23:11 PM

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— É como um hobby então? — ele interpela, ainda muito curioso.

Apesar de sentir-me mais à vontade com ele, ainda assim, falar-lhe sobre algo tão pessoal não é uma opção. A única pessoa que conhece o que escrevo é a minha melhor amiga.

— Isso mesmo... — limpo a garganta — É a tua vez.

Ele demora um pouco, parado apenas me analisando. Sinto-me um pouco envergonhada diante o seu olhar. Todavia, quando ele prossegue, acompanhando a sua fala com um sorriso que parece não sair mais de seus lábios, a leveza volta a nos acompanhar novamente.

— Certo, minha vez... — põe a mão no queixo, denotando que está pensando — Gosto de poesia.

— Eu sou apaixonada por poesias — quase transbordo de tanta animação repentina, o que lhe traz outro sorriso — Qual autor você gosta? — estou curiosa.

— Acho que não tenho um preferido. — reitera — E você?

— Também não, embora eu goste muito de Bukowski, nem tudo o que ele escreve me agrada. Ainda assim, eu só gosto de poesia. Alimenta a alma.

Ele balança a cabeça em modo de afirmação.

— "O amor é para aqueles que aguentam a sobrecarga psíquica." — ele cita, o que me arranca um sorriso intenso, outro. Ele sorri também, balançando a cabeça — Eu conheço ele também, ao menos, algumas coisas.

Mordo o lábio. Estou começando a achar que somos, de fato, muito parecidos.

— Eu gosto de quase tudo o que ele escreve, principalmente por que é algo mais real.

Ele concorda. E, só nesse exato momento, é que percebo que ainda estou segurando a bexiga, e que ela está quase explodindo.

Começo a balançar as pernas, tentando segurá-la um pouco mais.

— É a minha vez — disparo, mas tudo o que estou conseguindo pensar agora é que preciso urgentemente fazer xixi.

— Você está bem? — William pergunta em incerteza.

O que eu posso fazer contra a minha bexiga? Sei que é uma necessidade biológica, mas isso não significa que eu queira fazer na frente de William. Não o conheço bem o suficiente e não estou bêbada demais para isso. Todavia, eu não posso mais segurar. Sinto que vou explodir e, pior do que fazer xixi na sua frente seria fazer xixi na sua frente e "nas calças". Por isso, embora envergonhada, sentindo minhas bochechas queimarem, digo:

— Eu preciso usar o banheiro. — anuncio — Será que pode me dar licença?

Ele demora um pouco para absorver o que eu disse e, quando parece se dar conta, levanta-se depressa e se distancia do vaso. Confesso que apesar de fazer xixi ser algo tão comum, ter que fazê-lo na frente dele é bastante constrangedor.

Levanto-me, balançando as pernas descontroladamente. Ele vai até o outro lado do banheiro, que, na verdade, não fica tão longe, por que o local é minúsculo. Depois se vira. Eu olho para o vaso, vendo o quão sujo está. Confesso que sinto nojo, e então procuro algum papel higiênico para colocá-lo em cima dele. Não acho, e me lembro frustrada que não havia nenhum quando procurei mais cedo. Sendo assim, contento-me em dar descarga.

Olho em direção à William, apenas para verificar se ele ainda está de costas. Notando que sim, e sempre olhando em sua direção, começo a abaixar o shorts - por que sempre uso shorts de malha quando estou usando saias ou vestidos - e a calcinha, me sentindo muito grata a mim mesma por não ter vindo com o macacão que pensara em usar. Quando as primeiras gotinhas de xixi descem, não consigo não ficar vermelha. Não tiro os olhos dele e nem sento no vaso, permaneço no meio termo. Meio em pé e meio sentada. Depois, dou descarga.

Quando estou lavando as mãos digo:

— Pode virar.

E só então, perguntando "Tem certeza?" e depois de eu respondê-lo "Sim" é que ele se vira no exato momento em que desligo a torneio e me volto em sua direção. Sei que foi apenas uma necessidade biológica, mas, mesmo assim, ainda estou sentindo-me desconfortável com a situação.

E agora ele está olhando para mim e eu estou fitando-o também, e de repente estamos rindo um para o outro. E eu confesso que meu riso sai bem estranho, extremamente alto e ruidoso, principalmente por que estou nervosa.

— Isso, era isso o que eu queria ver. — dispara ele sobre mim.

Vejo as minhas duas versões paralisarem mais uma vez, tão intrigadas quando eu.

— Isso o quê? — pergunto.

— Esse sorriso. — diz tão naturalmente que até me assusta. Depois, parecendo se dar conta do que disse, diminui o sorriso, embora ainda esteja com ele desenhando os seus lábios e continua: — Faz eu me lembrar daquela garotinha do colégio.

Meu coração salta um pulo intenso, e confesso que chego a imaginar que é dessa vez que ele realmente vai escapar. Mas não escapa e, quando recobro um pouco a compostura, molhando os lábios com a saliva por que agora os sinto seco, só então, a palavra "garotinha" ganha forma em minha mente, mas não de um jeito bom.

— Garotinha? — meu tom soa um pouco rude demais, talvez contendo uma dose de incredulidade.

Garotinha? Por que essa palavra está me incomodando tanto?

"Viu só? Não era nada mais do que uma garotinha para ele naquela época."

A Angelina mais velha está sorrindo, como se zombasse de mim, e tudo o que quero é estrangulá-la.

Quando William abre a boca para me responder, trazendo batidas novamente aceleradas em meu coração, escutamos vozes no corredor.

Parece um grupo. Seria outra chance de escaparmos? Eu não penso muito no que fazer, por que no segundo seguinte já estou pronta para chamar a atenção deles e no outro William está tampando a minha boca com as suas mãos, impedindo-me de pedir ajuda.

Não entendo a sua atitude e isso me deixa muito irritada.

O grupo passa e com ele outra oportunidade de sair daqui.

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Bjxs,

Triz

Meu BluesWhere stories live. Discover now