7 - Entre leões e tigres

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Enquanto Sahira encontrava ajuda em seu segundo dia de viagem no deserto, Sef imaginava quanto tempo mais a sua viagem levaria.

Ao amanhecer do dia seguinte à invasão dos leões e tigres, o gato só teve tempo de se despedir rapidamente da família antes de partir. Aparentemente os tigres estava muito ansiosos para sair daquele "punhado de areia escaldante".

O tigre chefe do grupo fez Sef correr por si mesmo, mas em menos de um minuto ficou claro que um gato com menos de quatro meses, ainda filhote, não podia acompanhar a velocidade dos felinos de grande porte. Uma tigresa voltou quando ele ficou para trás.

-- Nesse ritmo nunca vamos chegar – ela parou em frente a Sef e o abocanhou.

Ele se debateu, achando que ela fosse comê-lo, mas em vez disso apenas retomou a corrida com ele na boca. Não era uma posição nada confortável, os dentes dela o cutucavam dolorosamente, seu hálito era forte e desagradável, e várias vezes Sef pensou que iria escorregar mais para dentro daquela boca enorme e ser engolido.

Sem falar que ele parecia uma presa que a felina tinha pego.

O grupo correu o dia inteiro, parando só umas poucas vezes para beber água do Rio, de onde nunca se afastavam. Só muito depois de anoitecer o líder gritou que era hora de descansar e todos pararam. A tigresa cuspiu Sef, que estava todo dolorido.

Um tigre pulou dentro do Rio, e em questões de instantes a água começou a se agitar descontroladamente. O tigre rosnava e se debatia, e Sef então percebeu que ele lutava contra um crocodilo. Assustado com tal cena, o jovem gato esperou pelo momento da morte do habitante da selva.

Porém, o tigre levou a melhor, e ao fim da briga, ele arrastava a carcaça pelo rabo para a margem, e os demais atacaram assim que se aproximou. Sef manteve distância enquanto os grandões rasgavam a pele escamosa do animal e comiam sua carne, só quando terminaram ele comeu com avidez o que sobrara, pois estava morto de fome.

O tigre chefe ordenou a todos que dormissem e instruiu Sef a se deitar perto dele. Alertou antes de fechar os olhos:

-- Caso tente fugir, saiba que se não te pegarmos, os animais desse deserto te matam.

Sef conhecia os perigos do deserto, não tentaria se afastar. O grupo dormiu juntinho para se proteger do vento gelado, mas o gato tentou manter certa distância deles, com medo de fazer algo que os irritasse. Eles eram tão imprevisíveis.

No dia seguinte a rotina se repetiu: acordar com os primeiros raios da alvorada, viajar o dia inteiro na boca da tigresa para ser largado quando a lua atravessava metade do céu, e comer o que fosse pego do rio: peixes, rãs ou aves.

Na metade do terceiro dia de viagem a paisagem começou a mudar. A areia seca deu lugar a um mato alto com árvores baixas aqui e ali. Sef notou que havia mais animais ali do que em qualquer outro lugar que ele já vira, de tamanhos que não imaginava ser possível.

-- O que é aquilo? – se encheu de coragem para perguntar. Uma leoa que corria ao lado da tigresa ouviu.

-- O quê? – Sef apontou para um animal cinza de presas enormes e patas grandes o bastante para esmagar uma árvore – Aquilo? Um elefante.

O gato já ouvira Iana falar desses animais, porém, ele não achou que fossem tão grandes.

Estrelas começavam a brilhar quando a tigresa pôs Sef no chão e o tigre chefe falou:

-- Estamos perto da casa do rei Ekom. Você andará a partir daqui.

Era um alívio poder caminhar por si mesmo, os dentes da tigresa já começavam a machucar. Ainda precisou andar mais depressa para acompanhar as largas passadas do leão, mas o pequeno esforço não incomodava.

-- Quando encontrar o rei, lembre-se de se curvar e se referir a ele como majestade – um leão orientava – Qualquer desrespeito de sua parte terá punição imediata, então não se atreva a responder com ousadia ou desobedecê-lo.

Sef engoliu em seco e seguiu o leão até um rochedo onde outros leões e tigres se reuniam. Mas os tigres estavam em número bem menor, pelo que o gato viu eram dez leões para cada tigre.

Todos abriram caminho para alguém que saía de uma caverna no rochedo. Sef se empertigou, certo de que o rei se aproximava.

Mas o animal que saiu da toca se assemelhava mais a um personagem das histórias de Iana que a qualquer outra coisa.

A Feiticeira de BastOnde as histórias ganham vida. Descobre agora