Capítulo 4

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•• Cristina Megalos ••

Estou feliz por finalmente ter conseguido trazer a Júlia, mas isso vai ter uma consequência e eu confesso que estou com um pouco de medo, é praticamente impossível não sentir isso. Minha mãe não é tão rígida em relação a minha segurança, assim como eu ela nunca entendeu o porque do meu pai nos proteger tanto, mas ela também não se importa ao ponto de se impor e contestar tudo.

Eu não me importava com toda essa segurança, mas eu comecei a me importar quando me senti prisioneira e agora chegou a hora de tomar algumas atitudes "drásticas", começar a agir de uma maneira que me deixe livre o suficiente para errar e aprender com os meus erros, assim como todos os seres humanos aprendem.

- Sua casa é linda! - Júlia comentou quando começamos a subir as escadas.

- Obrigada! - agradeci sorrindo e continuamos andando até o meu quarto.

A Júlia e eu vamos ter que dividir a cama pois ela não quer dormir em um quarto sozinha, ela me exigiu isso quando eu a convidei para vir e eu aceitei.

- Se precisar de algo é só chamar, estarei em frente à sua porta! - Alex falou formalmente e ficou parado ao lado da porta, parecendo uma estátua.

- Ok! - fingi que não me importava com a sua formalidade e entrei no quarto com a Júlia.

- Cris, minha língua estava coçando para poder comentar! - Júlia começou a falar baixinho assim que se jogou na cama. - Seu guarda-costas é um gato!

Ela começou a se abanar e eu comecei a rir da cara dela.

- Não acho tudo isso! - dei de ombros e me sentei na minha cadeira giratória rosa.

- Queria eu um pedaço de mal caminho desse! - ela continuava sussurrando, por causa do Alex que estava do lado de fora.

- Espera aí! - me levantei e abri a porta. - Alex, da pra você ir fazer outra coisa? Quero conversar com a minha amiga tranquilamente!

Ele me olhou com seus olhos negros por longos segundos enquanto eu o olhava com deboche.

- Ok! - ele falou com mal humor e saiu.

- Agora podemos conversar tranquilamente, ele saiu! - sorri e comecei a procurar uma roupa para vestir.

- Eu adoraria ficar na companhia dele! - ela continuou com as piadas e logo depois mudou de assunto. - Eu não trouxe roupa, você me empresta?

- Claro! - procurei uma roupa para ela e outra para mim, ainda bem que temos quase o mesmo tipo. - Porque você não trouxe roupa?

- Eu esqueci de arrumar minhas coisas para vir, lembrei quando estava na faculdade! - ela falou com sua cara lisa de sempre e eu comecei a rir, é típico da Júlia esquecer as coisas.

Nos trocamos e descemos para almoçar, espero que meu pai não esteja pois ele não sabe de nada e eu quero almoçar em paz.

Para ser sincera, eu não imaginei que o Alexandre fosse tão flexível com a ideia de trazer uma amiga minha, mas ainda bem que foi fácil lidar com ele. Pensei que ele não iria ceder de forma alguma.

- O cheiro está bom! - Júlia comentou quando estávamos chegando no fim da escada.

Antes que eu pudesse responde-la fui surpreendida com a porta principal sendo aberta rapidamente, o que me causou um leve susto. Só uma pessoa abria a porta desta forma...

- Papai! - falei quase em um sussurro e paralisei.

- Meu amor! - ele respondeu com um enorme sorriso no rosto, mas esse sorriso desmanchou na mesma hora em que viu a Júlia.

- Oi! - Júlia falou um pouco sem graça.

- Quem é essa menina Cristina Megalos? - meu pai questionou visivelmente irritado.

Engoli em seco sem saber o que lhe responder, para a maioria das pessoas essa seria uma resposta simples e fácil para se dar ao próprio pai, afinal, é apenas uma amiga e não um rapaz. Infelizmente, para mim, essa não é a realidade, cada filho conhece os pais que tem e cada pai conhece o filho que tem, eu conheço bem o meu e é isso que me causa tanto medo.

- É minha amiga Júlia, já falei dela para o senhor e para a mamãe! - tentei falar o mais firme possível, creio que consegui.

- Venha até aqui! - ele pediu e eu obedeci.

Me movi até ele com passos firmes e de cabeça erguida, escondendo totalmente o meu medo e apreensão, sei que ele não me fará mal, mas as palavras de alguém tão importante são capazes de nos destruir de uma forma inexplicável.

- Júlia, vai lá para o meu quarto, a gente almoça daqui a pouco ta? - pedi, ela assentiu rapidamente e subiu as escadas correndo.

- Você vai mandar essa menina arrumar as coisas dela e ir embora agora! - ele falou sem esconder sua fúria.

- Se ela for, eu vou com ela! - me surpreendi com a firmeza que falei e também fiquei orgulhosa de mim mesma.

- VOCÊ NÃO VAI A LUGAR NENHUM! - ele gritou e se afastou de mim no mesmo momento em que passava as mãos no cabelo, um gesto típico de desespero. - Vou cancelar sua matrícula na faculdade!

Meu coração falhou uma batida por saber que essa minha atitude em trazer a Júlia poderia me prender ainda mais. Não acredito que ele quer me privar de sair para o único lugar onde me sinto livre.

- Faz isso para você vê que fica sem filha! - falei calmamente e cruzei os braços.

Meu pai me olhou no mesmo instante que ouviu minhas palavras, seu rosto transmitia incredulidade, medo e dúvida.

- Você não teria coragem... - ele negou com a cabeça, provavelmente tentava se livrar da idéia.

- Por que eu não teria coragem? O senhor me prendeu aqui nessa enorme e linda casa por toda a minha vida, agora quer me privar de sair para o único lugar que me faz bem, o único lugar onde posso ser eu mesma. Eu não gosto de me sentir presa. Eu não quero ficar presa. Eu quero ter uma vida normal como a de todos, quero trazer minha amiga para passar um dia na minha própria casa, quero poder sair, ser livre como um passarinho e poder errar como todas as pessoas. Se o senhor me prender ainda mais, eu estaria apenas sobrevivendo e eu quero viver! - desabafei como nunca havia feito, a cada palavra dita, uma lágrima escorria dos meus olhos.

Não sei em qual momento o Alexandre apareceu onde estávamos, mas ele estava ali me olhando de um jeito que me fazia querer chorar ainda mais. Engoli o choro que queria sair, um nó se formou em minha garganta e eu olhei para o meu pai com toda a minha força, o encarei e me posicionei. Cansei de ser prisioneira.

- É para o seu bem! - revirei os olhos quando o ouvi e comecei a rir, ele sempre fala a mesma coisa.

- Essa é a sua visão sobre essa situação, nós somos diferentes e pensamos diferentes, o que o senhor acha que me faz bem, na verdade está me fazendo mal! - expliquei e suspirei.

Eu e meu pai nos encaramos por longos segundos, eu com muita expectativa e ele provavelmente analisando algo.

- Sua amiga pode ficar, mas eu espero que isso não aconteça novamente! - ele passou a mão na barba e eu sorri.

- Obrigada, mas eu não prometo nada! - falei, dei um beijo na bochecha dele e subi para o meu quarto correndo.

Estou sentindo um alívio enorme por ter falado quase tudo que estava sentindo, aos poucos irei conquistar a minha independência, custe o que custar.

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Para Sempre Seu ProtetorDonde viven las historias. Descúbrelo ahora