capítulo 05

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———  died last night in my dreams
walking the streets
of some old ghost town

Faziam quatro horas que Thalassa estava na biblioteca, a noite já despontava pela grande janela e uma brisa calma e refrescante circulava por ali. Aquela era uma das maiores bibliotecas e uma das mais bem protegidas por feitiço, ninguém sem permissão do Grão-Senhor ou do dirigente poderia entrar no local. Ainda mais na seção restrita que era onde a feérica estava no momento. Apenas Thalassa restava na biblioteca, a maioria dos feéricos foram embora horas antes para aproveitar os prazeres da Corte e ela quase se sentia tentada a fazer o mesmo. 

Após passar o dia todo resolvendo os detalhes da viagem, Thalassa havia ido pesquisar sobre um antigo artefato nos preciosos livros de Boneville — a biblioteca carregava o nome de um antigo estudioso — e sua pesquisa estava indo de mal a pior. O problema não era a falta de informação mas certamente a forma rebuscada que o autor havia escrito os textos daquele livro, a boa escrita de algumas pessoas por vezes eram os pesadelos de outras. 

Os textos falavam sobre um artefato desaparecido éons antes que possuía diversos poderes, desde aumentar habilidades até abrir portais. As informações do tal objeto eram rasas e se não fosse as coisas que a garota já sabia seria muito difícil ligar os pontos. Só de pensar no que aconteceria se tal objeto caísse em mãos erradas Thalassa sentia calafrios. 

Tentou pela quarta vez ler o mesmo parágrafo sem cochilar, contudo as palavras pareciam funcionar como sonífero para a fêmea que não tinha pretensão de dormir naquela hora. E quando sua cabeça pendeu para frente e seus olhos pesaram, Thalassa decidiu que não tinha mais condições de continuar na desgastante leitura. Apagou o candelabro sobre a mesa e organizou os livros que havia pegado para levá-los novamente às prateleiras. 

A luz de todo ambiente era fraca e quando o brilho do candelabro se esvaiu a penumbra se tornou ainda maior, as luzes feéricas iluminavam precariamente o espaço e deixava muito para a imaginação dos medrosos. 
Makaela colocou quase todos os livros em seus devidos lugares, faltando apenas o exemplar que havia lhe causado tanto sono. Sua prateleira ficava no último piso este como consequência sendo o mais escuro. 

Subindo os últimos degraus para seu destino, a Capitã percebeu que toda a biblioteca estava em absoluto silêncio. Não o silêncio confortável de sua leitura. Não, aquele silêncio era do tipo que tremia as pernas, dava calafrios e fazia as pessoas paralisarem com medo de dar o próximo passo. Estancada na escada Thalassa se sentiu uma tola ao perguntar:
—  Olá? Tem alguém aí? 

Olhando ao redor e só encontrando os livros e a escuridão da biblioteca Thalassa agradeceu por ninguém ter respondido. Seus passos eram cada vez mais cautelosos em direção a última prateleira que era onde deveria deixar. Quão conveniente e assustador aquilo era? O último piso, a última prateleira e tudo mergulhado no mais puro negrume. 

Assim que chegou ao seu destino não perdeu tempo ao guardar o livro, mas foi enquanto voltava pelos corredores de páginas que ouviu um baque no chão perto das escadas, já saturada das paranoias que criava em sua cabeça Thalassa foi em direção ao barulho. Entrou pela passagem entre uma prateleira e outra e avistou a fonte do estrapido no chão, era apenas um livro pequeno e maltrapilho que tinha caído. O silêncio macabro ainda perpetuava por toda a biblioteca e depois de colocar o manuscrito em seu lugar a garota estava pronta para correr dali. 

Foi quando Thalassa começou a ouvir o maldito som. 

Os livros estavam mergulhados na escuridão noturna, e um arrepio percorreu seu corpo ao ouvir os pés se arrastando. Diferente da presença que havia sentido mais cedo — que lhe acalentava de certa forma —, dessa vez parecia que sua alma estava pronta para deixar seu corpo. O arrastar dos pés era cada vez mais audível e junto deles um ping ping incessante, como água pingando de uma torneira. 

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