[Cap.14] O passado sem atenção.

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Idára estendia seus vestidos no varal quando Freddespontou a uma distância dali, foi firme seus passos emdireção a ela, mas foi interrompido, Rudá saiu do outro ladoda tenda e a chamou.

— Idára podemos conversar? 

— Agora? É que ainda tenho que limpar o quarto e... tudo bem me diga o que é.

— Pode ser em outro lugar? 

— Certo-certo. 

Os dois passam por Fred, Idára o cumprimentou, o rapazmeneia a cabeça como resposta e segue na direção contrária,Rudá manteve os braços cruzados enquanto volta e meiavirava-se para ver Fred se afastando. 

— Não me enrole, a minha porcentagem de curiosidade está estourando.

— O sol está bonito hoje. 

— Rudá! 

— Vamos ir um pouquinho mais longe. — ele falouolhando outra vez para trás. 

— Certamente que não! — se posicionou firme a frente — Aqui já está bom, me diga.

— Lembra daquele dia que te encontrei fuxicando ocaminhão central? — Idára encarou o chão e não lhe respondeu.— Ainda me pergunto o que você estava aprontando ali,mas não é isso que quero te dizer. Quero agradecer a vocêsobre aquele dia. 

Seus olhos se ergueram, procurando algum tipo de mentira ou piada no rosto dele. Rudá disse após respirar fundo:

— Depois que você saiu, eu fiquei mais algum tempo olhando as fotos no baú e encontrei uma do meu pai. Havia muito tempo que eu não tinha visto uma dele, então, obrigado por isso.

 Idára foi para o lado dele fazendo seus ombros se tocaram, paraele chegou como um choque elétrico, logo ela já tinha voltadoa sua frente. 

— Está bem maior do que eu. Se seu pai estivesse aquiestaria falando sobre sua altura. 

— E meu porte? É agradável também? 

Ela lhe ofereceu um sorriso sem mostrar os dentes, mas queaté as pálpebras se dobraram para harmonizar e esticou o rosto dele apertando suas bochechas.

 — Tem uma boaimaginação e não vou poder tirar isso de você, seria injusto.Quer me escutar cantar nossa velha cantiga? 

— Nem pensar, poupe os nossos ouvidos. Quando você erado tamanho de um saco de farinha acho que eu era mais suadupla para aventuras do que agora. — provocou.

 Idára cobriu a boca com a mão fingindo estar magoada.

 — É verdade mesmo, seumodo atual está muito comprometido a seriedade, é o que mefaz desviar por entre as tendas para que você não descubraqual será meu próximo passo. Certamente me fará entrar nalinha e eu não posso permitir isto. — Outro sorriso, até aspálpebras se arquearam, não que suas expressões anteriorestambém não fossem tão alegres quanto as finais. 

Permaneceram andando sem seguir para um localaparente, ficaram se esbarrando e de vez em quando corriamrindo. Ela teve uma súbita mudança que seu rosto deixoutransparecer, até Rudá percebeu sua perturbação. E era bemconfuso, a falta do conflito interno a deixava aflita. Porquetudo parecia estar voltando ao normal, ao calmo e tenro jeitoem que ela vivia a vida e começou a sentir falta, mas nãosabia de quê. O despejar de sentimentos chegaram, fez aachar que aquilo havia sido uma abstinência, procurou pelaraiva com os dedos a se cruzarem atrás das costas. Rudá queacabou se sentando no gramado ficou disfarçando olhandopara o céu, mas discretamente contornava para ela.O livreto desaparecido, que loucura desejar os sentimentosdespertados com ele! Não poderia acreditar em si mesma comisto, quisera tanto que as sensações sumissem. Se aindaestivesse com elas em sua totalidade, agora se encontrariaplantada entre as cobertas. Ficou batendo uma mão na outra como se dois lados de si brigassem bem atrás dela. Rudáestava cada vez mais interessado em fazer perguntas a ela,mas fingiu estar imóvel enquanto Idára fazia caretas para ovento. Ele pensou que antes pudesse julgar alguns dossentimentos dela observando suas expressões, era um poucobom nisto, sabia identificar quando sentia medo, quandoestava mais alegre, preocupada e envergonhada, tudoseguindo esta ordem. 

— Num dia desses eu e seu avô estávamos montando umlugar para os cavalos ficarem na sombra. Eu não vidireito-direito, mas tinha uma fotografia parecida comaquelas do baú no chão. O seu avô pegou e eu o seguidiscretamente, vi ele entrando no caminhão central ondeestava Yancy. Só fiz isso porque achei que você podia estarencrencada. Pegou alguma foto do baú? 

— Não. — A fisionomia saiu até adequada quandorespondeu, mas por dentro dizia assim: "A fotografia dodiário de minha mãe, será ela? A perdi?". 

— É um alívio, promete não se meter em confusões? 

Naquela altura era muito tarde para pensar em bom senso,queria respondê-lo que "não, não prometeria", mas sorriu deboca fechada e isso lhe foi resposta satisfatória. Precisavasaber do paradeiro do livreto, precisava encontrá-lo.

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