Capítulo 26 - De volta a Xangô

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-- O quê? – Sahira balbuciou – Não, não pode ser verdade.

Ela sentiu as patas tremerem como gelatina. Não acreditava, não queria acreditar que Sirhan tivesse morrido. Não conseguiu aceitar que fora incapaz de ajudar o felino que fez tanto por ela. Tudo foi inútil no final.

Sahira começou a chorar.

-- Ora, por que esse desespero todo? – Enzi perguntou – É só fazer outro pedido, Sahira.

-- Como assim? O que se pode fazer se ele já morreu?

-- Se desejar que ele viva, ele viverá – o espírito do poço contou. A gata arregalou os olhos.

-- Isso é possível?

-- Por isso é o segredo mais bem guardado da nossa espécie. O poder de tornar possível praticamente qualquer coisa, até mesmo trazer de volta alguém que já morreu – explicou Enzi. Sahira exclamou.

-- Então faça isso! Por favor, faça Sirhan estar vivo e bem.

Os olhos do espírito, que pareciam dois carvões em brasa, brilharam com mais força. Sahira esperou quieta e nervosa até ele se pronunciar.

-- Está feito. O leão Sirhan voltou à vida.

Ele voltou para dentro do poço e Sahira se dirigiu a Enzi.

-- Desculpe por gastar um desejo de vocês.

-- Não se desculpe, menina, não há intenção mais nobre do que a sua. E os desejos não tem número limitado, o espírito só precisa esperar seis meses para realizar outro. E é muito raro precisarmos dele.

-- Muito obrigada de novo por me oferecer esse presente.

-- De nada. Agora volte para seu amigo e veja seu desejo realizado.

Sahira agradeceu outras dez vezes antes de sair da toca e correr para Aisha, que a esperava perto da vila caracal.

-- Temos que voltar.

Apesar de já ser noite, a guepardo pegou Sahira sem questionar e correu para o sul, parando ao nascer do sol para descansar, e retomando a corrida após uma rápida refeição. Chegaram pouco antes de meio-dia.

-- Obrigada. Vá descansar. Você merece – Sahira agradeceu quando Aisha a pôs no chão, e foi direto para a toca dos leões.

Havia muitos felinos reunidos na entrada, todos agitados e com cara de incredulidade, e Sahira achou graça da cena. Não podia culpá-los, ela mesma não sabia que era possível reviver os mortos até horas atrás.

A gata se aproximou da toca, onde Iana tentava controlar os ânimos, mas ao ver Sahira, ela exclamou:

-- Sahi! – e correu ao seu encontro – Você teve algo a ver com isso?

-- O quê?

-- Sirhan parecia morto ontem, mas depois de uma hora estava completamente curado.

-- Ah, eu...

-- Como aconteceu não importa – alguém falou atrás de Iana – O que interessa de verdade é que Xangô ainda vai ter um rei.

Sirhan sorria para a gata, que pulou nas patas dele.

-- Obrigado, baixinha – ele acariciou sua cabeça com o focinho – por não desistir de mim.

Agora Sahira estava muito cansada, o peso dos últimos dias voltou de uma vez. Ela só queria dormir, e Sirhan a levou para a toca e ordenou que ninguém a incomodasse.

Enquanto ela dormia, mais tranquilamente do que já dormira desde a partida de casa, os leões, guepardos, onças e leopardos comemoravam a coroação do novo rei.

A Feiticeira de BastOnde as histórias ganham vida. Descobre agora