o começo

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3 anos antes

—Vedi dove stai andando, ragazza! —o velho que acabou de esbarrar em mim grita em italiano e respiro fundo sem entender uma única palavra.

Esfrego meu rosto olhando em volta a grande praça, rodeada por barracas que exalavam o cheiro de muito temperos. Eu devia estar na Piazza delle Erbe, o mercado de temperos da cidade, pego meu mapa dentro do bolso olhando em volta novamente e solto um resmungo alto quando o vento arranca o papel das minhas mãos.

—Merda. —grito correndo atrás do meu único auxílio para encontrar minha nova casa. — Com licença. —vou gritando enquanto passo entre as pessoas, mas a maioria me olha ou assustada ou sem entender.

Bato de frente a uma parede e sinto meu corpo desabar, minha bunda se chocando ao chão e vejo o mapa caindo dentro da fonte principal.

—ti sei fatta male, ragazza? —a voz rouca puxando um sotaque me faz olhar a pessoa em quem esbarrei.

Ele era alto, ombros largos, tinha uma expressão preocupada e olhos escondidos atrás de óculos escuros.

—Eu não entendo...—murmuro olhando a mão dele estendida para mim. —Eu sabia que era um erro me mudar para um pais sem falar a língua nativa. —me condeno levantando sozinha sabendo que ele não ia entender mesmo. —Mas não, eu tenho que ser teimosa, tenho que quebrar minha cara. —caminho até a fonte olhando meu mapa destruído. —Burra Amélia, você é uma burra. Esbarrando em italianos lindos e não pode responder nem com um pedido de desculpas na língua dele...

—Bom, eu aceito em inglês também. —arregalo os olhos me virando para encarar o homem sabendo que minha cara só expressava o choque.

O homem retira os óculos e sou encarada pelo par de olhos mais lindos que eu já vi durante minha vida toda, de um azul brilhante e com uma pequena mancha castanha no esquerdo.

—meu Deus. —cubro minha boca chocada por passar aquela vergonha.

—Vejo que é nova na cidade.

—No país. —murmuro envergonhada arrumando minha mochila no meu ombro. —Me desculpe, por tudo. —falo de maneira calma agora.

—Está tudo bem, você parecia desesperada atrás do mapa voador. —ele fala sorrindo de forma brincalhona.

—Eu precisava dele. —encolho meus ombros olhando em volta perdida.

—Você realmente não fala nada em italiano? —ele ergue uma sobrancelha bem desenhada e nego com a cabeça. —Onde está indo?

—Bom... —encolho meus ombros. —Um hotel seria um bom começo. —ele era um desconhecido apesar de tudo, não ia contar o motivo de eu estar ali.

—Tem um hotel a algumas quadras daqui, se você esperar alguns minutos posso te levar até ele. —ele me olha de forma gentil e franzo a testa tentando entender porque ele queria me ajudar quando todos os outros pareciam me achar uma louca.

Estranho...

—É só apontar o caminho, eu me acho. —empino meu nariz de forma independente esperando ele que me observa confuso, mas logo concorda.

—Você segue reto até enxergar a capela, na terceira rua a direita vai encontrar um prédio laranja, ao lado fica o hotel. —ele explica devagar fazendo sinais com as mãos como se para me explicar.

—Certo, muito obrigada. —agradeço sincera acenando e decido me afastar rapidamente.

Vai que é um assassino igual aqueles de séries policiais?

Sigo o caminho que ele me mostrou pensando em como aquela viagem tinha perdido o rumo totalmente, nesse momento eu já devia ter saído da Itália e estar voltando para Londres. Mas cá estou eu, procurando um hotel e decidindo que era melhor eu aprender o idioma o mais rápido possível.

Sinto meu celular vibrar no meu bolso e o pego vendo o nome da minha mãe brilhar na tela, respiro fundo e atendo a ligação parando perto de uma das casas

—Amelia Louise Andrews estou te ligando a horas. —a voz dela soa irritada e esfrego minha testa. —Onde você está?

—viajando mãe...—o mais longe de você o possível, tenho vontade de dizer mas fico em silêncio a escutando reclamar sobre eu não ter nada decidido na vida ainda. —Meu livro está vendendo muito bem, é com esse dinheiro que estou viajando. —falo entre meus dentes apertando meu braço com minhas unhas.

Era com esse dinheiro que ela podia manter a vida que tinha em Londres.

—Você acha que vai se sustentar sempre com esse livro? Na sua idade eu já tinha lançado três obras.

Que nunca fizeram fama ou dinheiro...

—Eu tenho que desligar mãe... Até depois. —desligo rapidamente respirando fundo afastando aquilo da minha mente.

—Ainda perdida, ragazza? — viro o rosto encarando o homem da fonte. Ele carregava algumas sacolas com temperos nas mãos.

—Você está me perseguindo? —ergo uma sobrancelha me afastando da parede onde me encostei vendo a testa dele se franzir.

—Não, eu dei essa impressão? —ele parece incomodado.

Talvez eu esteja exagerando?

—Não. —respondo rápido franzindo a testa agora.

—Eu entendi... Você é nova na cidade, um idioma estranho, e eu sou gentil demais. —não é que ele entendeu mesmo. —Eu trabalho ao lado do hotel, por isso estou indo nesse caminho.

Ah...

—Me desculpe... Eu estou viajando a muito tempo sozinha, talvez esteja paranóica. —falo um pouco desconfortável e suspiro. —Sou a Amélia, inglesa.

Ele solta uma risada e o olho curiosa.

—Henry, inglês. —aperta minha mão encarando minha expressão de surpresa. —o mundo é uma bola, eu sei.

Concordo voltando a andar vendo que ele me acompanha agora.

—Eu diria um ovo... —murmuro olhando as casas. Tudo era tão lindo ali, tão simples e parecia que tinha sido esquecido no tempo.

—O que está fazendo na cidade então? —ele pergunta curioso e sorrio.

—Procurando um motivo para ficar.

Como em todos os outros lugares por onde estive durante os últimos dois anos.

—Então você vai precisar de um guia turístico? —Henry ergue uma sobrancelha e rio concordando. —Conheço a pessoa perfeita para esse trabalho.

Ele para de andar e o olho curiosa, Henry aponta o prédio cinza ao lado de uma pequena padaria laranja e sorrio entendendo que é o hotel.

—Onde você trabalha? —pergunto olhando todos os prédios e ele vai até a padaria tirando um molho de chaves do bolso.

—Aqui. —bate na porta e ergo uma sobrancelha. —Sempre que precisar sabe onde me encontrar. —ele sorri gentilmente outra vez e entra no prédio.

Talvez eu fique por aqui mesmo.

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Primeira capítulo da nossa fic, opiniões? Críticas? Receitas de pão?

Amo vocês

Dolce Pandoro - ConcluídaWhere stories live. Discover now