capítulo 09

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——— so when my body is bleeding I won't admit that this hurts
because admitting isn't fixing, so then what is it worth?

Todos deveriam estar no cais antes que o sol nascesse, mas Azriel havia conversado com Cassian e Rhysand e decidiu ir ainda mais cedo para dar uma última averiguada no cais e na própria embarcação. Toda a balbúrdia da noite já havia se encerrado e a cidade estava em uma completa calmaria, de forma que o Encantador de Sombras não precisou se esconder por trás delas enquanto caminhava para o cais. O céu era iluminado pelas estrelas que cintilavam iluminando a escuridão noturna e Azriel admitia que era lindo mas nada que se comparasse ao céu da Corte Noturna, nada que se comparasse a sua casa — embora devesse admitir que Aethel durante o dia quase chegava perto. Suas sombras estavam espalhadas procurando sinal de perigo ou algo fora do comum, mas pelo jeito a cidade realmente estava absolutamente segura. 

Chegou ao enorme cais e já podia ver o Nostradamus mesmo de longe, era impossível aquele navio passar despercebido. Enfiou as mãos dentro do bolso do casaco escuro para protegê-las do frio da noite enquanto encarava a enorme embarcação no fim do cais. Devia admitir que ficou curioso para conhecer as partes que Thalassa disse que eles não teriam acesso, como a sala onde ficavam seus tesouros, sabia que era no primeiro nível do navio já que sentia a energia que os objetos ali emanava mas não quis contradizer ou se intrometer — pela primeira vez — mandando suas sombras até lá, assim como no quarto que ficava no mesmo corredor no que ele repousaria. Mas isso não significava que não o faria durante a viagem. 

A verdade era que tudo sobre a Capitã do Nostradamus era uma incógnita para o Mestre-Espião, ainda ficava surpreso ao se lembrar dela lhe dizendo que sentiu suas sombras seguindo-a — a mesma traidorazinha que acariciou seu rosto. No dia em que mandou suas sombras seguirem Thalassa, esperava no mínimo informações sobre ela antes de encontrar Helion, mas tudo que recebeu foram informações vagas e que ele já sabia — isso porque suas sombras não queriam ser evasivas demais. Aquilo nunca tinha ocorrido, se pedir para as sombras descobrirem algo, elas iam lá e faziam, era a primeira vez que não foram atrás do que seu mestre pediu. Então se Azriel quisesse descobrir algo teria que fazer por conta própria, o que não seria problema já que não era em vão seu título de Mestre-Espião. 

Suas sombras voltaram para perto de si enquanto ele caminhava em direção ao que seria sua moradia pelos próximos dias, de perto o Nostradamus parecia ainda maior parecendo uma fortaleza tendo como rainha sua Capitã. Esperava que ninguém estivesse acordado para vê-lo andando pelo deque, não seria ousado o suficiente para adentrar o navio e correr o risco de ser pego, apenas faria uma última vistoria no deque para garantir que tudo estivesse funcionando corretamente para a segurança dos seus Grão-Senhores. Enquanto escalava o degraus pode discernir uma baixa melodia que parecia vir de um alaúde — o que julgou ser algum som distante em alguma taverna — e assim terminou a subida. 

Mas quando pisou no chão de madeira silenciosamente se deu conta que a melodia realmente vinha dali. Fazendo sua especialidade e se escondendo nas sombras Azriel olhou ao redor buscando a fonte do som, as cordas do instrumento eram tocadas de forma suave o que pareceu ser a introdução de uma música. Na noite estrelada ele foi capaz de identificar os cabelo rubros de Makaela que encobertos pela escuridão noturna pareciam as rosas vermelhas que Elain cultivava em seus jardins, não queria ser pego e novamente considerado um fofoqueiro pela Capitã, então se manteve agachado em silêncio mergulhado em sombras. Mesmo que soubesse que deveria voltar ao Palácio ele quis se manter ali ouvindo a linda melodia, de forma que suas sombras percorreriam toda superfície em busca de algo para que ele cultuasse o som. 

 Como um amante oculto da música, ele não pôde deixar de apreciar a bela consonância formada pelo alaúde e quando achou que já estava tudo bom o suficiente a voz rouca e levemente grave de Thalassa se tornou audível. O próprio Azriel adorava cantar, obviamente só para si mesmo e aquilo servia de alívio para o Mestre-Espião em certos momentos. Ele se lembrava de Gwyn cantando nos treinos pela manhã e enquanto a voz de sua amiga era doce e forte — literalmente fazendo-o se lembrar de ondas quebrando sobre rochas —, a da Capitã o fez se lembrar de quando o mar ficava tão tempestuoso a ponto de formar ondas gigantescas que destruíram tudo ao seu redor. E só depois que ela começou a entoar as palavras ele pôde notar quão embargadas elas saíram. 

Corte de Sombras e Marés Hikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin