15- Arátor na savana

35 8 12
                                    

Sef não dormiu a noite inteira, preocupado com o que o amanhecer traria. Se assustava quando algum leão deitado perto dele se mexia.

Quando o sol nasceu e os grandes felinos começaram a levantar, Sef engoliu em seco e um tremor tomou seus músculos. Esperou, imóvel, pelo momento em que Ekom chegaria perto dele e cobraria uma resposta positiva.

Algumas leoas saíram para caçar e os tigres para patrulhar o território. Ekom foi o último a ficar de pé, fato que Sef estranhou, pois sendo ele o rei, não deveria acordar cedo? Em Bast, Husani sempre levantava antes de todo mundo.

O ligre consultou seus súditos mais próximos sobre a expansão das fronteiras, e eles responderam:

-- Os leopardos se refugiaram no interior da floresta. Os guepardos estão resistindo com mais vontade.

Talvez ele também queira os segredos desses felinos, o gato pensou.

Terminada a conversa, Ekom voltou-se na direção de Sef. O gato se encolheu, e teria corrido se não tivesse felinos grandões por todos os lados.

-- Então, meu jovem – começou, mas a chegada correndo de uma leoa de pelo cinzento interrompeu.

-- Majestade – ela parou, ofegante – Seu agente da terra das onças está aqui.

Ekom a seguiu para fora da toca, acompanhado por outros leões, inclusive os dois que dormiam perto de Sef, que foi também, por curiosidade.

Andaram um bom pedaço de chão antes de parar em frente a um felino laranja de cauda longa e patas curtas, que aparentemente tinha nadado e vinha correndo há um bom tempo sem descanso, pois além do pelo úmido, ele ofegava e seus músculos tremiam.

-- O que aconteceu? – Ekom questionou, não se referindo à condição do outro, mas ao que ele tinha a dizer.

-- A leoa branca cruzou o Rio Verde e encontrou as onças.

-- O seu trabalho era impedir que isso acontecesse, Arátor – o ligre rosnou, zangado. Arátor se defendeu:

-- Fui pego de surpresa por uma felina que a acompanhava, cuja existência eu desconhecia.

-- Que felina?

-- Pequena, preta, que mexia com areia.

Os leões mais próximos de Sef voltaram os olhares para ele. O coração do gato acelerou, se tinha uma gata preta junto de Iana, só podia ser Sahira.

Ekom murmurou uma ordem para uma tigresa e ela saiu correndo, e o ligre e seus acompanhantes se retiraram, de volta para a toca. O felino Arátor se sentou onde estava e se pôs a lamber os pelos. Sef foi até ele.

-- Você viu mesmo uma gata preta? Como ela era?

Arátor o encarou surpreso, depois estreitou os olhos, desconfiado.

-- Muito parecida com você na verdade. Mesma altura, mesma cor do pelo.

Parte de Sef ficou aliviada pela irmã estar bem, mas o que ela estaria fazendo além do deserto e desse Rio Verde? Onde era esse rio?

Só então reparou que Arátor estava machucado, arranhões cobriam suas costas e a lateral de seu corpo, além de hematomas nas almofadas das patas e um corte profundo perto da orelha. Sangue coagulado manchava seu pelo.

-- Como se machucou desse jeito?

-- Dá o fora, pirralho! – ele gritou, e Sef voltou apressadamente para junto dos leões.

-- Esse jaguarundi é bem orgulhoso – um deles comentou – Quem levou a melhor sobre ele deve tê-lo ofendido legal.

-- Eu me pergunto o que o rei vê nesse cara para pedir ajuda a ele – murmurou outro.

Sef os acompanhou de volta para a toca aliviado pelo ocorrido ter desviado a atenção de Ekom para longe dele.

A Feiticeira de BastWhere stories live. Discover now