capítulo 06

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——— got my mind on your body
and your body on my mind
got a taste for the cherry
I just need to take a bite






As portas do Salão de Baile Privativo estavam abertas e a barulheira era ouvida até dois andares acima. O salão ficava no sétimo andar e era aquele usado para fazer as "pequenas festas" por ser o menor e mais perto dos dormitórios, o Palácio contava com outros quatro salões, dois ao norte e dois ao sul e todos ficavam no segundo andar. Os lado norte eram ligados o que poderia ser considerado para alguns como um só, já os que ficavam ao sul eram individuais. Thalassa já havia frequentado todos eles, mas o privativo sempre fora seu favorito, não por ser "pequeno" — Helion deveria realmente repensar em seus conceitos de grande e pequeno. Mas por ter uma atmosfera que exala selvageria, sensualidade e alegria, um lugar perfeito para quem queria esquecer certas coisas. 

Quando passou pelas portas foi quase automático a forma que se sentiu ainda mais leve e pronta para uma boa noite de farra. A decoração estava impecável com mesinhas e cadeiras altas espalhadas pelo lugar, ao fundo da sala pequenos sofás em tons vermelhos se localizavam na parte mais escura. Diversas pessoas dançavam espalhadas pelo salão, algumas sozinhas de forma sensual e outras em grupo de forma divertida. Uma banda — que Thalassa reconheceu tocar em uma das tavernas famosas da cidade — dava ritmo aos passos alegres dos feéricos ali. 
Nada ali era tradicional, a forma que dançavam era completamente camponesa e espontânea e por muitos era vista como vulgar. Aquilo era uma de suas coisas favoritas em bailes informais, ninguém lhe julgaria pela roupa decotada demais tal como não tinha uma regra específica a seguir na dança — era apenas algo espontâneo e totalmente plebeu. Perto da parede onde a banda tocava estava uma enorme mesa cheia de petiscos que pareciam ser completamente ignorados pelos convidados. 
 

Thalassa localizou Helion em pé perto dos sofás vermelhos, sentados de forma distribuída ao seu redor estava o Círculo Íntimo, pela forma que riam deveriam estar ali já há algum tempo. Mas ignorando o padrinho, a feérica caminhou para a mesa de petiscos, afinal se queria encher a cara até o dia amanhecer no mínimo deveria fazer isso de estômago cheio. 

Montou seu pratinho com seus quitutes favoritos e quando se contentou com o pequeno montinho ali se escorou em uma parede para comer. Observando o salão enquanto mastigava a jovem teve um rápido vislumbre de Aslan no canto de uma parede, mesmo oculto na penumbra ela era capaz de reconhecer aquela cara de quem foi renegado mesmo de longe. Ainda se lembrava de quando chegou ao Palácio e o macho lhe pareceu simpático e até mesmo bonito, mas a verdade é que um rostinho bonito pode enganar muito.

Com ele não foi diferente. 

Aslan tinha os olhos castanhos que de longe pareciam inofensivos mas de perto podiam lhe devorar a alma. Sua estatura não era muito alta, mas usava de seus músculos e cabelo loiro encardido de galã para intimidar e persuadir os outros. O macho aparentava não ter nenhuma família já que vivia em função de servir a Helion no Palácio Dourado. 

Na primeira vez em que Helion teve que sair de Aethel para visitar uma cidade perto das fronteiras, Aslan se candidatou a fazer companhia para sua protegida. Ele lhe levou em passeios e até apresentou para amigos próximos do Grão-Senhor que moravam em outras cidades. E tudo ia às mil maravilhas, até o momento que ele entrou em seu quarto sem permissão enquanto ela dormia. Ela tinha acordado assustada porque como sempre havia sentido algo de errado, quando olhou para o lado pode discernir os olhos castanhos e traiçoeiros na escuridão do quarto. Eles não falaram nada até o momento que Thalassa com apenas um gesto trêmulo apontou para a porta. A jovem feérica passou o resto da noite tremendo com uma adaga na mão e sem conseguir fechar os olhos, com medo do que o macho poderia fazer se voltasse enquanto ela dormia. 

Corte de Sombras e Marés Where stories live. Discover now