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Quando a chuva para de
cair...

- O que fazemos agora? - ele fala. Eu prendo o ar. - O que acontece agora?

A chuva ainda cai, mas é apenas uma garoa. Estamos nos encarando. O asfalto molhado abaixo de nossos pés parece brilhar, e, embora a chuva tenha cessado, o céu ainda permanece completamente nublado e bastante escuro.

Quando deixamos o banheiro, vimos claramente a placa avisando que o banheiro não estava bom para uso. Tinham realmente armado para nós dois, por que antes de entrar ali dentro eu não a tinha visualizado em nenhum lugar. Nós voltamos para a sala. Apenas um casal se beijando no sofá estava lá, além de Lya, que vomitava no vaso de plantas de Thalia. Não achei aquilo ruim, na verdade, ela merecia.

Lya não sabia onde estavam todos, ela jurava que o mundo estava rodando muito, e depois de limpa-la e colocá-la para dormir no quarto que a mesma dividia com Thalia, encontrei tanto o meu celular quanto o de William na primeira gaveta da cômoda, enquanto procurava um remédio para ajudar a minha amiga. Entreguei o dele a ele, e então ficou claro: haviam mesmo armado para nós nós dois.

Então vasculhamos o restante da casa: não havia mais ninguém além do casal e de Lya. William tentou ligar para os seus amigos. Nenhum deles atendeu. Eu tive a mesma ideia, me atentando em ligar mais de quatro vezes para Thalia antes de desistir. Era isso. Prometi a mim mesma que quando ela retornasse, teríamos uma longa conversa.

Eu precisava ficar na casa para cuidar de Lya e mandar embora o casal. William teria ficado comigo, ele mesmo se ofereceu, mas então recebeu uma ligação de sua ex namorada. Ela precisava dele, e eu entendia.

Agora estamos aqui. A chuva passou. Apenas alguns pingos caem. O que acontece agora? Posso pensar em muitas alternativas, junto com as minhas outras versões, mas sequer sei por qual motivo o pensamento mais intenso que invade a minha mente é o fato de que ainda não sei o que há tatuado em seu ombro e não estou com coragem o suficiente para perguntar-lhe o que é.

Não. Não quando o momento é tão tenso. Ou será que sou eu que sempre transforma tudo em um grande desastre, quando tudo o que é, na verdade, é tão simples quanto a fina garoa que cai? Então, diante do olhar dele. Desses olhos castanhos que me encaram, em expectativa, e que ainda permanecem sobre mim em busca de uma resposta, o que consigo responder a ele, enquanto olho para o céu nublado, faz eu parecer uma boba:

- A chuva parou.

Ele arqueia as sobrancelhas grossas em duvida:

- Isso não responde a minha pergunta.

"Aí, por favor, tenha coragem!"

A Angelina mais velha diz, ranzinza. A mais nova, por sua vez, interfere:

"Não seja tão chata, ela precisa de apoio."

Mas até ela sabe o que é certo fazer e, com um olhar complacente, prossegue:

"Mas ela tem razão, você precisa ter um pouco mais de coragem."

Encaro ambas. Elas têm mesmo razão.

- O que você quer? - eu consigo perguntar.

Há um vulcão entrando em erupção dentro de mim, e ele se chacoalha violentamente quando William, arqueando outra vez as sobrancelhas, retorna a pergunta para mim, em tom de desafio:

- O que você quer?

Eu fico nervosa. Ainda mais nervosa. William percebe, e então me oferece um meio sorriso, se aproximando de mim. Ele pega a minha mão. Eu permito. Eletricidade percorre meu corpo. Não há ninguém na rua além de nós dois.

Meu BluesWhere stories live. Discover now