(二十三) Pavor por Aqueles Olhos

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Quando amanheceu — isso pela vontade soberana dos Adoradores —, senti que meus olhos, pesados pelo sono, mas inquietos pela perturbação provindo daqueles olhos brilhantes, finalmente se abriram.

Os músculos da minha perna estavam entorpecidos, assim como o meu ombro do qual mal conseguia mover sem sentir dor. Minha respiração voltou ao normal, eu voltei a estar minimamente bem quando fiz minhas obrigações diárias e depois parti para que pudesse encontrar alguém, qualquer pessoa, qualquer rosto conhecido.

E o que notei foi apenas o de Akemi ali, distante enquanto caminhava carregando toalhas de banho.

— Akemi! — gritei, porém isso a assustou como nunca antes.

Ela se virou na minha direção e afastou os cabelos das faces opulentas e rosadas.

— Izanami-chan... que susto você me deu — as tolhas no chão foram recolhidas por ambas. — Você está bem? Faz tempo que não nos vemos.

— Estou. Estou, sim. Minimamente bem depois do que passamos ontem à noite.

— Por todos os divinos — ela se aproximou com uma curiosidade estampada. — Eu soube do que houve hoje logo cedo quando acordei. Estavam comentando a aparição de algo no Santuário e juraram por Maatsu Ohkami que não era humano. Você realmente o viu? Você tocou nele?

— Não apenas vi — toquei no seu braço. —, eu enfrentei ele. Akemi, juro a você que nunca estive tão apavorada quanto naquele momento. Era uma criatura grande com uma face pavorosa, olhos e cabelos brilhantes e quatro Luminatas nas mãos. Ele... não parecia ter consciência do que fazia, mas certamente me tomou por alvo assim que me viu. O que você imagina que possa ser?

Ela abaixou as faces, passou as mãos nos cabelos e olhou para trás e depois por sobre o meu ombro.

— Eu não sei — sussurrou ela. Eu bufei com a boca, incentivada pela decepção que foi saber que a garota que melhor sabia dos acontecimentos nesse Templo, não sabia o que era aquela coisa. — Por favor, minha amiga, atenha-se aos seus passos e não saia de noite. Ninguém deve sair à noite. Tsukuyomi não é conhecido por ser um divino agradável, diferente de Amaterasu. Ninguém deve sair... ninguém deve.

— Você parece... assustada? — observo-a minuciosamente. — Akemi, você não está me contando tudo o que sabe. E eu preciso saber, todos precisamos saber o que foi aquilo para impedi-lo de machucar mais pessoas.

— Parece que é tarde demais — ela apontou sobre seu ombro e ambas vimos quando uma aglomeração se formou ao redor da garota que melhor sabia forjar drama.

Nós nos aproximamos, e o primeiro pelo qual temi foi o bebê que era gerado em seu ventre. Motivo mais que suficiente pelo qual suspirei quando vi Zu'rien sendo amparada por todos, chorosa, com as vestes esfrangalhadas e diversos cortes pelo corpo.

— Por Maatsu Ohkami! — de repente, Akemi tapou sua boca e depois saiu correndo sem que eu ao menos pudesse perguntar o motivo. Talvez indisposição, provavelmente um enjoo por sair segurando a boca.

— Zu'rien! — me ajoelhei diante dela e de três servos que falavam ao mesmo tempo e tentavam separar suas roupas do ferimento profundo. — O que aconteceu? Como se feriu?

Ela me olhou feio.

— Eu disse para ele que não era culpada! — ela me apontou um dedo, com fúria, com ódio, transpirando ressentimento para comigo. — Eu disse isso muitas vezes! Mas vocês não me ouviram! Vocês nunca ouvem! — Zu'rien tocou seu ferimento e sua mão foi banhada por sangue, ela a sacudiu para todos os lados e se limpou. — Isso é culpa de vocês. Me larguem! — ela se separou dos servos. Uma mulher de meia idade lhe ofereceu um pano de seda e ela imediatamente enrolou no ombro sem exalar um único grunhido. — Você colocou isso na cabeça de Hisashi, Izanami. Outra vez é culpa sua.

O Ultimo Eremita do Trovão (Vencedor #TheWattys2021)Where stories live. Discover now