13 - Os estrangeiros da floresta

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O leão Sirhan bocejou longamente antes de falar para Iana com indiferença:

-- Não sou príncipe de nada, só um filho bastardo do falecido rei.

-- Agora precisamos que seja, Sirhan – Iana se aproximou meio desajeitadamente pela falta de espaço – Ekom está louco com o poder, e saiu tomando as terras de outros felinos. Chegou nos desertos do norte.

-- Boa sorte para ele governar um monte de areia. Como vai, Anami? – seu olhar baixou para Sahira, ao lado da onça negra – O que aconteceu? Seu filhote nasceu anão?

Sahira deu uma sonora gargalhada. Realmente ela parecia uma miniatura de Anami, a única diferença, além da cor dos olhos e o formato das orelhas, eram as manchas no pelo da onça, invisíveis a menos que se olhasse bem de perto.

-- Gostei da baixinha. Ela tem senso de humor – Sirhan comentou bem-humorado.

-- Essa é Sahira, uma gata de Bast. A casa dela foi invadida pelos soldados do seu meio-irmão – Iana explicou.

-- E daí? – ele se deitou e descansou a cabeça nas patas – Não tenho nada a ver nem posso fazer nada sobre isso.

-- Tem a ver sim. Ekom precisa cair, e sem ele, você é o herdeiro do trono.

-- Não sou herdeiro de nada, nem mesmo dessa toca, que me foi cedida por um jaguar idoso. Sou só um desgarrado, e estou bem com isso. Sou feliz junto das onças, nesse cerrado que me lembra a minha casa.

Iana e Anami se entreolharam, e com um suspiro a leoa disse:

-- Está bem. Sirhan, não irei mais importuná-lo – virou-se para a entrada e todos voltaram para fora. Sahira não entendeu e lançou um último olhar ao leão antes de segui-los. Saindo da toca, a gata perguntou:

-- É só isso? Vamos desistir?

-- Não é desistência, é retirada estratégica – Iana explicou em voz baixa – Vamos tentar convencê-lo outra vez, nós chegamos muito de repente na casa dele. E você vai ajudar, Sahira.

-- Eu? Como?

-- Ele gostou de você. Faça amizade com ele e o convença.

*

De manhã Sahira viu Sirhan deixar a toca e foi a seu encontro.

-- Olá, Sirhan. Aonde vai?

-- Caçar – ele se espreguiçou e deu um longo bocejo.

-- Vai junto das onças?

-- Não. Elas caçam sozinhas.

-- Então posso ir com você?

-- Acho que não vai conseguir me acompanhar, baixinha – Sirhan encostou a pata carinhosamente na cabeça dela, despenteando seu pelo – Se quiser eu trago um ratinho para você.

Ele partiu, e minutos de lambidas depois, Sahira escutou o baque surdo de uma aterrissagem. Olhou para o lado e se sobressaltou ao ver uma felina de pelo amarelo malhado, parecida com uma onça em miniatura. Ela cumprimentou:

-- Oi. Você veio de Bast, não é?

-- Talvez – Sahira respondeu lentamente, se perguntando como ela conhecia Bast.

-- Não seja tão desconfiada, eu sei muito sobre a sua terra, conheço um cara igual a você. Ah, nem me apresentei. Meu nome é Shaya, sou uma gata maracajá. Qual é o seu nome?

-- Sahira. Tem alguém igual a mim aqui?

-- Tem sim, ele até se parece um pouco com você, mas tem manchas brancas no peito e nas patas. Ele saiu de Bast há muito tempo e mora aqui desde então, e me ensinou muito sobre o que existe além do Rio Verde.

-- Qual é o nome dele?

-- Halim.

Aquele nome não era familiar para Sahira. Como Iana saíra com Anami e Acir, e os três só voltariam mais tarde, a gata tinha algum tempo sem nada para fazer, então perguntou:

-- Quer brincar?

Iana teve uma surpresa ao chegar da caçada e ver Sahira rolando no chão e rindo com uma maracajá. A jovem gata cumprimentou a leoa ao vê-la:

-- Oi, Iana. Onde estão Anami e Acir?

-- Ainda caçando.

-- A Shaya me contou que tem um gato como eu aqui.

-- E ele não mora longe daqui – Shaya adicionou e se dirigiu à gatinha – Gostaria de vê-lo?

-- Claro.

-- Coma primeiro, Sahi – Iana indicou sua caça, um robusto veado. A gata olhou para Shaya.

-- Quer um pouco?

Anami chegou enquanto elas comiam. Pelo cheiro, tinha acabado de comer uma caça própria também.

-- Shaya! O que faz aqui? – a onça negra cumprimentou alegremente a maracajá – Você não estava nas montanhas a oeste das florestas?

-- Ouvi rumores de brigas além do Rio Verde e fiquei curiosa.

-- Ela vai me mostrar um gato que mora aqui perto – Sahira adicionou. Os olhos de Anami se arregalaram.

-- Claro, como pude me esquecer do Halim? Ele é vizinho do meu primo.

A onça acompanhou Sahira e Shaya até uma toca pequena, entre as raízes de uma árvore. A maracajá chamou junto à entrada:

-- Halim! Venha aqui fora, tem alguém que quer te conhecer.

Lentamente um gato saiu, piscando os olhos para a claridade, e encarou Sahira surpreso.

-- Onde está a sua mãe, filhote?

-- Ficou em casa. Espero que ela esteja bem.

Anami resumiu a sucessão de eventos que levara Sahira ao momento presente. Halim se lambeu calmamente enquanto ouvia:

-- Quer fazer a diferença nessa guerra de gigantes, filhotinha? – perguntou, olhando parar a gata. Ela respondeu com firmeza:

-- Sim. E não sou tão filhote, tenho quase quatro meses.

-- Quatro meses! – Halim fingiu espanto – Já é quase uma anciã, deve saber tudo sobre a magia de seu povo!

Dessa vez Sahira não gostou da brincadeira, e olhou feio para ele. Na verdade, ela devia conhecer a magia de seu povo, mas a invasão a Bast não permitiu, senão ela poderia responder que sim. O gato riu.

-- Apareça aqui hoje à noite e eu vou lhe contar umas coisas. O Sirhan também vem.

Anami, Shaya e Sahira se entreolharam, surpresas. A gata respondeu aos gaguejos:

-- Tudo bem.

A Feiticeira de BastTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang