23:18 PM

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Depois de William me lembrar da noite em que fui aquele bar, tudo voltou à memória. Danilo tinha ido aquele bar por que a banda de alguns amigos iria tocar. Danilo estava eufórico para me apresentar como sua namorada formalmente para eles, todo orgulhoso de me ter com ele. Nos tornamos primeiramente amigos, mas, com o tempo e com a convivência e por sermos tão parecidos, resolvemos tentar.

Eu nunca tinha ido até aquele bar com ele. Na verdade, ele costumava ir sozinho com os amigos, para que pudessem se divertir e ter um momento entre amigos. Nada mais válido que isso. Era bom vê-lo feliz a companhia de seus amigos de escola. E eu não via nenhum problema em que Danilo saísse com os amigos. Nossa relação era sincera o suiciente para que não precisássemos agir tão possessivamente, o que infelizmente ainda acontece em muitas relações po aí. Tem gente que simplesmente não entende que ninguém é dono de ninguém e que temos as nossas coisas individuais. Um relacionamento saúdavel é baseado em confiança e isso tínhamos bastante. Era o que fazia tudo ser bem melhor entre a gente.

Danilo também era apaixonado por filmes antigos e, sempre que possível, fazíamos sessões que iam até tarde assistindo vários filmes que gostávamos. Aquilo era muito bom. Confesso que sinto falta.

Silêncio.

William e eu voltamos a fazer um silêncio que constrange. Eu sei que não devo-lhe nenhuma explicação sobre isso, mas decido dar-lhe mesmo assim.

- A gente terminou pouco tempo depois de termos ido nesse bar. - anúncio.

William lança-me um olhar questionador, como se quisesse dizer "como assim?" mas não tivesse certeza de que deve perguntar ou não. Talvez só não queria ser enxerido.

- O nome dele é Danilo. - sorrio com a lembrança do homem que ele é e sempre foi. - Nossa relação foi algo que aconteceu de repente e que terminou assim também.

- Como assim? - ele não se segura, o que quase me faz rir diante a sua curiosidade.

- A gente era muito amigo e depois, com o tempo, foi se tornando algo mais intenso. - digo - Quando percebi Danilo já tinha me pedido em namoro e eu tinha aceitado. Acho que por conhecê-lo bastante eu meio que me. senti segura em ser a namorada dele. Parecia algo certo. Nós dávamos bem, tínhamos os mesmos gostos. Quase como a Lídia e você.

Ele acena com a cabeça, afirmando que me entendeu. Depois, sorri, visivelmente cada vez mais interessado.

- Como se conheceram?

- Ele é amigo do namorado da minha melhor amiga, Miranda, lembra dela, não é? - ele acena, em concordância. Pergunto isso por que Miranda também estudava comigo e desde aquela época éramos grudadas. Ainda somos. - Teve um dia que a Miranda fez um aniversário surpresa pro namorado dela, Christian, e o Danilo estava lá. A gente foi apresentado um para o outro e foi acontecendo. Nos tornamos amigos e depois foi acontecendo naturalmente.

Lembro bem do dia em que o conheci. Danilo era mais velho que eu, já estava na faculdade, cursando artes visuais e também era tatuador. Lembro de ter perguntado muitas coisas relacionado a tatuagens, mas apenas por curiosidade mesmo, já que eu tinha muita vontade de tatuar algo em mim mas o medo de agulha me paralisava.

- Aqui. - eu estico as minhas duas mãos em direção à ele, o que lhe pega desprevenido, mas, depois de alguns segundos sem entender ele olha. Estou mostrando-lhe meus pulsos - Danilo e tatuador e o trabalho dele é muito incrível! Passei a noite inteira perguntando qual a tatuagem mais louca que ele pensaria em fazer em mim só para que eu acabasse fazendo essas duas coisas minúsculas. Foi ele que tatuou alguns dias depois que a gente se conheceu. - sorrio. No pulso esquerdo há uma meia lua e no outro, um planeta terra sendo rodeado por um aviaozinho.

William está sorrindo também. Ele segura os meus dois braços e parece que há um vulcão entrando em erupção dentro de mim. Como ele consegue me deixar tão fraca com tão pouco? Tensão. Eu recolho os meus braços e volto para a posição em que estava anteriormente, repousando-os sobre as minhas pernas.

Depois que a tensão passa, ele pergunta:

- Sei que pode parecer invasivo, mas... Por que terminaram?

- Eu não sei. - digo sincera - A gente só percebeu que não era aquilo, que tínhamos confundido tudo e voltamos a ser só amigos.

- E ainda são?

- É claro que sim. Danilo está noivo e a noiva dele está grávida. O cara está muito feliz. - falo com alegria sincera, por que a noiva dele é uma pessoa incrível e os dois dão muito apaixonados, como eu e ele, na realidade, nunca fomos. Então, criando coragem, eu continuo, embora sinta as minhas bochechas esquentar em - Depois disso eu te vi com a Lídia novamente.

- Foi quando a gente voltou. - diz - A gente vive se desencontrado. - ele aponta, um tanto pensativo.

Silêncio.

Quase digo a frase "Vai ver não nascemos para ficarmos juntos", mas sinto vergonha demais para sequer digitar dizê-la. Parece frase de filmes clichê que assisto de vez em quando.

- "Só de vez em quando é que você encontra alguém com uma presença e eletricidade que combina com a tua no ato." - ele disserta.

Eu quase entro em colapso.

- Bukowski de novo - aponto, sorrindo.

O peso de cada palavra dita por William reverbera em minha mente e faz eu me sentir fraca.

- Mas não esquece que ele também disse "Como pode dizer que ama uma pessoa quando há dez mil outras no mundo que você amaria mais se conhecesse? Mas a gente nunca conhece." - eu instigo.

- Nem tudo o que ele escreve é tão bom assim. - William rebate e nos sorrimos - Acho, na minha opinião, que não importa se há dez mil pessoas no mundo quando o seu coração bate mais forte só por uma. É muito louco, mas o que não é? E como ele mesmo disse, mas a gente nunca conhece. E quem a gente conhece é capaz de tornar todas as outras pessoas menos interessantes.

Há uma quentura subindo pelo meu ventre.

- Por que você não foi até lá? - pergunto, olhando-o fixo.

Vejo a confusão em seus olhos. Há algo novo no ar a qual eu não sei o que possa ser.

Do outro lado do corredor a música ainda é alta e intensa.

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