Capítulo 10- Verdades cruzadas

638 153 21
                                    

 

Capítulo 10- Não se aproxima 

Olivia andava depressa pela rua, mesmo com dor aumentando em seu joelho, ela estava com tanta raiva naquele momento que seus punhos estavam fechados, as unhas sendo espremidas contra a palma da mão, ao ponto de machucarem. Taehyung mal a conhecia e se achava no direito de exigir explicações, ainda mais de algo tão pessoal como a saúde mental da sua mãe.

Andando sem rumo na escuridão, ela percebeu que estava na verdade com mais raiva de não saber o motivo do gatilho de sua mãe, o porquê de uma mulher tão forte e independente que sempre trabalhou fora, sempre se sustentou sozinha, que tinha uma carreira brilhante como engenheira, ter se transformado em uma pessoa frágil, calada, com medo de olhar até mesmo a rua através da janela.

Olivia estava com raiva porque nunca esclareceram nada para ela, sempre a excluíram por ser uma adolescente, achando que não merecia saber de nada. Seu pai foi embora sem explicações e deixou toda a responsabilidade para que no final a adolescente que consideravam imatura, cuidasse de tudo.

Que ironia.

A menina percebeu que estava na frente de uma casa familiar, percebeu que era a casa do crime, a casa do seu namorado, de repente nenhum de seus pensamentos e indagações anteriores importava, pois a luz de um dos quartos estava acesa, era a janela do quarto dele, Jae.

Olívia engoliu em seco, de repente estava ansiosa, seu coração acelerado, iria mesmo fazer o que estava pensando?

Subir a árvore que dava para o quarto do rapaz, se ele estivesse mesmo ali, eles precisavam ter uma conversa, ela precisava saber o que tinha acontecido.

Devagar e com muita dor no joelho, a menina engoliu o choro e subiu com esforço, alcançando o pequeno telhado que dava acesso à casa, levando até à janela do quarto de Jae.

Ele costumava deixar a janela aberta para ela quando namoravam escondido dos pais do rapaz. Olivia se sentiu estranha, parecia que tinha se passado tanto tempo, mas tinha apenas umas três semanas desde que tudo tinha começado. Será que ele a expulsaria? Brigaria com ela?

Espantando os pensamentos, ela levantou o vidro e passou o corpo para dentro do quarto, não havia ninguém ali, a luz do banheiro estava acesa, mas olhando de perto não tinha ninguém ali também. Ela estava sem fôlego de subir a árvore, precisou parar para se recuperar.

Olivia entrou no banheiro e viu em cima da pia alguns frascos de remédios que sua mãe também tomava, remédios pesados para depressão e ansiedade. Ela achou aquilo tão esquisito, Jae sempre era sempre alegre, nunca tinha visto ele tomar remédio algum nem para dor de cabeça, ele era sempre contra medicamento se podia esperar a dor passar.

Saindo do banheiro ela reparou na cama no canto do quarto que estava bagunçada.

Então Jae tinha estado ali.

Mas porque estaria se escondendo de todos, seria mesmo culpado? Os pensamentos ruins eram muitos e todos ao mesmo tempo.

A menina sentiu vontade de chorar, mas seu sentimento foi interrompido pela porta atrás dela se fechando, virando rapidamente com o coração muito acelerado, ela o viu.

— Jae?

— O quê você tá fazendo aqui? — Disse de maneira grosseira e surpresa.

Se ele tivesse dado um tapa nela talvez tivesse doído menos. Jae estava com olhos sérios e aparência cansada, ela nunca tinha visto ele tão mal, estava magro demais, vestia roupas largas e surradas, detalhe esse que não ajudava a mudar a aparência de doente que ele tinha naquele momento.

— Vim ver você, você está bem? — Olivia perguntou em tom de urgência e se aproximou do rapaz.

—Você não pode ficar aqui — Ele disse se afastando dela.

— Porquê? Sua mãe está em casa?

— Não, mas ela vai chegar a qualquer momento, você tem que ir embora — ele disse parecendo muito nervoso.

— Ainda dá tempo de conversar, o que aconteceu, Jae? Porque você sumiu?

Ele desviou o olhar, tinha um outro sentimento transparecendo ali, tristeza e medo. Olívia sentiu a urgência de abraçar ele, não tinha percebido ainda o quanto gostava dele até ele sumir sem vestígios.

— Eu senti sua falta — Ela disse.

A menina deu dois passos na direção dele e o rapaz levantou a mão a interrompendo — Não se aproxima! — ele disse voltando a olhar para ela, mas dessa vez com o olhar mais firme.

— Por favor, me conta — pediu a menina.

— Você precisa mesmo sair daqui — seu olhar agora era de raiva.

Olivia sentiu sua bochecha molhar e percebeu que estava chorando, eles se davam bem, tinham tido uma história juntos, ambos se apoiavam em seus sonhos, era sempre divertido quando estavam na companhia um do outro, nunca tinham brigado, mas naquele momento ele parecia um completo estranho aos olhos dela.

— Você não me ama mais? — Perguntou sem perceber quão egoísta estava sendo, pois aquela era a coisa menos importante que ela precisava saber naquele momento, mas parecia que as palavras tinham se atropelado para sair da boca dela.

Jae engoliu em seco, ela percebeu o movimento da garganta dele.

— É com isso que você está preocupada? Eu posso ter matado o meu pai como dizem por aí, e você está preocupada em saber se eu ainda te amo? — Ele disse sem acreditar, seu tom de voz era cético. Realmente ele havia mudado, o luto faz isso com as pessoas, era compreensível.

— Bem, você o matou? — Olivia perguntou olhando nos olhos dele, os dois se encararam em silêncio.

Uma careta de nojo se projetou no rosto dele — Sai daqui! — ele agarrou o braço da menina e a empurrou em direção a janela.

Jae nunca tinha sido agressivo com absolutamente ninguém. — Ai! Você tá me machucando — A voz de Olívia saiu mais frágil do que ela gostaria.

— Desculpa — Ele sussurrou e ela sentiu o aperto no braço diminuindo.

— Eu vou embora, mas eu não vou sumir da sua vida, não ainda — A menina disse passando para o lado de fora do pequeno telhado.

— Por favor, me esqueça — foi a última coisa que ele disse antes de fechar a janela e descer a persiana que bloqueava a visão para o cômodo.

Olivia desceu pela árvore, foi mais fácil do que subir, a dor que ela sentia naquele momento era pior, era a dor emocional. Ela se curvou na grama e de nervosismo, vomitou um pouco, limpou a boca com a manga da blusa que vestia e voltou a andar em direção a sua casa.

Seu corpo estava dormente por todas as emoções que tinham invadido sua cabeça naqueles breves minutos. Como podia sua vida ter virado de ponta cabeça em apenas algumas semanas?

Jae não tinha afirmado nada, ele poderia mesmo ter matado o pai, ela poderia ter estado frente a frente com um assassino, mas porque então alguma coisa dizia que ele era inocente?

Seria uma certeza ou apemas uma vontade de inocentar alguém que ela gostava?

Não Confie Em MimOnde as histórias ganham vida. Descobre agora