Não há canções para piratas

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Mar do Sul

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Mar do Sul

ZENABU VI

O Verdadeiro Mar do Oeste é tudo que há entre as Ilhas Escuras e os Alpes da Aurora. Os mapas das Terras Conhecidas não costumam mostrar essa região, já que trata-se de uma terra sem lei e dominada pela pirataria. Zenabu não estava a fim de chamar atenção mesmo com o oculto. Preferiu navegar pelo meio, perigosamente próxima ao Olho da Serpente. Esse trecho marcava o encontro de duas correntes marítimas e as águas eram agitadas e cobertas por nevoeiros. Mas a capitã e sua tripulação eram a própria névoa e não era uma tempestade pequena que iria pará-los.

O Lágrima do Mar permanecia à frente dos demais noventa e oito navios. O Estrela do Norte vinha à direita e o Amphipolis à esquerda. As velas reclamaram um pouco, mas os três navios principais passaram sem dificuldades. Os demais desaceleraram, mas nada que os distanciasse muito. O Amphipolis era um pouco mais lento que o Estrela, na verdade, nenhum deles supera o Lágrima nesse sentido.

A tripulação estava agitada demais e por isso Zenabu mantinha Mei-shang, Jaco e Gani por perto todo o tempo. Vários tripulantes estavam brigando entre si por motivos idiotas e a capitã estava quase pedindo ao deus-névoa e a deusa-mar para se unirem e enviarem uma tempestade forte. "Calmarias são para inimigos, confiança se cria em tempestades". Zenabu nunca sentiu nada pelo pai, mas ele tinha boas palavras, e essas sempre fizeram muito sentido.

Mesmo com o vento favorável garantindo vários dias a menos de percurso, a tripulação já estava se estranhando de tanta ansiedade. Vontade de matar, vontade de morrer... Zenabu já não sabia mais o que eles queriam.

— É só uma cidade — disse a capitã.

— Nem pense nisso, Zen — Mei-shang debruçou sobre o convés.

A grande muralha cinza da Terrassanta era visível pela penumbra do luar, era uma noite clara e os archotes nas ameias ajudavam a iluminar. Embora não fosse a cidade mais populosa, era a maior em questão de território. Ali dentro havia todo tipo de gente, uma amostra da corte e da ralé de cada canto das Terras Conhecidas, reunidas num só lugar. A grande torre cilíndrica do Paço da Ordem podia ser vista marcando o meio da cidade radiocêntrica. Apesar da fé em um único deus ser a base daquele lugar, no fim, quem realmente mandava era o Conselho Unido. Quatro grão-mestres da União das Terras Conhecidas estavam totalmente seguros ditando suas regras e leis absurdas que perseguiam pessoas como Zenabu e toda a sua tripulação. Em algum canto desse lugar amaldiçoado está o local da Inquisição, onde as pessoas conectadas são levadas para nunca mais serem vistas.

Há dez anos, Zenabu tentou saquear a cidade. Na época, havia trinta navios e a tripulação mal chegou nas vielas secundárias. A patrulha da cidade, o exército, que tinha apoio dos territórios da Terra-do-Meio, e uma frota com o dobro de navios fizeram a tripulação recuar antes que fosse exterminada. Era para os mercenários de Aureana terem ajudado, mas mudaram de lado logo antes da invasão. Essa foi a investida mais bem sucedida entre tantas. Eles sempre sabem quando vai acontecer a próxima.

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