A Voz da deusa

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Península do Leste, Mata Solitária

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Península do Leste, Mata Solitária

ÍRIS IV

Íris sentia a cabeça latejar com o som ensurdecedor. Poderia explodir a qualquer momento espalhando miolos para todas as direções. Todo o lado esquerdo do corpo doía com a queda do cavalo. Seu rosto era apenas dois olhos entre uma camada de lama que o cobria.

O som parou por um momento e foi substituído por passos. Não eram movimentos pesados de Hugo, mas passos leves e cuidadosos atrás de si. Não hesitou, nem por um segundo, ao desembainhar as espadas nas costas, girar o corpo e cortar o vulto.

Acertou a ponta da espada no lado interno da coxa direita do soldado. A lama irritava os olhos de Íris ao ponto de não conseguir ver, mas, pelo grito de desespero do homem, sabia que o acertou onde queria. Nada poderia curar aquele ferimento. Limpou os olhos e olhou ao redor, não viu nada, mas sentiu a dor de um chute acertá-la no peito com tanta força que caiu de costas na lama e sem ar. Foi protegida pela armadura, mas o ar escapou dos pulmões e os seios doíam esmagados dentro do peitoral. O pingente de flor de íris foi tão pressionado contra o seu peito que sentia como se ele estivesse penetrado em sua pele.

Sinestésica. Muito bom, garota — disse alguém.

Íris não conseguia vê-lo. O que foi ferido na coxa se arrastava para longe tentando estancar o sangramento com as mãos, mas o segundo estava próximo, porém escondido. Mas não havia árvores e nem arbustos próximos para se esconder. Apenas Hugo desacordado, ou morto, a alguns metros de distância. Não queria pensar nisso.

Íris desistiu de tentar procurá-lo. Fechou os olhos por um momento e se lembrou do treinamento de esgrima com Toni.

"Você tem cinco sentidos, pirralha, por que insiste em usar só um pra lutar?"

Era fácil na teoria, mas Íris nunca conseguiu "lutar com os ouvidos" como Toni dizia. Achava que aquilo era uma bobeira fantasiosa. Porém, naquele momento, se arrependia amargamente de não ter lhe dado ouvidos.

Respirava com dificuldade e sentia uma dor latejante no peito. Ignorou o fantasma que havia lhe chutado e correu em direção aos estranhos de manto dourado. Não sabia exatamente o que eram. As canções infantis contam de bruxas, feiticeiros e qualquer criatura sobrenatural maléfica para assustar as crianças. Mas eles eram diferentes de qualquer conto idiota. Eles eram reais.

Estavam em dois, vestiam mantos dourados deixando apenas os olhos à mostra. Estavam armados com espadas embora não parecessem muito habilidosos.

Sentiu uma dor absurda nas costas do ombro esquerdo como nunca sentiu. Acabou por tropeçar e cair na lama, mais uma vez. Instintivamente levou a mão direita ao ferimento e sentiu o cabo da faca de arremesso que estava presa em suas costas, tentou tirá-la, mas não conseguiu.

Doía demais. A faca perfurou a armadura e a carne, a ponta por pouco não saiu do outro lado. Lágrimas se misturavam à lama em seu rosto. Íris iria morrer ali, no meio daquela sujeira. Seus alvos estavam no mesmo lugar e o soldado invisível estava próximo. Podia ouvir seus passos, mas a dor não a deixava pensar.

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