Idára corria atrás de um pequeno porquinho, começava a querer desistir, o vestido já estava imundo de tantas vezes que havia caído na lama. Ela só precisava prensar suas patas para o jantar, Penha faria o resto. Rudá se divertia de longe enquanto lixava o casco do cavalo Branco, cogitou em amarrá-lo no tronco da árvore e ajudá-la, mas observou Fred pular a cerca do curral adaptado e pegar o porco pelo rabo. Idára deu tantos nós quanto pôde, a testa estava ensebada de suor, o cabelo colado no rosto e a garganta que clamava por água.
— Você não seria uma boa atleta. — Fred segurava firme o porquinho.
— Também não seria uma boa veterinária.
— Realmente. — ele assentiu colocando o porquinho no caixote enquanto este berrava e se balançava, pensou em certo de que estaria clamando por piedade.
— Não sei se também seria uma boa cozinheira. — ela falou enquanto olhava temerosa para os remexidos do caixote.
— Um cozinheiro não precisa matar a comida, Penha faz porque quer. Na verdade, ele diz que há poucas pessoas no circo que tenham higienização como a dele.
— Verdadeiramente. — ela sorriu seguindo em direção a ele, o empurrando com os ombros.
— Ora ora, senhorita olhos de trovão! Não sou eu que estou sujo de lama.
— Isso foi pelos tombos. Não sei quantos vestidos já lavei esse ano.
— Espero que tenha sido todos que você já usou. — Rudá disse amontoando o feno perto do bebedouro dos cavalos.
Assim Idará mostrou a língua para ele que logo saiu, Fred manteve o olhar fixo em sua ida até começar a coçar a nuca e se voltar para ela.
— Preciso ir ver se Barbuxa precisa de minha ajuda.
— Desde quando você gosta de fazer tarefas?
— Deve-se aprender a gostar de algumas coisas na vida. — Fred começou a andar para trás. — E você sabe a frase que ela sempre diz.
— 'Você precisa aprender a fazer as coisas sozinho se quiser sobreviver'. — Falaram em uníssono.
Ele se foi e Idára começava a pensar em como carregaria aquele caixote dançarino.
— Minha esperança foi embora. — disse baixinho olhando para o ponto de onde Fred havia partido, escutou a tronqueira se abrir e Rudá trazer dois cavalos para dentro. — Meu fiel amigo Rudá!
— Seja como for, hep-hep — chamou o cavalo, — não me meterei em confusão. — os puxou até a estrebaria, ela seguiu atrás.
— Não há nenhuma confusão dessa vez. Você desconfia muito de mim.
— O que é? — Rudá colocou as mãos sujas de graxa em seu jeans áspero e ela imediatamente fez uma careta.
— Isso vai ser difícil de lavar.
Ele então entendeu o motivo de seu bom-mocismo, carregou o caixote a ouvir lisonjas dela.
— Estou fazendo isso, mas não é de graça, pode muito bem me ajudar com o capim. — ele dizia enquanto passavam pela porta da cozinha.
— Acho que Barbuxa colocou Fred para aprumar as tendas, pensei em passar por lá e ajudá-los.
Havia uma curva nos cantos da boca dele, ao olhar para ela, viu que estava concentrada na tenda. Ele suspirou e o fez exageradamente.
— Vamos, eu sou um homem sozinho!
— É verdade, um homem sozinho não pode fazer muita coisa. — os dois riram e enrolaram mais um pouco por ali a beber água.
Eles estavam de volta ao sol e ela empilhava mais grama enquanto Rudá fazia feixes com esta, Idára voltava a ficar desconfortável, sentia que algo estava faltando. Queria dizer sobre o objeto de sua curiosidade, compartilhar com alguém de seus sentimentos, seus olhos seguiram Rudá e assim ela deu um sugestivo resmungo.
— Diga.
— Você já teve a sensação de estar sendo observado?
— A todo momento, eu até entendo devido à minha graciosidade.
— Escute-me, estou falando sério! Eu não sei, faz tempo que venho tendo essa sensação estranha, mas como não acontecia com frequência eu acabava esquecendo e...
— Sensações nunca são besteiras, a menos que você tenha uma mente atribulada. — inclinou-se um pouco mais na direção dela — Tenha mais cuidado se for preciso. Se for um dos meninos, eles terão de lidar comigo por tentarem te assustar.
— Certo-certo. — apertou os lábios e voltou para sua atividade, fingindo não vê-lo paralisado a sua frente.
Encerraram quando contaram trinta feixes. E desta vez saiu animada e muito decidida a tomar um bom banho, procurou entre as tendas por Barbuxa ou mãe Ursa, precisava de companhia. Acabou por só encontrar sua avó Clarisse e se permitiu não mais digladiar seus sentimentos a ela ou qualquer outro, se estaria com raiva e desconfiada deles manteria isso escondido em seu rosto por agora. Estava distraída quando voltou, organizou os 4 vestidos sujos no chão e recitou a si que iria mesmo os colocar de molho pela manhã. Saiu um pouco para fora do quarto apenas para averiguar se pudera ler livremente o livreto. Voltou-se e colocou um pedaço de madeira como impedimento embaixo da porta. Caçou pelo vestido azul com bolsões onde havia guardado o diário, revirou o bem, o sacudiu, colocou de ponta cabeça, mas nada. Olhou o guarda-roupa, retirou todas as roupas. Viu embaixo das coisas, desordenou o quarto todo, contudo nadinha. O livreto de Amália havia sumido! Na iminência de estar em apuros, estava certa que alguém havia entrado no seu quarto e o pegado.
*Fotos do capítulo de gryffynm e Kaitlyn Jade no Pexels.
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Em todos os cafés
Mystery / ThrillerQuem é que pode ser mais leal do que a família do circo? Ora, o que há de espírito livre? Estamos falando do circo! Todos deveriam zelar e "viver" por ele, mas por que custou Idára levantar o tapete daquele jeito e encontrar todos os ciscos amontoad...