

— Sua mãe é a primeira mulher que me abri realmente,que usei essas coisas de sentimentos profundos. Seu jeito deencarar a vida era único, uma coisa só dela. Mas deixava agente curioso, querendo saber quais eram as suaspercepções, querendo ler seus pensamentos para agradá-la. Aencobri, descobri que o amor pode ser covarde as vezes. Vocêé a segunda mulher que eu amo minha filha, quero que vejapossibilidades aonde estiver, seja aqui ou não. Se eu tivessedesejos mais firmes teria sido um guia melhor para você.

 Idára tocou em suas mãos enrugadas.

— Tudo que eu peçonão é um guia, eu peço um pai. Sei que se esforça e nãodesejo nada além de sua companhia. 

Os olhos surpresos dele e já marejados se ergueram, foicomo um estrondo dentro de si. Tendo sido colocado nele um selo importante, a mente pareceu ser liberta, então eraalguém reconhecível a ela com valor. Oh! E isto lhe era umgrande artefato, as lágrimas deixavam o jeito de olhar meiobrilhoso, repetia na mente "Posso ser amado pelo jeito quesou! Eu posso ser amado", e a apertou em seus braços.

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