Capítulo 24 - Rei Caído

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Iana, Sahira, Sef e Kiala chegaram primeiro à margem, tentando enxergar algo no meio das águas escuras. As duas onças, Anami e Acir, entraram no rio para procurar, mas antes que estivessem com a água na altura do queixo, Sirhan reapareceu.

O coração de Sahira ficou mais leve ao vê-lo emergir e voltar para a margem, ofegante e sangrando.

-- Você está bem, Sirhan?! – Iana correu para perto dele com Sahira em seus calcanhares.

-- Onde está o Ekom? – alguém lá atrás perguntou. Mais onças foram para a água e nadaram pelos arredores.

-- Ele não está em lugar nenhum – Acir anunciou – A correnteza deve tê-lo levado.

Kiala exclamou radiante:

-- Então Sirhan é o novo rei! Salve o rei Sirhan!

-- Vida longa ao rei! – outros felinos gritaram em coro. Sirhan sorriu cansado e falou para os líderes guepardo e leopardo.

-- Espero que nossos reinos ainda possam viver em paz depois disso.

-- É claro que sim – o leopardo respondeu – Não vamos pôr tudo a perder por causa de um rei louco. Estou certo que governará muito melhor que seu antecessor.

Mais gritos e rugidos de alegria encheram o ar, mas Iana e Sahira não compartilhavam da emoção porque viam o quanto o novo rei estava machucado. Arranhões profundos iam das costelas até a barriga, e Ekom devia tê-lo mordido várias vezes no pescoço e no peito.

-- Sirhan, você precisa descansar e tratar dos seus ferimentos – Iana falou, preocupada.

-- Tenho que resolver os estragos do Ekom antes de qualquer coisa – ele respondeu ofegante.

-- Sirhan...

Antes que Sahira completasse a frase, o leão caiu. Começou um alvoroço de felinos assustados, que só parou quando Iana rugiu para que todos se calassem e dessem espaço para examiná-lo.

Àquela altura começava a clarear o dia. Iana deu uma rápida olhada em Sirhan e chamou:

-- Preciso da ajuda de todos os curandeiros, o estado dele é grave!

Sirhan mal conseguiu andar sozinho de volta para a toca dos leões, onde vários feiticeiros de pelos negros e conhecedores das artes curativas se reuniram para tratar o rei.

-- Posso ajudar de algum jeito? – Sahira perguntou assim que chegaram. Anami pôs algumas folhas diante dela.

-- Mastigue essas ervas e depois esfregue-as nas feridas. Vão ajudar com a cicatrização.

A gata encheu a boca com as folhas amargas e as passou nos arranhões, mas o tanto que conseguia fazer parecia muito pouco. Quando passava as ervas em Sirhan, sentia que suas patas minúsculas não faziam diferença nenhuma, mas continuou com o trabalho por horas.

-- Oi, baixinha – ele sorriu, os olhos castanhos febris – É a minha enfermeira da noite?

-- Noite? – concentrada no que fazia, não notou que já escurecera. Nessa hora Kiala chegou.

-- Eu assumo daqui, Sahira, vá descansar.

A gata não percebeu o quanto estava cansada até se sentar. Ao seu lado, Sef lhe empurrou um ratinho.

-- Pegue aí, você não comeu o dia inteiro.

Verdade, ela também estava faminta além de cansada. Devorou o rato com avidez, e adormeceu assim que se deitou.

*

De manhã, antes mesmo de tomar café da manhã, Sahira foi falar com Iana. Ela estava agitada, todos os curandeiros estavam correndo pra lá e pra cá e falando uns com os outros tão rápido que não dava para entender.

-- Ele piorou durante a noite – a leoa branca contou para Sahira – Os machucados são bem mais sérios do que pareciam. Um guepardo foi correndo para o sul, atrás de ervas mais potentes, mas não sabemos quanto tempo levará para voltar.

-- Então não podemos fazer nada? – a gata se encheu de medo, e a expressão de Iana não lhe deu conforto nenhum.

Sahira andava de um lado para o outro, nervosa, tentando pensar numa forma de ajudar. Um leopardo passava as folhas medicinais em Sirhan, muito mais rápido do que ela fizera, e não fazer nada a deixava louca.

Perto de meio-dia, ainda não tivera nenhuma ideia. Sef chegou perto da irmã.

-- Sahira, tem um grupo que vai nos levar para casa.

-- O quê?

-- O Sirhan mandou reunir uns voluntários para nos levar de volta. Eles estão ali – o gato apontou com a cauda para duas leoas e um leopardo – Podemos partir daqui a uma hora. É tão bom saber que em alguns dias estaremos em casa.

Sahira sentiria o mesmo alívio se não estivesse tão preocupada com Sirhan. Claro que adoraria voltar para Bast, rever os pais e os irmãos, mas não podia simplesmente ir embora quando um amigo estava mal, e depois de fazer tanto por ela.

Ao explicar isso para Sef, o gato indagou:

-- Mas o que podemos fazer para ajudar, Sahi? Não sabemos nada sobre esses felinos enormes, somos gatos pequenos que até pouco tempo atrás não sabiam o que existia além do deserto.

Ouvir aquelas palavras fez Sahira se lembrar de algo que não devia ter esquecido, mesmo com tanto acontecendo. Exclamou:

-- Eu sei como ajudar o Sirhan!

Ela saiu correndo, deixando Sef confuso, mas não podia pensar nisso agora. Havia no deserto um poder para salvar o rei.

A Feiticeira de BastWhere stories live. Discover now