Capítulo 2

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•• Alexandre Pachis ••

Em toda a minha vida eu nunca conheci uma mulher que procurasse fazer as coisas de uma maneira tão certa quanto a Cristina, suas atitudes são coerentes com o seu pensamento e sua criação. Mas mesmo com essa qualidade, ela não deixa de ser uma menina difícil de lidar em alguns momentos pois ela fala o que pensa, porém, ela só faz isso comigo e com os pais dela, os outros ela trata muito bem e controla a língua.

Agora sou taxado como velho rabugento, ela já me chamou de idiota, de imbecil e vários outros adjetivos pejorativos. Tudo começou na adolescência dela e continua até hoje. Apesar desses momentos não serem tão agradáveis, é impossível odiar a Cristina ou ficar chateado por muito tempo.

- Você não vai me dizer o que eu fiz né? - nos encostamos na lateral da ponte e ficamos olhando o rio que passava por baixo.

- Não! - ela afirmou sem olhar em meus olhos.

- Tudo bem! - falei e ela bufou.

Se a Cristina soubesse tudo que eu já fiz nessa vida, provavelmente não olharia nem na minha cara e eu não sei como ficaria caso isso acontessece, ela jamais poderá saber do meu passado.

Me livrei dos meus pensamentos e comecei a prestar atenção no agora, nesse momento. Tem tanta coisa simples e feliz que já vivi ao lado dela, não sei o que seria de mim sem ela.

Ficamos ali parados olhando tudo a nossa volta enquanto o vento frio batia em nós. Cris me fez amar esse lugar, essa ponte e toda a história por trás dela, aos dez anos e ela já sabia de tudo e me surpreendia a cada conversa pois era uma criança muito madura para a idade que ela tinha, creio que isso se deve ao fato dela ter convivido apenas com adultos desde que nasceu. Mesmo com tanta inteligência e maturidade, em alguns momentos ela tem atitudes de criança mimada e eu só consigo achar graça.

- Está muito frio. - ela comentou enquanto tentava aquecer os braços.

- Vamos embora? - sugeri.

- Vamos! - começamos a voltar para o carro, tirei o casaco e coloquei em cima dos ombros dela. - Obrigada!

Assim que entramos no carro a Cristina colocou o cinto e encostou a cabeça na janela, em poucos minutos ela já estava dormindo. Já está tarde e não me surpreende ela ter dormido assim.

Dei partida e abri um pouco a janela ao meu lado. Estou um pouco cansado e amanhã é início de uma semana intensa de trabalho.

Após alguns minutos na estrada, finalmente chegamos e a Cris continuava dormindo. Estacionei o carro na garagem, peguei as chaves da casa e peguei a Cris em meus braços.

Tendo em vista a hora, suponho que o senhor André e a senhora Isadora já estejam dormindo também. Tranquei a porta após entrar, confesso que tive um pouco de dificuldade por causa da Cristina, mas consegui.

Coloquei a Cris na cama dela e ela resmungou um pouco, mas logo em seguida se acamodou. Já perdi as contas de quantas vezes fiz isso, durante o fim de sua infância, durante sua adolescência e agora em sua vida adulta, ela esta sempre dormindo em qualquer lugar. Deu sono? Ela dorme.

Sorri ao lembrar dessas pequenas coisas e cobri ela com o lençol.

- Boa noite pequena ninja! - dei um beijo em sua testa, apaguei a luz, fechei a porta e fui para o meu quarto.

(...)

Assim que acordei tomei um banho, fiz minha higiene matinal, vesti uma camisa social de cor vinho, uma calça jens azul escuro e um sapato. Também ajeitei meu cabelo e coloquei perfume.

São tantos anos acordando cedo que eu não consigo dormir depois das cinco da manhã, sempre me levanto antes de todo mundo e vou preparando o meu café e o da Cristina, os pais dela tomam café na empresa.

- Bom dia Alexandre! - André falou assim que entrou na cozinha.

- Bom dia! - falei e sorri sem mostrar os dentes.

