Capítulo XXXI

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Capítulo XXXI

Max

Levantei mais tarde que o normal, a noite tinha sido longa.

Tinha algumas coisas pra resolver. Eu queria ir até a praia. O Bruno não queria ir por que não tinha amigos pra se divertir. Não que ele tivesse grandes amigos era mais uma desculpa. O Nicolas não queria ir por que ele precisava trabalhar.

Bom acho que sairíamos cedo amanha. Comecei a rir de mim mesmo.

O Nicolas teve que viajar para resolver um problema na transportadora, claro que voltaria a noite. Mas tinha algo mais importante pra resolver e que estava caindo como uma bomba na nossa vida. Algo que somente ele poderia resolver com o Mateus.

Ficamos a noite inteira acordados. Não só para conversar sobre isso mas o Nicolas queria trabalhar para resolver algumas coisas antes de viajar e eu fiquei acordado pra fazer companhia e cuidar um pouco dele. Procurávamos ficar um do lado do outro sempre que dava.

O Nic não tinha muita noção de tempo quando se tratava de trabalho.

Como eu só teria cirurgia daqui a dois dias resolvi passar a noite revisando a aula que eu ia dar na mesma faculdade onde nos formamos. Eu tinha uma cadeira de neurocirurgia no doutorado, era uma turma pequena mas muito boa.

Minha vida agora se resumia a ir para o Hospital uma ou duas vezes por semana, dar minhas aulas e algumas palestras que me solicitavam. Quando era algo de emergência ou um pedido de amigos eu viaja para outro local.

Eu ainda achava estranho as pessoas acharem que eu era realmente um grande neurocirurgião. Eu era o que estudei pra ser. Sempre respondia que não tinha muito tempo para pensar nisso porque no final só o que importava eram os meus pacientes. Desci para a cozinha, peguei meu café e fui para a grande sacada. Essa era um das melhores horas do dia.

Fiquei ali sentado olhando pra fora, a cidade começava a se movimentar.

As vezes a saudade apertava em momentos como esse.

Olhei pra trás e vi a grande mesa onde tantas vezes nos reunimos. Ainda podia ver meu avô na cabeceira da mesa e Dona Leda na outra. Lembrava de nossos jantares em família sempre que todos podíamos estar juntos. Lembrava do cheiro da comida que ela fazia com tanto carinho. Ainda hoje eu pensava em tantas noites que ficamos conversando.

Em tantas noites em que ela me ensinava a cuidar da família, lições que eu nunca esqueci. Foi um choque para todos quando alguns anos depois da morte do meu avô, perdemos Dona Leda.

De nada adiantava todo o dinheiro do mundo quando chegava sua hora era o que ela dizia.

Mesmo assim meu coração ainda agora, depois de tantos anos, não aceitava isso. Depois da morte dela criei um fundo para o estudo dessa doença tão terrível. Meu coração ainda se apertava ao lembrar dessas duas pessoas que tanto nos amavam e nos orientavam. Tentei desviar meus pensamentos.

O Bruno estava na aula e as vezes isso me deixava preocupado. Mas eu adorava isso, o Bruno ser a minha maior preocupação fazia meu dia ficar melhor.

Não que ele não fosse um filho maravilhoso, mas eu sabia que ele enfrentava várias barreiras por minha causa e do Nic. Talvez por isso eu ficasse tão ansioso, tão preocupado e por isso eu tivesse colocado tanta gente cuidando dele. Mesmo que ele não soubesse eu precisava ter esse cuidado, tanto tempo depois ter dois pais era ainda muito difícil.

Mesmo com todo o investimento em mídia e comunicação o preconceito era algo que estava impregnado nas pessoas. Claro muito mudou ao longo dos anos. O planejamento do meu avô ainda estava em andamento, jornais, propagandas e novelas mostravam cada dia mais para a população em geral que um casal gay era sim normal e deveria ser enxergado como tal. Muita coisa mudou mas muita coisa ainda teria que mudar.

Antes de tudo.Where stories live. Discover now