(三十二) Terríveis Homens

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Durante o meio do dia, Tesauro leva a Izanagi e a mim para almoçar sobre a sombra da velha cerejeira. A cerejeira onde tudo também era banhado em sangue e marinado em lembranças que não me pertenciam, mas que eu sempre quis.

— ... então lhe disse que a crença no velho é o que mergulha as pessoas num ciclo infinito de incertezas e vazio de existência, mestre.

— Disse bem, filho. Homens que se deixam levar pelo ontem, são os mesmos que amanhã provocaram a desordem. Veja como o dia está mais colorido desde que executamos os conselheiros. Não seria bom se antes do fim, aproveitássemos os bons momentos?

— Certamente — Izanagi assentiu. — E para onde iremos depois, mestre?

— Para onde todos os guerreiros que prestaram bons serviços a nação foram — Tesauro se levantou ao tocar em seu ombro. Voltei minha atenção ao meu Donburi pobre que esfriava a cada instante. — Vejo vocês em meia hora, na sala do conselho.

— Sim, mestre.

Não respondi. Mas quando ele partiu, a primeira coisa que fiz foi sorrir de forma maldosa ao acotovelar o remelento desonrado.

— O seu mestre pretende acabar com a sua vida também... meu irmão. Percebe que ele não se importa nem um pouco com o que você diz? Que seu auxílio e devoção a ele são motivados apenas pela sua fraqueza e necessidade de aprovação?

Ele me olhou feio e estreitou as vistas.

— Faça o que eu faço em nome do objetivo dele e talvez você mereça um lugar ao seu lado — ele se levantou.

— Você não se importa em ser usado como arauto de expiação?

— As pessoas que foram usadas, estão hoje sobre as vistas de Amato — ele apontou para cima. — Quando a nossa vingança tiver resolução, esse mundo será mergulhado em trevas.

— Quer saber o que eu acho? — me levanto, atiro para longe o resto da minha comida. — Que você precisa levar uns bons chutes no trazeiro para deixar de ser uma criança mimada!

Ele segurou o cabo de sua espada mas não a ergueu.

— Quando você for digna, talvez eu te conceda essa honra.

Eu esmaguei os nódulos das minhas mãos. Talvez não motivada pelo seu comentário ridículo, mas por sentir que ele talvez soubesse quem eu era. Mesmo por trás desses trajes ridículos, da peruca que coçava minhas orelhas insistentemente, Izanagi sabia que Zu'rien havia cometido mil erros com mil motivações diferentes.

Mas eu não fiz nada excludente a minha honra. Eu não matei, eu não feri, eu não levantei ninguém em mentira, apenas praguejei ódio e morte a todos.

Corri até estar à sua frente e pressionei o seu peito com um dedo.

— Você não tem o direito de dizer que não sou digna!

— Oh, eu feri o seu ego tão frágil? — ele franziu as sobrancelhas. — Quer dizer então que você fez algo errado? Preciso descobrir o que foi e mostrar ao meu mestre que Izanami-sama não é de todo inocente.

Ele continuou a galopar sobre as pernas longas e as passadas desconexas sobre o gramado que antevia a sombra da grande árvore sobre o pico.

Quem ele pensa que é?!

— * —

Izanagi empurra a porta, mas não permite que eu passe primeiro, isso pois ela volta com força na minha direção e só consigo para-la ao socá-la para fazer com que volte para trás.

O Ultimo Eremita do Trovão (Vencedor #TheWattys2021)Where stories live. Discover now