16: lady

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— Por que não me conta memórias de quando era criança? — Robert indaga, deixando seu olhar cair para suas mãos e depois retornando-os para os olhos azuis de sua namorada.

— Não sei se são memórias legais para se dividir com um namorado.

Mas eram. Eram divertidas e emocionantes, e certamente eram sim para se dividir com uma outra pessoa. De preferência, que você confie ou goste muito, para que assim, se divirtam juntas.

O momento de silêncio que ambos estavam submersos à pensamentos logo foi quebrado pela morena, que supôs o seguinte acordo:

— Eu conto as minhas se você contar as suas. É pegar ou largar. — Diz como quem não quer nada, arrancando uma risada de Robert como resposta.

— Feito.

Beatriz respira fundo antes de dar com a língua nos dentes, afinal, a única pessoa que sabia da existência daquelas histórias era sua mãe, que obviamente esteve presente em todas elas. O famoso a encarava animado, os olhos piscando com uma ponta de ansiedade evidente, parece que ele estava mesmo curioso em saber de suas vergonhas passadas.

— Quando era bem pequena, eu adorava e acreditava muito em unicórnios, posso dizer que era obcecada com aquilo. Em um belo dia, minha avó me deu de presente um cachorrinho, ele era branco e bem peludo. Eu fiquei apaixonada de início, mas depois que percebi que não havia ganhado um unicórnio fiquei furiosa, então eu mesma decidi criar um. Como meu quarto estava sendo reformado e minha mãe decidiu mudar a parede de lilás para rosa, eu resolvi juntar o útil ao agradável: peguei o balde de tinta rosa bebê escondido e levei meus ingredientes para o quintal, que eram: a tinta, meu arquinho que continha um chifrinho arco-íris na ponta, e meu cachorro, que logo mais se tornaria um unicórnio. Eu quase o afoguei na tinta, e depois que pintei cada parte do seu corpo de rosa, dei um jeito de encaixar o arquinho de chifre nele. Resultado: ficou perfeito. Quando acabei meu trabalho e orgulhosa de mim mesma, levei o meu mais novo unicórnio à minha mãe, e a única coisa que ela fez foi gritar de susto ao ver o cachorro branquinho feito a neve que eu havia ganhado, pintado de rosa. Depois daquele dia eu nunca mais tive um cachorro ou qualquer animal de estimação, confesso até que tenho muita vontade em ter um filhote, mas acabo desistindo por nunca encontrar um. — Termina, ouvindo a risada alta do namorado ecoando por cada canto de sua área de churrasqueira. O olhar sério da morena o fez parar.

Bem, parar por alguns segundos apenas.

Após contar o drástico ocorrido, Beatriz apenas observava Robert com as sobrancelhas levantadas, esperando que ele pudesse contar uma memória engraçada de quando era mais novo. Quando acabou de rir e percebeu a expressão de "paciência quase esgotada" da namorada resolveu se apressar na história, antes que ele mesmo pudesse virar um unicórnio.

— Teve vários acontecimentos. Uma vez eu joguei o celular da minha mãe no rio e ela nunca mais o viu, detalhe que ela havia comprado ele há dois dias, nem tinha acabado de pagar ainda. Outra vez eu subi na árvore para perseguir um esquilo, quando me dei conta comecei a chorar descontroladamente e não descia de maneira alguma, os bombeiros tiveram que ser chamados para me tirar lá de cima. Teve também o dia em que eu colei com uma cola super potente uma panela na mesa, lembro de ter ficado de castigo depois. — Não demorou muito para que a próxima risada alta a ser escutada fosse a da garota que ouvia tudo atentamente. Rir era inevitável em situações como aquela, e ambos sabiam disso.

Passaram o resto da manhã juntos naquele dia, tudo foi muito agradável e divertido. Parece que quando estavam juntos, a paz interior de cada um aumentava ainda mais. Quando o relógio bateu duas horas, Robert disse que precisava ir para casa resolver as coisas que faltavam para que ele pudesse voltar para sua cidade, o que deixou Beatriz triste e imaginando como iriam conseguir tratar do relacionamento à distância. Sempre leu em vários livros clichês e até filmes que relacionamento à distância nunca dá certo, era uma experiência falha vivida entre um casal que sempre se ama muito mas no final acaba separado. Algumas vezes por coisas bobas e outras por acontecimentos inadmissíveis, como por exemplo, a traição.

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