- Cadê a Cris? - ele questionou.

- Esta dormindo ainda! - falei e voltei a preparar o suco de beterraba com laranja que a Cris gosta.

- Essa menina vive com sono! - ele falou e saiu sem esperar qualquer coisa que eu pudesse falar.

As vezes fico pensando em como a Cris é sortuda por ter uma família que a ama e quer o melhor para ela, imagino como eu poderia ter sido caso tivesse uma família estabilizada assim, mas também não gostaria que me prendessem como prendem a Cris.

- Bom dia! - escutei a Cris falar com a voz rouca de sono.

- Bom dia! - respondi e ela começou a se servir.

- Quer que eu coloque o seu também? - ela questionou e eu assenti.

Tomamos nosso café da manhã em um silêncio cômodo, em alguns momentos fiquei olhando a Cris tomar café, a cada dia que passa ela está ficando mais linda. Me livrei dos meus pensamentos impossíveis e voltei com a seriedade de sempre.

- Que horas eu preciso ir te buscar? - perguntei assim que acabamos.

- Às treze horas! - ela falou e saiu.

Escutei os passos dela subindo a escada, provavelmente foi pegar as coisas que precisa.

Coloquei toda a louça para lavar e me sentei no sofá para esperar a Cris.

- Vamos? - questionei quando ela apareceu.

- Sim! - trancamos tudo assim que saímos e partimos pra faculdade. - Minha amiga vai vir comigo ta?

- Não, você sabe que ninguém pode me ver e que ninguém vai pra sua casa! - falei seriamente e senti o olhar furioso dela sobre mim.

Dei partida no carro e seguimos nosso caminho.

- Por que ninguém pode te ver? Por que ninguém pode vir a MINHA casa?! - ela falava enquanto gesticulava e frisou a palavra "minha". - Você sempre fala isso e nunca me fala o motivo!

- É para a sua segurança! - falei calmamente e ela suspirou.

- Hoje a minha amiga vai para a minha casa comigo e ponto final, se você não quiser nos levar eu pego um táxi, não se preocupe! - ela falou com determinação e isso me deixou orgulhoso.

- Eu venho buscar vocês, mas não fale meu nome para ela e diga que ela não pode me descrever para ninguém! - estacionei na frente da faculdade e nos olhamos antes dela ir embora.

- Não entendo o motivo de tanta segurança, mas tudo bem! - ela saiu do carro e eu esperei até ela sumir do meu campo de visão.

Dei partida para a casa secreta do André para poder resolver alguns problemas que surgiram nos ultimos dias.

Comandar uma máfia não é nada fácil e o André faz isso com maestria, enquanto ele é todo errado e esconde seu trabalho de sua filha e sua esposa com uma empresa de fachada, sua esposa é toda certa e é uma das melhores médicas de Corinto.

A casa de onde ele comanda tudo, é protegida com uma das melhores seguranças que existe, são câmeras por todos os lados, atiradores super bem treinados e uma tecnológia avançada.

André tem muitos inimigos por causa do que faz e por isto me contratou para fazer a segurança de sua única filha, por medo de que alguém use a Cristina para atingi-lo. É tanta segurança que ele usa um nome falso, ele se chama Sebastian quando não está em casa.

Ano passado eu descobri que estava começando a gostar da Cristina, ela cresceu e despertou algo em mim que eu nunca senti antes. Falei com o André sobre isso antes mesmo de falar com a Cristina e ele falou que se eu quiser continuar trabalhando com ele, não devo me envolver com ela e muito menos demonstrar sentimentos. Confesso que ainda tinha esperanças de que ele aceitasse que eu namorasse com ela, mas me enganei.

Entendo o posicionamento do André, qual pai iria querer um assassino para ser namorado de sua filha? Irei sempre carregar a culpa por ter feito o que fiz e ao mesmo tempo serei muito grato por ele ter me tirado da prisão e me dado um emprego, uma nova vida. É essa parte da minha vida que a Cristina nunca pode saber...

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Para Sempre Seu ProtetorWhere stories live. Discover now