(十二) O Primeiro Dia de Sol

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Eu desperto quando um persistente toque assola o interior do meu consciente onde sonhava até então com uma cachoeira e os meus cabelos gotejando a água mais limpa.

Ouço vozes de ordem, conversas paralelas, botas de metal, o som de armaduras aos pulos através do corredor. Me ergo, sonolenta por aparentemente ainda ser muito cedo, mas a urgência energiza o meu ser até que eu abra a porta. Há um rapaz de olhos grandes e cabelos longos ofegando.

— Senhorita Izanami, temos urgência!

— O que está acontecendo? — ponho a cabeça para fora do corredor bem no instante em que um par de sacerdotes, os mesmos que encontramos no local de ritual, passam a nossa frente no sentido oposto ao da maioria das outras pessoas, em sumo, guardiões e servos.

— O Templo está sendo invadido! Hisashi-san me pediu para acordá-la e leva em segurança até a fortaleza.

— Mas eu...

Ele simplesmente agarra o meu pulso com urgência e me pede para segui-lo também no sentido oposto aos das pessoas. Estou com roupas finas de dormir, despenteada, sem qualquer adorno ou maquiagem.

Quem liga para isso? Todas as mulheres também estavam no mesmo estado de urgência, todas correndo sobre a proteção de seus homens, assim como as crianças.

— Mamãe, o que está acontecendo? — indagou a voz de uma menininha, a mesma voz de desespero que eu tinha quando fui tomada no colo de minha mãe para sairmos correndo de casa.

Eu não quero que nossa saída exploda mais uma vez. Meu coração se aperta, passamos pelas termais e entramos correndo por uma porta de madeira fina que dava acesso a um anexo frio e pouco iluminado. Dentro do anexo, uma sessão de portas dava a antessalas, cada uma continha algo diferente, numa, uma cascata com um dragão jorrando água, em outra, um trio de mulheres com as mãos dadas, envoltas por um círculo ritual vermelho.

E em outra, eu noto uma varanda que da vista para as montanhas, para o verde e para um show de luzes, gritos e pessoas tropeçando, além de um homem negro e grande de bigodes brancos que esmaga um gongo imenso com a quantidade de pancadas que dá.

Ouço um rugido feroz e o som de chamas se chocando no chão, tilintando sobre madeira e pedra e os estalidos característicos de raio manando sobre eles, em direção ao céu.

— O que está acontecendo?

— Precisamos ir, senhorita! — disse ele. — Aqui não é seguro para a sua presença!

— Espera! — eu exijo, quero ver mais de perto e entro na varanda.

Sobre essa varanda há uma escada que leva a um espaço bonito onde há muitas estátuas de samurais e casas pequenas feitas nas encostas das montanhas. De lá, alguns homens e mulheres disparam contra algo que está fora da minha visão até que eu desça os primeiros degraus e olho para trás, sobre o telhado do Templo.

— Por Maatsu Ohkami.

— Senhorita?

— O que é aquela coisa? — aponto para ele.

Mas o rapaz parece sem palavras quando também se aproxima para ver melhor aquele ser inexplicável envolto por sombras que tinham a textura de água, se separavam de seu corpo quando ele mergulhava entre as nuvens. Era imenso, serpentário, coberto por escamas azuladas transparentes, tinha uma face demoníaca, longos chifres eletrificados e bigodes ondulados. Lembrava um grande dragão tradicional, mas podia ser descrito como uma mescla de animais horrendos.

Ele mergulhou dos céus em direção ao Templo e os Mestres do Trovão, na tentativa de afastá-lo, apenas o golpearam seguidas e intermináveis vezes com o sagrado raio.

O Ultimo Eremita do Trovão (Vencedor #TheWattys2021)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora