CAPÍTULO I

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Enquanto divagava entre a consciência e a inconsciência, Shen Liangsheng notou o som da chuva que batia em um guarda-chuva. As chuvas no verão eram rápidas e intensas, e quando as gotículas atingiam o dossel, eram como tambores de guerra em expansão, despertando-o para fora de seu estado subconsciente.

A primeira coisa que ele viu depois que seus olhos se abriram foi a parte de baixo de um guarda-chuva pintado com folhas amarelas. A arte era realista e transmitiu a submissão da planta aos elementos.

Ele ouviu alguém dizer: "Essa chuva não vai durar muito. Deve cessar em breve" e imediatamente tentou pegar sua espada. Ch'in Ching, que estava segurando o guarda-chuva e observando-o, notou os dedos trêmulos do homem. Ele se inclinou para mais perto.

Não havia sinais de presença humana nessas montanhas desertas além deles dois. Shen Liangsheng, que estava gravemente ferido, havia chegado a este santuário abandonado e tentado entrar para escapar da chuva e cuidar de seus ferimentos. Infelizmente, seu corpo desfaleceu antes que ele pudesse entrar, sendo assim, ele caiu ali mesmo.

O santuário T'uti havia sido abandonado há muito tempo e estava tão deteriorado que a porta havia cedido e estava jogada sobre a lama. Shen Liangsheng havia tropeçado na porta, caído em suas tábuas de madeira e perdido a consciência por cerca de metade do tempo que é necessário para um bastão de incenso ser queimado completamente.

O fluxo sanguíneo era muito abundante para ser lavado pela chuva. O vermelho escarlate se infiltrou nas tábuas e se fundiu novamente com a água da chuva que vinha das rachaduras da madeira. Rico e fresco, não era diferente de uma nova camada de um tom vermelho carmesim no fundo de um caixão.

Vendo o homem nesse estado lamentável pairando entre a vida e a morte, Ch'in Ching estava hesitante, mas ainda perguntou: "Qual é o seu nome? Seria mais fácil erguer uma lápide para você se você morrer."

Enquanto Ch'in Ching falava, Shen Liangsheng estava chamando seu core ch'i. Todo o seu corpo estava sofrendo, como se mil lâminas estivessem corroendo seu interior, e ele não conseguisse emitir nenhum som.

Não recebendo resposta, Ch'in Ching supôs que o homem não queria terminar sua vida ali, então ele assentiu e comentou: "De fato, é melhor permanecer vivo."

Embora estivesse sentindo uma dor terrível, Shen Liangsheng não queria desmaiar de novo, então se forçou a permanecer consciente e fez contato visual com Ch'in Ching.

Ch'in Ching olhou para o homem e não viu sinais de que o homem desejasse ser resgatado, nem orgulho ou teimosia. Os olhos do homem estavam frios e ainda pareciam lagoas geladas refletindo sua silhueta – meio inclinado, segurando um guarda-chuva com uma mão e coçando a cabeça com a outra, enquanto olhava atentamente, quase estupidamente, de volta para o homem.

Ch'in Ching tossiu e endireitou suas costas, querendo recuperar sua imagem como uma figura digna e de outro mundo, mas até ele próprio queria rir da tentativa que o levou a tossir mais uma vez antes de falar em um tom sério. "Eu chequei seu pulso mais cedo. Com as feridas internas e externas, você está essencialmente no seu último suspiro, mas não se preocupe, eu não sou do tipo que deixa um paciente nesse estado. Se eu tentar mover você daqui... temo que você não sobreviva durante o trajeto. O que você acha?"

Como hufa de uma seita esotérica, Shen Liangsheng tinha um pulso e ch'i extraordinários. Ele sabia que seus ferimentos não eram tão graves quanto o homem pensava e que na verdade seria difícil para ele morrer, mesmo que ele ficasse aqui e chovesse por mais um dia e uma noite, sem falar em ser movido.

Living To Suffer (PT/BR)Where stories live. Discover now