capítulo 12

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——— oh, if you're hearing this
I must have made it through
oh, when the clouds are burned
open up my window
I see the sky's still blue







A garota estava fascinada com o mar. 

Há semanas havia chegado a uma cidade deslumbrante, para dizer o mínimo, o mar, as pessoas, as construções era tudo sublime. E embora a beleza fosse gritante ela sentia uma pontada de raiva ao pensar que aquelas pessoas tinham uma vista incrível e uma vida boa, enquanto ela tinha que viver sob as copas de árvores e matando para sobreviver. E mesmo tendo aquilo tudo as pessoas os feéricos ali podiam ser até mais cruéis que as criaturas na floresta, lá mesmo em tempos difíceis era mais fácil de se alimentar pois mesmo quando não conseguia caçar ainda podia comer os suculentos frutos das árvores. Já na cidade ela tinha que pedir ou implorar por algum pão velho e isso era negado, as pessoas não queriam saber sua história ou se estava com fome, elas só não queriam uma pirralha embaixo de suas janelas implorando alimento. 

Tinha ouvido que ali onde estava era a capital Corte-Diurna e que seu Grão-Senhor era um dos mais bondosos já visto, aparentemente aquilo não se estendia ao seu povo. Poucos foram os gentis que encontrou ali e em certo momento desistiu de pedir ajuda quando os olhares de raiva se tornaram maliciosos. Então passou a fazer o que podia, por vezes conseguia pegar as sobras dos restaurantes ali antes que fossem para o lixo mas nem sempre tinha a sorte e precisava revirar as latas em busca de algo que fosse minimamente digerível. No auge de seus 16 anos elas deveria exalar saúde e vivacidade mas tudo que tinha era sentimentos sombrios e uma aparência de merda, suas costelas estavam mais que ressaltadas e aparentes mesmo sob os trapos que usava, seus rosto que um dia fora bonito e delicado agora parecia tão desolado, tão destruído. 

Quando percebeu que não receberia gentileza dos que haviam ali então decidiu que não lhes daria também. E foi aí que ela começou a roubar. Não era sempre que passava despercebida ou que conseguia realizar o ato, mas sempre que o fazia era pensando pequeno, uma ou outra fruta de gomos, alguns pães que ficavam exposto frente às confeitarias, e quando queria ousar ela tentava alguma carne. Aquela semana certamente não estava com sorte, todo seu corpo doía e não colocava um alimento que prestasse na boca há dias, sua última refeição havia sido feita há três dias, sendo restos de sopa que conseguiu em uma taverna qualquer. E nem ao menos pode completar a refeição pois estava tremendo enquanto de fome enquanto se alimentava e acabou derrubando tudo. 

Agora todo seu corpo doía e seu estômago tecla a de receber apenas água nos últimos três dias. E mesmo que implorasse descanso sabia que tinha que se alimentar ou morreria de fome. Embora a morte parecesse mais suculenta que os resto que conseguiria eoa não estava disposto a morrer sofrendo tanto, ela já havia desistido de sua vida um par de vezes e não deu certo, então isso significava que a Mãe tinha um plano maior para ela? Na primeira havia encontrado frutos venenosos e mesmo que soubesse de sua letalidade os digeriu, sua peçonha não poderia ser tão cruel quanto a situação da jovem, e então ela se deixou levar pelo abraço da Mãe e esperava ver os pais quando acordasse do outro lado. Mas tudo que encontrou quando despertou foram as mesmas árvores que estavam ali antes de seu sono, vomitou toda a porcaria que tinha ingerido e estava intacta, e o pior de tudo, ela ainda estava viva. Na segunda tentativa ela usou a machadinha para cortar o pulso o mais profundo que poderia, pois sabia que sua cura não era rápida pela falta de magia e que as condições de fome a fariam ainda mais lenta, daquela vez não teria volta! E quando parecia que todo sangue de seu corpo havia escapado e lágrimas de alívio ganhavam seu rosto infantil, ela já estava pronta para morte e já não se importava se não veria os pais do outro lado, contanto que seus olhos não abrissem mais ela ficaria feliz até mesmo se a Mãe Negra lhe recebesse. E novamente ficou surpresa ao acordar na própria poça de sangue e com os pulsos perfeitamente curados. 

Corte de Sombras e Marés Where stories live. Discover now