(二十六) O Cerco dos Justos

36 5 0
                                    


Senti estar sendo arrastada por braços opulentos. Senti as vistas embaçadas quando as abria e a dor me forçava a fechar os olhos. Senti a dureza que era caminhar com aqueles calçados de madeira.

Senti a dor no coração pelo o que tinham feito com o Santuário e o Templo.

Ali, sobre o último degrau da longa escadaria, vislumbrei o cenário de dez anos antes; muitas pessoas mortas, dezenas, talvez centenas, de todas as castas. Vi as florações queimadas ou pisoteadas mais uma vez. Vi soldados trajados de preto infestando as ruas, carregando o brasão de Tesauro — o tigre branco numa bandeira azul, e todos os que haviam sobrevivido. Todos em silêncio, todos isolados, temerosos, com os braços atados por cordas.

Haviam também alguns Mestres do trovão. Eles foram atirados ao chão, rendidos, possivelmente graças a estranhos ferimentos em seus corpos que vertiam um líquido esverdeado, talvez veneno.

Todos tínhamos famílias, todas essas famílias estavam vendo os jovens Guardiões — sobretudo as pequenas crianças, junto com os soldados formando um cerco ao redor deles e todos temeram, todos choravam em desespero.

Meus lábios tremeram, meus olhos verteram lágrimas pesadas e quentes.

Tesauro agiu de acordo com seu nome; em silêncio.

Ele e Tsuna passaram ao nosso lado e seguiram pelo meio da população, abrindo espaço, empurrando os feridos, desfazendo os laços entre pais e filhos ao joga-los um para cada lado. Até que parou e suspirou, pois era o único som audível.

— Eu avisei! — ditou rispidamente uma voz masculina. Um homem surgiu dali. Era Akira, o senhor do sol nascente. — Eu avisei que Tsuna não era confiável! Todos os homens do conselho nos deram as cost...!

De repente, a voz do homem foi silenciada quando meu amado irmão... lhe separou a cabeça do corpo com um golpe da sua katana de lamina azul afiada e um amontado de fogo e luz desabou no chão.

Izanagi esfregou os cabelos para trás da cabeça com uma mão enquanto embainhava longamente a espada com a outra.

— Bem... acredito que ninguém mais a partir de então gostaria de se pronunciar — Tesauro ergueu os braços, apontou para um, para outro, indagou se queriam falar algo. — Dez anos eu estive emergido na escuridão da desonra. Dez anos passei tentando meditar os meus erros e o que fizeram a mim naquela noite – o que poderíamos chamar de um golpe ao maior bem que um homem pode ter; sua própria vida, a de sua família... em seu próprio lar. Mas, a partir de então, me veio uma iluminação diante do abismo. Se um homem conhece a verdade e a aplica como parte de seu bushido, quem são os inimigos desse homem senão aqueles que desejam seu silêncio? Que sua retidão, sua crença, suas palavras não sejam ouvidas por se parecerem uma ameaça à ordem? Você tem a resposta? — ele perguntou para uma garotinha minúscula que parecia apavorada quando ele a apontou. — E você, garoto? E você, senhora? Não? Nada? E você, Izanami-sama?

Torci o rosto, sobre a dor do meu ferimento.

— Você não tem honra para zelar — correspondo.

— Todos temos uma. Izanagi tem; Tsuna tem; aquela cabeça e aquele corpo também tinham. Mas, a questão maior, querida é: vocês realmente entendem o dever de um herdeiro do trovão? Entendem que o entendimento difere da conciliação quando um quer algo x e outro quer algo y? Por isso estou aqui. Por isso sempre estive aqui. Foram vocês que não perceberam.

Um Mestre se move, mesmo que com os braços atados.

— O que você quer, desgraçado?

— Dizem que a luz é a esperança do homem. Que enquanto ela existir, haverá quem a defenda. A tríade dos divinos fez isso quando lutou incansavelmente contra os Shaofeng — Tesauro apontou para o céu, onde a criatura terrível circulava placidamente, subindo e descendo nas nuvens. — E o que eles conseguiram desde então? Que as nações, descendentes de seu sangue, fossem lá e fizessem o que lhes desse na cabeça? E quanto aos humanos, acredito que eles olhem para o céu e pensem 'olha mamãe, alguém está triste no céu, suas lágrimas estão caindo sobre nossas cabeças!'. Eles não sabem que nós existimos tanto quanto o conselho não permitiu que eu "existisse".

O Ultimo Eremita do Trovão (Vencedor #TheWattys2021)Where stories live. Discover now