Terra-do-Meio, Terras-de-Ninguém
ROSE VI
— Eu estou ferrado, não estou?
A voz de Toni, que vinha de Ponta Madeira, era mais preocupada que o normal. Ele estava apavorado embora tentasse esconder. O sussurro de Rose permitia ouvi-lo como se estivessem lado a lado.
Rose estava em sua grande banheira externa numa das varandas da Casa de Lydia, o local que abrigava mulheres conectadas nas Terras-de-Ninguém. Sempre que a rede de espiões de Aureana encontrava alguma conectada a mandava para lá. Mysha as ajudava a entender e usar a conexão de maneira não-destrutiva. Havia muitas conectadas ao oculto, à indomabilidade e à cura. Essas eram as conexões mais comuns. Depois delas havia uma quantidade razoável de conectadas ao sussurro e à sinestesia. Porém não havia ninguém conectada à ilusão e a invulnerabilidade além de Mysha e Rose. A conexão do renascimento era uma lenda, nenhuma pessoa conhecida a possuía e ninguém tinha muito conhecimento sobre isso.
A Casa de Lydia era um abrigo, mas para quem estava de fora era uma casa noturna de música e apresentações eróticas. Homens de todo o continente vinham desfrutar de uma noite assistindo e possuindo as mulheres mais belas de todas as Terras Conhecidas. Mas era tudo uma mentira. Não havia música, nem dança e tampouco relações íntimas entre os visitantes e as abrigadas. Tudo fazia parte da ilusão de Mysha. Os homens ouviam, viam e sentiam o que Mysha quisesse. Era assim todas as noites. Era também o momento que Rose ouvia e sussurrava para todos.
— Eu acho que não, Toni. Zenabu não quer falar com ninguém e eu não consigo falar com a Íris. Estou surda para as duas, mas acredito que você seja o menor dos problemas — disse Rose ao tragar o cachimbo e soprar a fumaça preenchendo o ambiente externo com cheiro de tabaco doce.
— Eu não sabia que ela iria à bordo do Fúria. Ela só pode ter guardado em segredo por alguns dias. Lorde Naloan já tinha dito que ela não iria, mas mudou de ideia. Sor Vincent o convenceu temendo alguma surpresa da Terrassanta, a intuição de Íris para emboscadas já está bem conhecida...
— Não foi culpa da garota e nem do pai dela — bufou Rose. — a culpa foi da Zen. Eu disse a ela que a garota estava à bordo. Aureana já tinha alertado desde o início que ela também é sinestésica. Não era para o Lágrima do Mar ter se aproximado tanto do Fúria do Leste, mas a teimosia pirata falou mais alto. A garota sentiu o Lágrima e tudo aconteceu.
Toni ficou em silêncio.
— Você está mesmo culpando a Capitã?
— Zenabu é minha amiga. Eu tenho lido muito sobre amizade e bons amigos criticam. Além disso, ela não me mataria — brincou Rose ao tragar o cachimbo novamente.
— Você é invulnerável, pode fazer o que quiser. Já eu...
— Vai continuar fazendo o que sempre fez: proteger a garota. Zenabu salvou você e a mim de um destino terrível, Toni, isso é o mínimo que podemos fazer.
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Invulnerável
FantasyOs deuses abençoam aqueles cujo destino é entrelaçado ao equilíbrio. Porém, num mundo onde a maior parte dos territórios é unida por uma fé intolerante, os conectados aos deuses são perseguidos e suas existências são negadas. Uma resistência formad...