capítulo 10

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——— things cannot be reversed, we learn from the times we are cursed
things cannot be reversed, learn from the ones we fear the worst







Sentada em seu escritório durante toda a manhã, Thalassa tentava traçar um mapa considerando todas possíveis paradas e imprevistos, o que era bastante incerta mas ela tentava. Aquilo não era necessário pois tudo que tentava passar para o papel estava gravado em sua cabeça, mas se aquilo a ajudaria a tirar os eventos que haviam acontecido mais cedo da mente, então era o que ela faria. Dois esboços já haviam sido feitos, ambos agora estavam no lixo porque sempre havia um detalhe a mais para se adicionar. O caminho até Cretea era incerto e a todo momento alterações e desvios precisariam ser feitos, era como se a cidade ficasse em outro mundo. A pedido da Capitã, Trovard havia assumido o timão quando chegaram em alto mar, embora Thalassa sentisse falta de pilotar seu barco não tinha condições daquilo no momento, Cyrus havia ido chamá-la para tomar o café da manhã mas ainda com o estômago cheio de biscoitos e sem pique para ver alguém ela apenas continuou em seu próprio mundo.
Olhando outros mapas como referência, em um deles ela foi capaz de notar uma área específica onde provavelmente passariam, era um trecho pequeno e pelas legendas não seriam mais que três horas para atravessá-lo, olhou novamente as coordenadas para Cretea e teve certeza que passariam naquele lugar. Agora faltava descobrir se ali era realmente o berço de uma das lendas que Thalassa temia ou apenas mais um mito. 

Levantou-se de sua confortável cadeira acolchoada indo em direção à parede de escritório que estava recheada de livros e foi atrás do que precisava. O escritório era uma das partes favoritas de Thalassa em todo navio — quase todos os cômodos eram o seu favorito —, em frente sua mesa ficavam dois sofás e duas poltrona forrados formando um quadrado ao redor da mesinha de centro, tudo em tons de vermelho vinho. No lado direito um armário de vidro guardava suas melhores bebidas servindo como adega particular — ela adorava ficar deitada no sofá em paz fumando suas cigarrilhas e bebendo seus nobres vinhos. Já na parede adjacente  uma estante era embutida na parede repleta de livros que a ajudavam durante a navegação — seus livros pessoais ficavam em seu quarto onde poderia lê-los e imaginá-los sem interrupção. 

Se abaixando até a última prateleira, a Capitã foi em busca do exemplar que precisava e sem muita demora foi capaz de localizar o título "Os Mitos Reais dos Mares por Thadeus Pumas". Aquele livro — ou calhamaço — era uma pérola rara pois falava sobre os mitos e o que realmente existia sob as águas, para a maioria Thadeus era apenas um feérico louco que buscava a glória supondo o que era verdade e mentira, mas para Thalassa que já havia encontrado alguns dos "mitos" ali, o macho serviu de grande ajuda com seus textos. Voltou para sua cadeira e jogando os pés sobre a mesa começou a procurar o texto que lhe seria útil para saber se o que pensava era ou não verdade, levando um pouco mais de tempo até achar o artigo correto tendo que passar página por página. 

Com os dedos já secos de tanto repassar as folhas, Makaela finalmente encontrou o que procurava — até endireitando a postura naquele momento. Estava ali escrito bem no início da página em uma letra cursiva e detalhada no antigo idioma feérico, em tradução livre sendo “A Travessia Conflituosa” ou só “Travessia”, o lugar para a maioria das pessoas era considerado um mito antigo para apavorar marinheiros. Mas tinha aqueles que diziam que era real e que a Travessia era o equivalente ao Meio nas águas turbulentas. Thalassa não duvidava daquilo. 

Com ansiedade começou a ler o texto. 

“ A Travessia Conflituosa é um dos mitos mais antigos de Prythian e fica na saída do continente, por isso o primeiro nome, mas o segundo se dá pela suas lendas — não tão mentirosas assim. Há aqueles que dizem que lá é a travessia daqueles espíritos que não conseguem seguir em frente, já outros afirmam que é onde as mais grotescas criaturas marinhas se escondem. Para quem vive sobre a terra o Meio é aquele lugar que deve ser evitado, mas os que possuem a alma no oceano devem temer a Travessia. Uma armadilha mortal para aqueles que possuem dívidas, ou se sentem culpados por algum ente querido não estar mais neste mundo. Alguns relatos descrevem experiências tenebrosas de quem passou pela Conflictive Transitum, desde ver mortos até reviver as experiências de seu óbito, depoimentos também falam sobre criaturas encontradas apenas ali. 

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