[Cap.17] O que não reluziu.

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Era o horário de almoço e o sol já se encontrava escaldanteno céu, Idára enrolava as cortinas a guardá-las nos baús, eraoutro dia de mudança, estariam indo para Suriname. Elasentia uma dor inquieta no seu coração, desejava fazer tantasperguntas ao seu pai, aos seus avós. Tinha tanto medo do quepoderiam a dizer, sentia-se como manteiga derretida sem precisar ter sido levada ao fogo. Mas propôs em seu coraçãoque olharia para o Criador de todas as coisas, suas antepreces pré-formatadas com esses dias de desafios interiores eexteriores lhe tomaram uma nova proporção de conceitosobre suas próprias crenças e não tão próprias quanto apalavra poderia a dizer. A carta lhe causou uma confusão,queria muito parecer com a mãe, antes procurava traços deigualdade. Não estava tão aparente o que a mãe a disse quecorreria nas veias, parecia mais um discurso dito para si,talvez os que tivessem mais entendimento sobre este tema sesentiriam mais energizados ao lerem a carta. Não veria tantabravura se antes ela não viesse acompanhada pelaconsideração, e a mesma considerava diversidades. Aprimeira parte, amava mesmo o circo, em segundo não sesentia presa, na medida em que não se colocasse nas garrasde seus recintos e medos. A insatisfação viria do nível queprevia a frente, os sonhos que poderia laçar, isto sim mudavaseu temperamento. O circo lhe escondeu muitas coisas, destamaneira estaria mesmo brava, mas nada levado a rebeldia. 

Ela tinha de zombar de si, para permanecer na linha darotina, a mania de ignorar sentimentos era forte. Desejava seexpressar mais e daqui para frente é nisso que trabalharia.Não podia não emendar em sua qualidade mais queadquirida com o pessoal do circo Lileu de sempre manter afidelidade em suas palavras. E ela tinha dito a Deus quecolocaria seu coração em confiança a ele. O coraçãoimplantou a chaleira quentinha e ela já estava confortávelcom seu próprio lar, o interior. Trazia suas bagagens depoisde um longo tempo fora. 

Enquanto arrastava os baús e colocava sua fita roxamarcando-os como seu, Rudá apareceu e a tocou no ombro. 

— Podemos conversar? 

— Claro eu só irei... — ela pensou em guardar as trêsúltimas cortinas, mas os olhos dele rogavam por urgência.

— Não precisamos sair daqui para falar sobre. Todos jáforam para a cozinha, não há ninguém ao redor. 

— Me fale então. 

Rudá remexeu o cabelo quando ela permaneceu atenta aele, estava procurando coragem, suava tanto que a camisatinha grudado no corpo. 

— Nós, quer dizer, eu penso que poderíamos tomar umadecisão. 

— Uma decisão? — Idára estendeu o ''ão'' de uma formaexagerada. 

— Sobre nós. — Os batimentos estavamacelerados, foi difícil para ele responder. 

Ela recuou, os seus olhos se arregalaram quando fielmentetinha compreendido. Era impossível de Rudá não terpercebido a angustia dela, mas a esperança ainda estava ali,ou a ilusão tinha se disfarçado muito bem, não desejavaacreditar que a resposta que estava por vir era bem diferenteda que ele tinha imaginado. Projetou que o final seria alegre, com ambos caminhando sobre a mesma ponte. 

— Não tem problema, se quiser me responder hoje, agora,sabe? Pode ser semana que vem, mês que vem e... 

— Não Rudá, eu quero te responder agora. — Arrastou ospés para mais próximo dele. Já tinha descido da ponte,por que ele não percebera quando ela estaria lá embaixo comseu próprio barco preparado para seguir o horizonte? — Eupenso que nós dois não daríamos certo do jeito amoroso. Eu evocê compartilhamos este amor pelo circo, vivemos aqui,podemos olhar em volta e ver vida, a nossa. Mesmo assim,estou inquieta e hesitante, todas essas lonas, as tendas, osdormitórios e me vejo mais longe do que próxima. Temalgumas coisas que quero realizar e isto significa queprecisarei sair. Não sou eu que estarei ao seu lado quandosuas melhores apresentações acontecerem, nem que poderáamar tanto os animais quanto você. Sua felicidade nãocomplementaria a minha e vice-versa, porque você não me teria por completo e não quero entregar metade de mim avocê, uma que se molda escondendo os desejos. Merecesalguém que poderá estar ao seu lado junto com seus sonhos,me desculpe Rudá, eu gosto muito de ti e por gostar de vocêeu não te prenderia a uma vida infeliz comigo. 

Em todos os cafésWhere stories live. Discover now