Cidade sem cabeça

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Península do Leste, Ponta Madeira

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Península do Leste, Ponta Madeira

ÍRIS VII

Íris acordou antes do nascer do sol. Não houve pesadelos, entretanto, também não conseguiu dormir por muito tempo. Poderia tentar adormecer novamente, mas isso era o mesmo que pedir por favor para sonhar com a batalha de uns dias atrás.

Trocaram de posição no meio da noite e Mirela estava parcialmente em cima de Íris. Era bom sentir o peso do corpo dela sobre si, ressonava e fazia um barulhinho com o nariz quando estava em sono profundo. Empurrou-a bem devagar para o lado até conseguir tirá-la de cima. Ela grunhiu alguma coisa e se virou puxando as mantas para si.

Íris se vestiu, brigou com o cabelo que teimava em se manter bagunçado, e saiu de casa. Estava com fome, mas a sua cozinha era uma desolação vazia e empoeirada. Iria ao castelo depois para comer já que a culinária nunca foi o seu forte. Por hora precisava de algo para despertar completamente do que restou da fossa emocional que estava no dia anterior.

Tirou Areia Preta do estábulo e limpou um pouco o lugar, embora tivesse certeza que precisaria pagar alguém para fazer isso adequadamente. Arrumou a sela sobre o cavalo e montou nele. Desceram a rua sinuosa da Vila dos Criados até a praia onde galoparam pela areia contra o vento da madrugada. Depois desmontou, tirou a sela de Areia Preta deixando-o livre para trotar por aí.

Desamarrou o seu barco individual ao chegar ao cais nos baixios, tirou as botas e empurrou a embarcação para o mar até sentir a água gelada na cintura. Com um movimento rápido, impulsionou o corpo para subir a bordo, ajeitou os remos e começou a remar. Percorreu a costa indo e voltando da Praia da Vila. Ainda era noite, mas a penumbra permitia enxergar o castelo e o horizonte.

Íris parou por um momento e pulou na água. Submergiu enquanto o seu corpo se contraía com a água gelada. Tentou se concentrar em tudo que a deusa-mar lhe disse sobre os sentidos. Segundo ela, Íris era capaz de lutar sem precisar ver. De fato conseguiu esse feito por alguns instantes, mas, por pouco, não morreu tentando. E, ainda que se concentrasse, não tinha ideia de como fazer aquilo de novo.

Emergiu da água buscando o ar para dentro dos pulmões. Entrou no barco e remou de volta até a praia. Mirela estava sentada na areia vestindo uma das suas roupas de esgrima. Areia Preta estava próximo dela, deitado bizarramente como um cachorro coçando as costas na areia. Quem via o cavalo de Íris em batalha não acreditaria que ele era preguiçoso e atrapalhado daquele jeito.

Íris amarrou o barco novamente e caminhou pela praia até Mirela. Sentou-se ao seu lado e a abraçou sobre protestos.

- Você está gelada! - reclamou Mirela ao lhe empurrar. - Aqui, um carroceiro estava na rua logo que saí.

Ela revelou uma cesta com pães de castanha, leite gelado com mel e frutas secas. A barriga de Íris ronronou de alegria.

- Que horas você precisa voltar para o castelo? - perguntou Íris de boca cheia ao mastigar um dos pães e tentar ajeitar o cabelo molhado para trás.

InvulnerávelWhere stories live. Discover now