(三) Termal Muito Quente!

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Eles mergulharam pelo coração do Templo. Novos cenários, novas pessoas, novas formas de se vestir e novos comportamentos. Mulheres se alinhavam diante de um corredor interminável, trajavam roupas douradas e brancas, além de cabelos presos em coques elaborados. Todos pareciam surpresos diante da presença de Izanami que, confusa, não entendeu a resposta que deram ao prestarem uma reverência desengonçada. Ela não gostou de ser o centro das atenções e se escondeu nos braços do imenso Hisashi para que seguissem até o fim do corredor onde havia uma luz esbranquiçada que lhes deu visão a um jardim triste e decadente.

Não que as flores da estação fossem feias, mas pareciam amuadas, assim como tudo na natureza; os pássaros que não cantavam e as pessoas que ali apenas banhavam. Eram todas mulheres, sem suas vestes, desaparecendo no vapor de água quente em piscinas redondas. Hisashi parou imediatamente na entrada das termas, onde sabia que a sua presença desrespeitaria o conforto das nobres e das pobres. Logo, porém, foi reconhecido pela melhor amiga, Akemi.

Ela, assim como todas as serviçais estava bem ocupada, dobrando e entregando toalhas as boas damas que banhavam e se aproximou com um belo sorriso receptivo.

— Hisashi, a que devo a visita? — ela direcionou o olhar sobre Izanami, que, curiosa, apenas arrancava as pétalas de uma flor murcha. — Quem é a sua nova amiga?

Ele se aproximou para que pudessem menear o tom.

— Essa é Izanami... filha de Kazumi Makal, da casa de Makal. Se lembra dela?

— Por Maatsu, ela está viva mesmo. Lembro vagamente, eu era muito jovem também e via ela brincando com os nobres. Por que ela parece tão perdida?

— Eu a encontrei no Vale do Lótus Branco, estava vivendo na companhia de lobos. Provavelmente passou a viver na floresta depois da sentença final, dez anos atrás. Pode cuidar dela e deixá-la apresentável para a Tsuna-sama?

— Pois sim, meu amigo — ela reverenciou. — Ela morde?

Ele riu.

Por mais selvagem que a jovem aparentasse naquele momento, ela nunca havia mordido nada além de coisas de comer.

— Não, ela é inofensiva. Ela não se lembra de quem é ou o que é viver entre humanos, mas é gentil — ele se virou. — Izanami — ela se aproximou e olhou para Akemi com um pequeno sorriso. — Essa é minha amiga Akemi, ela vai te banhar e te dar uma roupa nova.

Ela balançou a cabeça antes que ele prestasse uma última reverência e partisse voando, já enxovalhado pelas outras mulheres incomodadas por estar se prolongando ali. Akemi sorriu e olhou a jovem de cabelos prateados de cima a baixo, analisando os riscos de sua presença e pensando no quão bom era ver uma representante da casa de Makal ainda viva, sendo que Izanagi, seu irmão, tinha por incerto o destino final.

— Izanami, já banhou-se em uma termal antes? A água é quente e revigorante! Por favor, se aproxime.

Ela o fez, temerosa, se ajoelha e toca na água, recua a mão com um gemido.

Muito quente!

— Sim, tem um efeito relaxante que adoramos. Vou pegar uma veste nova para você. Me aguarde por um instante.

Izanami olhou ao redor. Para as senhoras nas termais, a selvagem era um assunto à parte para se conversar. Nunca antes haviam visto aqueles trapos trajados numa moça com cabelos perfeitos, isso porque Izanami os penteava por horas durante os dias que vidavam. E ela quis explorar mais, só que na tentativa de se divertir com novo, foi que caiu na termal.

As moças ao redor riram, debocharam da sua deselegância, mas ela estava se afogando, incomodada, perdida, se debatendo com urgência por não encontrar o chão.

O Ultimo Eremita do Trovão (Vencedor #TheWattys2021)Where stories live. Discover now