Beco das garrafas

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      "...uma garrafada de vinho, uma garrafada de cerveja, quis estas bebidas para mim alegrar da triste vida que levo..."

O dia já havia amanhecido esplendoroso e radiante como os dias do verão, as ruas já movimentadas dos mais trabalhadores legais, os pirangueiros e doceiros informais até a classe baixa dos pedintes. Eugênio seguia a íngreme ladeira feita de tijolos na companhia do pequeno Heron, ambos caminhavam em paços rápidos e largos, correndo contra o tempo que pouco podia ser dispensado.

— Diga-me, porque fora a minha casa buscar abrigo? Não és amigo de meu filho pois vejo que pertence a uma classe inferior a ele, tão pouco um menino de serviços. Eugênio tinha suas mãos nos bolsos de sua calça azul escuro.

— Fugia dos conflitos de minha casa senhor. Heron falara em voz doce e tristonha.

— Pois fizestes mal, um homem não foge de seus conflitos, ele os enfrente. Eugênio fala de maneira severa com o pequeno Heron.

O silêncio dentre os dois seguira toda a viagem até chegar no bar da dona Heloísa, um bar grande cheio de meretrizes, bêbados e cavalos sujos. Eugênio olha o bar com cara de repúdio, um local que só o povo da mais classe baixa frequentaria, ele é o pequeno Heron seguiram rumo ao beco das garrafas, um beco que há entre o bar é a escola abandona de são Agripino. Heron estremece na companhia de Eugênio na entrada do beco, sente em seu coração que nada de bom vira de sua casa, que nada de bom receberá de seu pai ao vê-lo sendo entregue por um homem honrado, um pai de família, coisa que seu pai jamais será.

— Qual destes alojamentos você mora meu jovem? Eugênio demonstra seu repúdio pelo lugar através do seu Tom de voz.

— A casa de número 68, senhor. Heron fala quase engasgado, pois fazia força para não chorar. Sua vontade era de correr daquele lugar e ir para o mais longe possível.

Ao bater na porta Eugênio se surpreende ao ver quem o atendê-lo, "Pilar" pensou Eugênio antes de falar.

—Pilar? Eugênio segurava o chapéu sobre a cabeça ao movimento de tirá-lo.

— Eugênio? Ela o olha da cabeça aos pés com ar de surpresa. — Oh meu deus, a quanto tempo. Ela limpa o avental sujo de farinha de trigo sobre o vestido rodado da cor azul celeste.

— é uma surpresa para mim em revê-la senhora Pilar, ressalto com muito vigor que o tempo lhe fez bem, mudou pouca desde o colegial. Eugênio põem seu chapéu castanho sobre o peito, tem em seu rosto um sorriso sincero de orelha a orelha, mostrara toda sua educação, ele nota que Pilar possuí uma mancha roxa em sua face.

— Sempre gentil, você não mudou nada desde daquele tempo. Pilar demonstrara melancolia em sua voz, via nos olhos de Eugênio a menina doce, inteligente e meiga que fora no colegial. — Mil perdões, por favor entre.

— Eu as peço em meu nome pois minha visita e breve, vim apenas deixar esse rapaz aqui. Eugênio se vira de lado deixando à mostra o pequeno Heron.

Heron andara lentamente até chegar perto da mãe, enxugara as lágrimas com as costas das suas mãos.

— Heron? Como assim deixá-lo? Pilar se surpreende ao ver seu filho.

— Seu potro buscara abrigo em minha casa noite passada durante o cair da chuva, eu não o vi, mas meu filho Edgar o viu e lhe deu as boas cortesias de nossa família. Eugênio demonstrara para Pilar o quão grande homem havia se tornado.

— Que situação desagradável, peço lhe desculpas. Pilar falara envergonhada, sabia o motivo da fuga, sabia o porquê seu filho está a chorar de volta em casa.

— Não precisa se desculpar senhora Pilar, somos conhecidos de um bom tempo. Eugênio sorria como sempre, demonstrando sua gentileza e carisma.

— Farei alguns doces para seu filho, como forma de agradecer ao pequeno por sua generosidade, gestos como esses devem ser recompensados. Pilar sorria também, mostrando a ele que também possuía educação.

— A recompensa que meu filho receberá com agrado será por linha ao seu potro. Eugênio continua a sorrir, ele devolve o chapéu a cabeça e faz um sinal de despedida. — Passar bem senhora Pilar.

Pilar tranca a porta, sentia se derrotada pela vida, porém contente em ver o filho bem, isso lhe ocupara a grande triste que havia em seu coração.

— Meu pequenino, mamãe ama você tanto. Pilar se ajoelha no chão e abraça o filho.

— Cadê Papai?

— No lugar de sempre, nas mesmas companhias. Pilar sente seu rosto adormecer com a queda de algumas lágrimas.

— Ele não vai trabalhar? Heron já imaginava a resposta, mas ousou a desafiar do seu conhecimento perguntando a sua mãe o óbvio.

— Não, ele está de folga esses dias. Pilar sabia que seu marido perdera o emprego, mas não podia deixar que seu filho soubesse, não desejava que seu filho se torna-se sapateiro nas esquinas, praça ou bares da cidade, desejava o melhor para ele.

— Espero que volte logo. Heron odeia mentiras, porém via nos olhos da mãe que não ousava lhe contar a verdade, percebia que para ele se sentir bem ela teria que demonstrar que está tudo bem.

— Vem, estou terminando de assar alguns biscoitos. Pilar ergue do chão em um salto alegre, segurando na mão de seu filho ela caminha rumo a cozinha de sua casa.

Uma casa no beco das garrafas não possuía muito luxo, apenas um três cômodo fora o banheiro. Era pequeno, porém muito aconchegante, Pilar era conhecida como uma mulher zelosa, no trabalho de casas de família ela arrancava de seus patrões bons gracejos, gorjetas generosas e até mesmo móveis seminovos.

— Oh mãe, porque seu Eugênio me chamava de potro? Heron possuía essa dúvida desde da primeira vez que lhe foi chamado assim.

Pilar que pegava a forma com as luvas logo parou sobre a pia, seus cabelos dourados ondulados estavam sobre seus olhos verdes cana, ela olhou para a pequena janela a sua frente ergue a sobrancelha esquerda e se virou para seu filho que está sentado na cadeira próximo a mesa.

— Potro é a nomeação ridícula da classe alta para pequenos rapazes de bom porte físico de classe baixa. Pilar fala de maneira séria, porém sem perder a postura.

— Somos pobres eu sei, mas não como cavalos, não temos senhores mandando em nós com seus chicotes com ponta de ferro, não necessitamos dos seus campos para poder comer. Heron tinha pouca ideia para saber de certas coisas.

Sua mãe teria a resposta certa para dar lhe, " sim somos como cavalos meu filho, temos senhoras e senhores que nos dão ordens que temos que acatar, não somos chicoteados fisicamente em nossos trabalhos, mas sim com palavras, na qual para mim doe como mulher fere meu orgulho, somos espécies diferentes é verdade, porém o sofrimento se assemelha ao parecer, sem os senhores e suas ofertas de trabalho jamais comeremos". Porém ela resolveu recuar a resposta, pois um sorriso no rosto e deu a Heron alguns biscoitos.

Em sua sombraOnde as histórias ganham vida. Descobre agora