1 de janeiro de 2021- Henry

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Divórcio

A mesa velha de metal reclama debaixo dos meus movimentos enquanto sovo a massa de pão com toda a raiva que meu corpo acumula nele mesmo. Cada músculo tenso querendo liberar aquela dor aguda presa dentro do meu peito e a cada minuto eu me via perto de atender aos pedidos deles.

Fazia um dia, vinte quatro horas que todo meu mundo desabou sobre meus pés e a única coisa que eu pude fazer foi me vestir e sair daquela casa o mais rápido possível, deixando uma Amélia desesperada me chamando.

Mas o que ela esperava de mim? Que eu ficasse para mais uma rodada de sexo e depois assinasse os documentos que a tirariam de mim?
Meu amor não tinha sido suficiente? Eu demorei demais para mostrar todos os meus sentimentos? Porque ela não me queria? Porque querer que eu não fosse mais dela?

Limpo meus olhos ao ouvir a batida na porta odiando o fato de estarem molhados, que ridículo um homem de quase dois metros chorando porque a esposa pediu o divórcio de um casamento que nunca foi real.

Eu tinha me enganado por tempo demais achando que aquilo seria um casamento de verdade.

—Henry... Você precisa buscar seus pais no aeroporto. — a voz de Anna chama atrás de mim e apenas concordo incapaz de falar qualquer palavra que seja sem quebrar. — Mia perguntou onde você estava... Devo dizer?

—Não. — respondo em um fio de voz me virando para minha prima encarando seu olhar preocupado. — Diga que não me vê desde ontem.

—O que vocês estão me escondendo? — ela cruza os braços e volto ao meu trabalho. — Primeiro ela toda chorosa e com a expressão de ter matado alguém e agora você...

Mia estava mal... Meu coração se aperta com aquilo e tenho vontade de me dar um soco por ainda estar preocupado com ela, quando claramente ela não me queria como eu a queria.

—Não é da sua conta Anna, agora se for possível, quero ficar sozinho. — me arrependo da grosseria assim que fecho a boca, mas eu precisava machucar alguém como estava machucado.

—Tudo bem. Só não esquece que eu estou aqui. — ela suspira antes de sair voltando a fechar a porta.

Reservo a massa dentro de uma vasilha, lavo minhas mãos e vou até a porta que dava para o enorme jardim que decorava meu refúgio. A casa tinha sido um presente de aniversário dado pelos meus irmãos, um lugar para todos poderem ficar se resolvessem nos visitar ou para eu me esconder quando precisasse de um tempo.

Eu a traria aqui no ano novo, só nós dois e uma boa garrafa de vinho, mas Amélia precisava estragar tudo com uma única frase.

"Eu quero o divórcio"

Eu queria muito entender o motivo dela, queria passar por cima da minha dor e me preocupar com o que a incomodava.

Mas nem mesmo eu era forte o suficiente para aquilo, não hoje.

[...]

Buscar meus pais no aeroporto tinha sido uma boa distração para a minha dor, ouvir minha mãe contar todas as novidades enquanto sentia o olhar do meu pai sobre mim, era como estar no colegial de novo. Acabei a deixando na padaria, onde se encontraria com Anna e a mulher que não saia da minha cabeça. O rápido vislumbre de meias amarelas atrás do vidro da porta faz meu estômago se revirar e meu peito apertar.

Eu não podia enfrentar Amélia, não ainda.

—Ela pediu para assinar os documentos? —a voz do meu pai me pega de surpresa e franzo a testa.

Não tinha como ele saber...

—Não sei do que está falando. — mantenho minha voz áspera enquanto volto a dirigir, as mãos apertando o volante com força por estar sozinho com ele.

Dolce Pandoro - ConcluídaWhere stories live. Discover now