(两个) Uma Escada Reluzente

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Ela estava curiosa com aquele mundo que se revelou por fora das árvores. Quando olhou para trás, os seus amigos lobos regressaram a segurança da floresta aos pulos e desapareceram entre a grama alta. Ela olhou para frente, encarando tudo o que nunca tinha visto antes. Fossem as muitas pessoas, as muitas vozes misturadas, os cheiros da terra seca, do ar carregado, da fumaça que saia dos fogões onde bolinhos de arroz pobremente cozinhavam.

Olhava para tudo; para as pessoas que passavam perto dela e a olhavam atravessado enquanto conversavam, suas roupas esfarrapadas, seus cabelos brilhantes e molhados pela chuva que caía continuamente e ininterruptamente e dificultava a vida de todos já há anos.

Mas gostava daquele clima úmido. Nunca tinha visto um espaço tão aberto, tão cheio de vida, tão curioso para suas mãos pequenas e atentas que tocavam nas sinetas ecoando sons divertidos.

Hisashi riu com a sua diversão e se permitiu ser arrastado para o comércio falido que ficava diante da escada do grande Templo. A ilha era cercada por esses comércios, além de centros espíritas, casas distantes umas das outras, vielas, entranhas, portões, monumentos e paisagens naturais até onde os olhos conseguiam enxergar... ou que um dia foram realmente belas para serem vislumbradas. E ela o arrastou para os sons e para as cores, que eram uma monotonia de cinza e branco. Um vendedor de bolinhos de arroz sorriu e lhe ofertou um dos dois que ainda tinha; caridoso, humilde. Ela cheirou e depois olhou para Hisashi.

— É um bolinho de arroz. É de comer — ele gesticulou para a boca. — Mais um, por favor. — pediu ao vendedor pobre.

Ele pegou o seu em seguida e deu-lhe dois renminbi.

Izanami comeu o seu rapidamente, parecia faminta e curiosa com a novidade!

Eles continuaram pela rua do comércio onde tudo estava triste, mas tudo lhe era novidade. Ela tinha mais energia do que ele para tudo, fosse para colocar os chapéus grandes demais na cabeça ou tocar nas coisas e saber como reagiam até analisar símbolos em peças de cerâmica paradas, sem ter quem comprar.

Até que parou e analisou um em especial.

— Céu?

— Santuário do Céu. É para lá que estamos indo agora.

Ela balançou a cabeça e devolveu a peça para o lugar antes de cheira-la. Provavelmente estava incomodando as pessoas pelo cheiro de lobo impregnado em suas vestes velhas, e Hisashi logo percebeu que precisavam continuar andando.

Talvez sua empolgação, energia e felicidade fossem um veneno para as pessoas ao seu redor.

— Eu... — ela tentou dizer algo. — Eu lembro. Casa. Outros humanos. Céu!

— Do que exatamente você se lembra?

— Eu lembra coisa de vestir rosa. Presente que me deu. Essa coisa de vestir tinha símbolo. Símbolo de... céu.

Hisashi ficou impressionado. Trazê-la de volta para a cidade havia sido um acerto tão grande que ele não questionou o que exatamente ela estava lembrando, apenas que sabia que aquilo era algo do seu passado. Realmente ela tinha se ferido gravemente naquele dia, assim como seu mestre dissera. Só havia uma chance de fazê-la se lembrar das coisas, e ela estava no interior do Templo do Raio.

Eles voltaram pela rua do comércio até a longa escadaria que desaparecia quando nuvens mágicas encobriram o que havia mais acima. Ela subiu as escadas com dificuldade, mas ele a apoiava em seus braços quando ela errava um passo.

— Vem, estamos indo para casa, lá você vai se lembrar de tudo.

— Você... amigo.

— Sim, sou seu amigo.

O Ultimo Eremita do Trovão (Vencedor #TheWattys2021)Where stories live. Discover now