22:15 PM

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- O que disse?

Eu sei o que ele disse, ouvi bem. "Por que eu goste de você, Angelina. Eu espero por esse beijo desde a época da escola." Mas sinto como se tudo tivesse sido um delírio estranho.

Ele respira fundo. Parece buscar coragem novamente para dizer o que quero escutar outra vez.

- Eu disse que gosto de você. - morde o lábio.

Volto o meu olhar para a sua direção, onde encontro os seus olhos me sondando em busca de alguma reação. E como é a bagunça que me ronda, é tendo ela como base que o respondo.

- E só agora se deu conta disso? - meu tom soa mais afetado do que eu quero - Só agora, depois de anos?

Vejo a tensão empurrar de uma vez só a leveza para bem longe, pegando-a de surpresa.

- Eu... Disse que sempre esperei pelo teu beijo - a sua voz soa fraca, como se a minha acusação tivesse lhe acertado em cheio.

- Eu ouvi essa parte. - pontuo - Por que está me dizendo isso só agora?

- Eu tentei te falar antes, mas...

- Só não quis. - completo para ele.

Ele franze o cenho, só então notando que eu estou na defensiva.

- Não é isso... - dispara - Não era tão fácil assim e tudo era muito confuso para mim.

- Como assim não era tão fácil? - desdenho, levantando-me por que com a quantidade de energia sobrecarregando repentinamente o meu corpo é impossível manter-me sentada - Era bem fácil, só precisava dizer "Eu gosto de você". Só isso. Bem simples.

Então ele se levanta também, enquanto eu o encaro com o nariz levantado, adquirindo a postura superior que sempre tenho involuntariamente quando estou me sentindo afetada por algo. Há alguma coisa diferente dentro de suas órbitas.

- Fácil? - é a sua vez de debochar, adquirindo um tom de voz incisivo - Quantas vezes você deixou algum cara se aproximar o suficiente de ti na escola? Na verdade, não só os caras, como a maioria das pessoas?

Estou começando a sentir o meu coração acelerando novamente, mas, dessa vez, é movido pela raiva.

- Onde quer chegar com isso? - então eu me lembro dos boatos que a Vânia espalhava sobre mim, sobre o quão eu era uma garota estúpida e mimada - Está falando dos boatos que uma colega minha espalhava sobre mim?

Vânia, a mesma garota que eu ajudei e fui como amiga, para apoiá-la naquela maldita festa, vivia espalhando para todo mundo boatos sobre mim. Ela inventava coisas absurdas, fazendo com que as pessoas me vissem com outros olhos naquela época. Eu nunca imaginei que ela fizesse isso. É claro que eu achava estranho a forma com a qual as pessoas me olhavam, como se eu fosse um animal pesonhento e venenoso. Até que, quando ela finalmente saiu do colégio e se mudou para outro lugar, por que a empresa onde o pai dela trabalhava iria abrir outra filial, uma de nossas amigas resolveu me contar tudo o que ela aprontava.

Eu sempre soube que a Vânia era uma pessoa afetada. Ela tinha sempre que estar por cima, e várias vezes me colocava lá embaixo, só para se sentir lá em cima, entretanto, eu nunca me dei conta disso. Eu só achava que ela tinha a necessidade de brilhar mais que o sol, e a nossa amizade, naquela época, era mais importante para mim do que os seus caprichos. Contudo, o que eu não sabia era que ela vivia falando coisas ruins sobre mim, principalmente para o grupo ao qual William fazia parte. Ela dizia que eu detestava eles, dando argumentos sem nexo algum, e ainda inventava muitas coisas, como, por exemplo, que eu os achava bizarros e ridículos, o que não era verdade.

Meu BluesOnde as histórias ganham vida. Descobre agora