[Cap.13] Paradeiro das letras.

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Idára corria atrás de um pequeno porquinho, começava a querer desistir, o vestido já estava imundo de tantas vezes que havia caído na lama. Ela só precisava prensar suas patas para o jantar, Penha faria o resto. Rudá se divertia de longe enquanto lixava o casco do cavalo Branco, cogitou em amarrá-lo no tronco da árvore e ajudá-la, mas observou Fred pular a cerca do curral adaptado e pegar o porco pelo rabo. Idára deu tantos nós quanto pôde, a testa estava ensebada de suor, o cabelo colado no rosto e a garganta que clamava por água.

— Você não seria uma boa atleta. — Fred segurava firme o porquinho.

— Também não seria uma boa veterinária.

— Realmente. — ele assentiu colocando o porquinho no caixote enquanto este berrava e se balançava, pensou em certo de que estaria clamando por piedade.

— Não sei se também seria uma boa cozinheira. — ela falou enquanto olhava temerosa para os remexidos do caixote.

— Um cozinheiro não precisa matar a comida, Penha faz porque quer. Na verdade, ele diz que há poucas pessoas no circo que tenham higienização como a dele.

— Verdadeiramente. — ela sorriu seguindo em direção a ele, o empurrando com os ombros.

— Ora ora, senhorita olhos de trovão! Não sou eu que estou sujo de lama.

— Isso foi pelos tombos. Não sei quantos vestidos já lavei esse ano.

— Espero que tenha sido todos que você já usou. — Rudá disse amontoando o feno perto do bebedouro dos cavalos.

Assim Idará mostrou a língua para ele que logo saiu, Fred manteve o olhar fixo em sua ida até começar a coçar a nuca e se voltar para ela.

— Preciso ir ver se Barbuxa precisa de minha ajuda.

— Desde quando você gosta de fazer tarefas?

— Deve-se aprender a gostar de algumas coisas na vida. — Fred começou a andar para trás. — E você sabe a frase que ela sempre diz.

— 'Você precisa aprender a fazer as coisas sozinho se quiser sobreviver'. — Falaram em uníssono.

Ele se foi e Idára começava a pensar em como carregaria aquele caixote dançarino.

— Minha esperança foi embora. — disse baixinho olhando para o ponto de onde Fred havia partido, escutou a tronqueira se abrir e Rudá trazer dois cavalos para dentro. — Meu fiel amigo Rudá!

— Seja como for, hep-hep — chamou o cavalo, — não me meterei em confusão. — os puxou até a estrebaria, ela seguiu atrás.

— Não há nenhuma confusão dessa vez. Você desconfia muito de mim.

— O que é? — Rudá colocou as mãos sujas de graxa em seu jeans áspero e ela imediatamente fez uma careta.

— Isso vai ser difícil de lavar.

Ele então entendeu o motivo de seu bom-mocismo, carregou o caixote a ouvir lisonjas dela.

— Estou fazendo isso, mas não é de graça, pode muito bem me ajudar com o capim. — ele dizia enquanto passavam pela porta da cozinha.

— Acho que Barbuxa colocou Fred para aprumar as tendas, pensei em passar por lá e ajudá-los.

Havia uma curva nos cantos da boca dele, ao olhar para ela, viu que estava concentrada na tenda. Ele suspirou e o fez exageradamente.

— Vamos, eu sou um homem sozinho!

— É verdade, um homem sozinho não pode fazer muita coisa. — os dois riram e enrolaram mais um pouco por ali a beber água.

Eles estavam de volta ao sol e ela empilhava mais grama enquanto Rudá fazia feixes com esta, Idára voltava a ficar desconfortável, sentia que algo estava faltando. Queria dizer sobre o objeto de sua curiosidade, compartilhar com alguém de seus sentimentos, seus olhos seguiram Rudá e assim ela deu um sugestivo resmungo.

— Diga.

— Você já teve a sensação de estar sendo observado?

— A todo momento, eu até entendo devido à minha graciosidade.

— Escute-me, estou falando sério! Eu não sei, faz tempo que venho tendo essa sensação estranha, mas como não acontecia com frequência eu acabava esquecendo e...

— Sensações nunca são besteiras, a menos que você tenha uma mente atribulada. — inclinou-se um pouco mais na direção dela — Tenha mais cuidado se for preciso. Se for um dos meninos, eles terão de lidar comigo por tentarem te assustar.

— Certo-certo. — apertou os lábios e voltou para sua atividade, fingindo não vê-lo paralisado a sua frente.

Encerraram quando contaram trinta feixes. E desta vez saiu animada e muito decidida a tomar um bom banho, procurou entre as tendas por Barbuxa ou mãe Ursa, precisava de companhia. Acabou por só encontrar sua avó Clarisse e se permitiu não mais digladiar seus sentimentos a ela ou qualquer outro, se estaria com raiva e desconfiada deles manteria isso escondido em seu rosto por agora. Estava distraída quando voltou, organizou os 4 vestidos sujos no chão e recitou a si que iria mesmo os colocar de molho pela manhã. Saiu um pouco para fora do quarto apenas para averiguar se pudera ler livremente o livreto. Voltou-se e colocou um pedaço de madeira como impedimento embaixo da porta. Caçou pelo vestido azul com bolsões onde havia guardado o diário, revirou o bem, o sacudiu, colocou de ponta cabeça, mas nada. Olhou o guarda-roupa, retirou todas as roupas. Viu embaixo das coisas, desordenou o quarto todo, contudo nadinha. O livreto de Amália havia sumido! Na iminência de estar em apuros, estava certa que alguém havia entrado no seu quarto e o pegado.

*Fotos do capítulo de gryffynm e Kaitlyn Jade no Pexels.

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