00:00 PM - William

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<William>

Quando a chuva para

Ela é tão pequena. Não sou extremamente alto, mas diante de mim ela é tão pequena e... Seu sorriso, acanhado, acaba trazendo aos meus lábios um sorriso próprio meu. Não sei exatamente que horas são. Posso agora facilmente desviar os olhos dela e espiar em meu celular, mas por qual motivo faria isso? Não. Não quando estamos tão próximos outra vez. Não quando quase posso sentir o seu toque sobre a minha pele, quente. Não quando, se espirrar mais profundamente, seu cheiro, que parece ser alguma mistura de rosas e algo a mais, chega até mim, embriagando-me com muito mais facilidade do que qualquer bebida existente no mundo.

Fodam-se os segundos, os minutos, as horas, o tempo... Tudo. Quero congelar nesse momento. Há tanta tensão no ar que, chego a acreditar, embora cético, que ele se torna quase palpável.

Passar essas horas ao lado de Angelina foi, ao mesmo tempo, bom demais e assustador o suficiente, ambos na mesma dose. Sequer sabia o que falar. O que dizer a ela. Eu me encontrava em alerta desde que ficamos presos, e, além disso, antes disso. Antes disso em relação a loira que ocupa a minha cama. Tenho dormido no sofá. Não é algo extremamente confortável, mas é o suficiente, e eu nunca deixaria ela sem amparo. Antes de namorados, sempre fomos amigos. E depois do término, continuamos sendo.

Ela está com ainda mais problemas com a família. Tem sido difícil, mas espero que tudo se resolva. Eu estava indo embora da festa quando cai naquela emboscada. Preso dentro daquele cubículo escuro demais, meu coração se dividia em aflição e empolgação ao mesmo tempo. Ambos os sentimentos tentando ocupar o mesmo espaço de uma casa, ao mesmo tempo.

Lá estava ela, tão surpresa quanto eu, num vestido preto e justo que deixava-lhe ainda mais bonita. Há quanto tempo não a via? Mas eu sabia que ela estava na mesma universidade que eu. A vi na volta às aulas, com um sorriso no rosto que podia ser equiparado ao brilho das estrelas. A alegria genuína que podia contagiar a todos. Eu quase sorri diante a sua imagem. Foi na mesma época em que eu e minha ex namorada rompemos e, algum tempo depois, a loira já tinha se estabelecido em minha casa.

No começo, foi estranho. Mas depois... Éramos só bons amigos. Ainda somos. Mas isso não importa no momento. É só ela que ocupa esse quarto agora. Digo, a empolgação. A promessa surgindo sorrateira para me dar um olá insinuativo.

Beija ela, uma voz dentro de mim ressoa, com a mesma intensidade de um trovão em um dia de chuva. E por falar em chuva, o céu ainda está nublado. E sei. Daqui à pouco vai voltar a chover outra vez.

Dentro daquele banheiro, ao vê-la, pensei em como seria tocá-la, ouvir o som da sua risada, vê-la rir igual aquele dia,no Campos, rodeados de pessoas que fariam parte de seu ciclo social. Talvez sentir o seu cheiro, e me perder nas ondas de seu cabelo. Agora sei que possuem um cheiro doce e bom. Quero sentir esse cheiro outra vez. Dou um passo para frente. Meu celular toca.

É a loira. E, mesmo que não queira, sou obrigado a atendê-la. Disse que se precisasse de mim, poderia ligar. Ah, eu não devia fazer tantas promessas. Atendo.

- Will? Está ocupado?

Sua voz está chorosa. Eu me preocupo.

- Algum problema?

- Você pode... você já está vindo?

Meu BluesOnde as histórias ganham vida. Descobre agora