capítulo 14

607 83 112
                                    



——— i don't tell you what to say
i don't tell you what to do
so just let me be myself
that's all I ask of you









Faziam 30 anos que Helion estava enjaulado nas garras da Rainha Vadia — segundo a própria Thalassa — e em momento algum ela parou de buscar uma forma de libertá-lo, viajando pelos mares de biblioteca em biblioteca a procura de feitiços que quebrasse o feitiço que mantinha todos presos e nada era capaz de desfazer aquilo.
Mas a perseverança da jovem chamou a atenção da Rainha, e não de uma forma boa. Em todas viagens feitas sempre havia uma equipe de soldados pronta para interceptá-lá, novos caminhos foram criados pela Capitã e sua tripulação em busca de não serem pegos. 
Estava voltando de uma de suas viagens quando uma pausa em uma pequena cidade de Montesere se fez necessária, outra busca infrutífera em busca de informações havia os levado para perto dali, apenas para que suas esperanças evaporassem novamente. No momento a Capitã do Nostradamus enchia a cara o máximo possível tentando tapar o buraco em seu coração que a ausência de seu patrono havia deixado, mas álcool nenhum parecia o suficiente para aquilo. 

 Todos do Nostradamus já haviam se retirado para seus aposentos na pousada de beira de estrada que estava perto dali, sentada na mesa mais escura e escondida daquela taverna imunda ela se sentia sem esperanças e o pensamento de desistir passou rapidamente pela sua cabeça antes que se desvanecesse junto ao álcool, foi quando ela soube que era hora de dormir. Levantando a mão sinalizando que queria a conta, virou o resto de licor que estava em seu copo e aguardou com a cabeça apoiada na mesa empoeirada. Pelo cheiro de bebida, sexo e urina do lugar não foi capaz de sentir o delicioso cheiro floral que seguia a garçonete que caminhava até sua mesa, só notando sua presença após o pigarreio suave da fêmea. 

— Com licença, Senhora, sua conta. — Thalassa não estava preparada para aquilo, ao levantar da cabeça viu a mulher mais linda e extraordinária que seus olhos medíocres já haviam encarado. Os cabelos eram uma confusão cacheada tão escura quanto a noite presos em um coque no alto da cabeça, a pele retinta parecia brilhar e reluzir sob as luzes feéricas e os olhos… Ah os olhos eram do mais profundo negro lembrando-a de um abismo, Thalassa não se importaria em pular naquele abismo. 

— Anh… E-eu… Só um momento por favor — Makaela sabia que provavelmente estava fazendo papel de boba mas não se importava, se aquela desconhecida a batesse na cara ela provavelmente agradeceria tamanha paixão. Ao olhar para baixo em busca da bolsinha onde guardava suas moedas, pode ver as canelas da mulher presas uma à outra por uma corrente. 

Presa. Por. Uma. Corrente. 

.
Thalassa não pode controlar o olhar inquisidor fazendo com que a linda mulher se mexesse desconfortável  tentando abaixar o vestido puído. Sem querer deixá-la ainda mais desconfortável desviou o olhar e entregou-lhe o dinheiro esperando poder ficar um pouco mais em sua presença. 

— Você pode me dizer seu nome? 

— Pode me chamar de Hedia, Senhora — sua cabeça se mantinha baixa em um gesto discreto de submissão. 

— Oh, por favor, sem formalidades, eu sou Thalassa e é um prazer te conhecer. — Estendeu a mão num gesto apaziguador e quando Hedia fez o mesmo e suas palmas se encontraram um arrepio gostoso percorreu a Capitã desde os fios dos cabelos até os dedos dos pés. 

Os olhos do oceano se encontraram com o negrume do abismo e naquele momento elas eram as únicas naquela espelunca, não importava que tinham acabado de se conhecer e nem 30 palavras foram trocadas direito, tudo que importava era a intensidade e a imensidão captada em apenas um olhar.

Corte de Sombras e Marés Where stories live. Discover now