Uma luz persistente vibra por cima das minha pálpebras, quero ter forças para abrir os olhos novamente e vislumbrar o dia que nasce. Quero piscar, quero sentir o torpor dos meus lábios desaparecer para que eu finalmente desperte para a realidade.
Uma sala pequena me cerca. Um par de moveis com cheiro de carvalho me observam, um de cada lado, assim como a cama em que repouso e as cortinas brancas com o kanji "Paz" estão estampadas bem a frente, logo antes de uma presença me trazer a noção de que estou sendo assistida.
— Ei, finalmente acordou — Akemi, a moça que antes me banhou, estava com um sorriso reluzente ao entrar trazendo consigo uma bandeja de madeira com uma porção pequena de comida.
— Akemi-chan! — me ajusto à cama. — O que aconteceu? Onde estou? — toco os cantos do meu rosto onde uma pulsação persistente me perturba um pouco.
— Está em seus aposentos, em total segurança. Veio para cá trazida por Hisashi-san após o ritual que reviveu as suas memórias — ela ergueu a bandeja para mim. — Fome?
— Sempre — rio.
— Peço perdão pela pouca comida... são tempos difíceis.
— Dangos! — adorei de imediato.
Ela riu, um pouco mais animada.
— Isso, Dangos. Dangos, um pouco de pão e uma fruta. Como você está? Deu certo?
— Eu lembro... Akemi-chan — olho ao redor, como se imagens se firmassem na minha mente cada vez que me esforçava para encaixá-la no meu tempo e nas minhas memórias. — Me lembro dessas paredes, da vela aromática de cerejeira derretida ali, do canto daquele grou que meu tio criava como se a um filho mais novo. De você.
— De mim? Não sou digna!
— Sim, eu me lembro de vê-la com um livro de desenhos e uma caneta de pena preta e branca. Sempre os levava de um lugar para o outro. Sempre sozinha — me arrasto mais para cima. — Por favor, sente-se e coma comigo.
— Mas...
— Por favor — ofereço-lhe metade do palito de Dango que ela trouxe. — Se passaram dez anos, não foi?
Ela se senta na ponta da cama e presta uma reverência ao pegar o doce de minhas mãos e comemos o primeiro juntas.
— Dizem que sim... eu era tão nova quanto você na época.
— O que aconteceu?
— Fala dos... eventos?
— Sim. O que fez Mestre Tesauro naquela noite?
Ela olhou para o chão, triste.
— Tudo o que eu sei foi porque ouvi de alguém, mas... dizem que o mestre falou com os Senhores da Guerra e juntou tantas pessoas descontentes com o conselho quanto conseguiu para, dizia ele, desarmar um golpe. Nisso ele estava certo... o conselho tentou matá-lo, mas ele reagiu e, disse Hisashi, ensinou os seus homens como matar cada um dos Eremitas do Trovão; suas forças e fraquezas. Eu sei que foi terrível. Eu nunca realmente entendi as motivações dele, também... acredito que nem deveria saber, desculpe.
— Por que eu te desculparia?
— Porque isso é um assunto que não me diz respeito. Por Maatsu Ohkami! — ela se levantou com pressa. — Preciso parar de ser intriguista!
Eu ri.
— Minha mãe sempre dizia que as pessoas dotadas de muito conhecimento são tanto uma ameaça quanto uma solução. Mas não se preocupe. Se me contar o que aconteceu nesses últimos anos, poderemos ser notáveis amigas. O que acha?
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O Ultimo Eremita do Trovão (Vencedor #TheWattys2021)
Fantasy[VENCEDOR DO PRÊMIO #THEWATTYS2021 EM FANTASIA!]Izanami é, assim como todos no Santuário do Céu, descendente dos deuses japoneses que governam as forças naturais desse mundo; tempestades, neve, estações, chuvas, florações, o nascimento e por do sol...