29 de dezembro de 2020- 19º dia

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Entro em casa chutando meus sapatos ao mesmo tempo em que tirava o casaco que vestia, o pendurando no gancho atrás da porta puxo o elástico dos meus cabelos fazendo os fios se soltarem enquanto com a outra mão tranco a porta antes de jogar a chave sobre a mesa de centro. Meus pés me arrastam até o quarto e em seguida ao closet onde puxo meu vestido com pressa pela cabeça agarrando o mesmo moletom de sempre.

Outra onda de soluços sufocantes toma conta do meu corpo com a força de uma bomba cheia de dor e desespero. Meus braços envolvem os joelhos apertando contra meu peito, como se eu precisasse segurar tudo com firmeza para que os tremores não conseguissem partir ao meio como pareciam querer fazer com ele.

A dor é como fogo correndo por minhas veias, músculos e cada centímetro de pele, minhas unhas se agarram a pele do pulso onde começo a arranhar de maneira que em poucos segundos haja pequenas gotículas de sangue saindo da minha pele.

Henry iria ficar louco... Henry... Eu precisava dele.

Escuto meu celular tocar e ergo a minha cabeça encarando o aparelho sobre o criado mudo, eu nem havia o levado comigo e durante o tempo que fiquei fora nem pensei em avisar alguém.

Eles sabiam onde eu estava, sabiam que eu precisava ficar sozinha, mas eu não queria mais ficar sozinha.

Ficar sozinha significaria me machucar mais ainda.

O celular para de tocar e fecho meus olhos secando minhas bochechas com as mangas do moletom, mas então o toque volta e com eles batidas fortes na porta de casa.

Vá embora.

Tenho vontade de gritar, mas quando abro a boca apenas mais soluços escapam por meus lábios e preciso me encolher pela dor no meu peito. Barulhos são ouvidos dentro da minha casa e mesmo que eu devesse estar com medo, meu corpo estava ignorando qualquer outra coisa sem ser a dor e agonia de meus pensamentos.

- Oh mia farfalla - a voz dele chega aos meus ouvidos antes de braços quentes e o cheiro de canela com hortelã me envolver.

-He.He.Henry, t.t.ta doendo. - gaguejo agarrando as mãos dele apertando como se aquilo fosse curar todas as feridas reabertas a força.

-Shhh, estou aqui, estou com você, não vou a lugar algum. - ele não parece se importar quando aperto minhas unhas nas mãos dele ao voltar a chorar, apenas deixa beijos em meus cabelos. - tudo vai ficar bem, deixe sair, você está segura.

Eu estava segura. Eu estava em casa. Eu era amada.

-N.n.não me d.d.eixa...- imploro quando ele se afasta, mas Henry vai mesmo assim, volto a me encolher e a cravar minhas unhas na pele do meu braço querendo aliviar aquela dor de qualquer forma.

-Eu deixei a porta aberta amor, precisava fechar, e tirar meus sapatos. - a cama afunda quando ele volta a se deitar atrás de mim e sua mão agarra a minha afastando da pele já machucada. - Não se machuque

-N.não - respiro fundo querendo controlar aquilo tudo, mas apenas me encolho contra o corpo gigante esperando que de alguma forma o contato com ele fosse fazer meus demônios correrem para longe de mim.

-Eu sei, eu sei. Não vou a lugar algum meu amor. - ele responde mesmo sem eu ter conseguido pronunciar as palavras.

[...]

E ele não tinha ido, Henry passará as próximas três horas deitado atrás do meu corpo, as mãos hora tocando meus cabelos, hora secando meus rosto, ou apenas segurando minhas mãos enquanto sussurrava que tudo iria passar se eu dormisse um pouco.

-Não quero dormir. - sussurro depois de alguns minutos em que já não haviam mais lágrimas a derramar. - Vou ter pesadelos.

-Você precisa descansar um pouco. - um dedo passa por minha boca ferida por meus dentes e fungo negando com a cabeça de maneira teimosa. - Quer me contar como foi lá?

Dolce Pandoro - ConcluídaWhere stories live. Discover now