9 - Corrida na floresta

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Conforme prometido pelo caracal negro, o resto da viagem foi muito mais tranquilo. Quando faltava comida, surgiam lagartos, cobras e aves que eram facilmente apanhados, uma brisa agradável ajudava a suportar o calor do dia por mais tempo, e mesmo a noite não parecia tão gelada.

Em pouco mais de um dia de viagem, Sahira avistou algo diferente no horizonte. Perguntou a Iana:

-- O que é aquilo?

-- Ora – Iana arregalou os olhos, aliviada – É o Rio Verde!

A gata começou a correr, e mesmo com o sol nascendo já quente, só parou chegando na margem. Era realmente maior que o Rio de casa, ela mal podia ver a outra margem, e a água era verde mesmo, mas não do mesmo tom dos olhos de Sahira, estava mais para malaquita claro.

-- Como vamos atravessar, Iana?

-- Basta esperar que a natureza faça seu trabalho

Ela encarava a superfície, procurando algo. E como hipopótamos no Rio, uma fileira de pedras emergiu na água, formando uma ponte. Sahira exclamou:

-- Que incrível! Como isso é possível?!

-- A água do Rio Verde muda de profundidade pouco depois do amanhecer e do pôr do sol. Aprendi isso na primeira vez que visitei as onças– Iana pegou Sahira na boca e pulou na primeira rocha.

A travessia se deu com cautela, iana andava devagar sobre as pedras ainda umedecidas pela correnteza.

-- Agora temos que achar as onças – Sahira disse ao ser posta no chão da outra margem.

-- Sim – Iana concordou – elas governam um amplo território, então não vai ser difícil.

A gata voltou para beber água antes de voltar a andar, e estava curiosa para saber o gosto daquela água verde.

-- Não, Sahi! – Iana exclamou.

-- Eca! – se afastou da margem, cuspindo – É salgada!

-- Não se bebe do Rio Verde. Se está com sede, tem outros lugares para conseguir água. É o que não falta nessa floresta – a leoa não pôde segurar uma risada.

Então aquilo era uma floresta. As árvores eram enormes, muito maiores que as plantas que cresciam à margem do Rio, e todo o calor do deserto sumira, dando lugar a uma brisa leve com um cheiro fresco e levemente salgado.

E o chão era de terra macia como a de casa, coberta por uma camada de folhas que traziam aromas de todas as plantas. Era um ambiente realmente incrível, dava para sentir que estava cheio de vida. Cantos de dezenas de pássaros enchiam o ar.

-- Iana, vamos apostar corrida até as onças?

-- O quê?

-- Você sabe onde elas moram, não é?

-- Sim, mas...

-- Então vamos correr um pouquinho, por favor. Quero me mexer mais depois daquele deserto sem fim.

-- Está bem. Por ali – a leoa apontou com a cabeça. Sahira começou a correr, não sabia bem o que a deixara daquele jeito, o ambiente novo ou estar em um dos lugares das histórias fantásticas de Iana.

O baque abafado de suas patas almofadas contra o chão, o terreno irregular, as centenas de odores e sensações inéditas, tudo a fazia se sentir tão viva! Era incrível estar num lugar tão diferente, parecido com os de suas fantasias de aventuras.

Só parou quando notou uma mudança na paisagem à frente. Iana, que vinha correndo na mesma velocidade que a gata, deteve-se e perguntou:

-- O que foi?

-- Aquilo é um deserto? – a gata olhava para um trecho de terra mais baixo à frente, onde acabavam as árvores altas, o chão era mais arenoso e seco e as plantas tinham poucas folhas.

-- Não, é o que os felinos daqui chamam de Caatinga. Parece meio morto, mas não é, e nem de longe é tão quente quanto o deserto.

Ao se aproximar, Sahira percebeu que ela tinha razão. Apesar de secas, havia árvores e arbustos por toda parte que cheiravam a coisas vivas, o chão tinha mais pedras que areia e pássaros e pequenos animais surgiam e desapareciam de vista o tempo todo. Mas uma semelhança com o deserto é que tinha cactos.

-- E as onças moram por aqui?

-- Algumas, mas não são as únicas. Muitos felinos vivem nessa região.

Iana ouviu algo se mexer não muito longe e pediu para Sahira esperar ali. A gata parou à sombra de uma árvore, esperando que houvesse presas grandes o bastante para a leoa se fartar, coisa que não era possível no deserto.

Ela se lambeu enquanto esperava, não fazia isso desde que ficara com os caracais. Então sentiu o cheiro de algum felino se aproximando, e ficou de pé, alerta. Não via ninguém por perto, mas ouviu algo às suas costas, e antes que pudesse se virar foi derrubada no chão.

A Feiticeira de BastWhere stories live. Discover now