Dezembro 2017

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Meus pés nunca funcionaram bem tendo que trabalhar com a neve, e a prova disso foi meu café voando da minha mão enquanto meu corpo parecia cair em câmera lenta em direção ao chão.

—Mia. —escuto um grito por trás do zumbido em meus ouvidos depois de minha cabeça se chocar contra a pedra da calçada e logo mãos grandes tocam meus braços. —Fique parada, você bateu a cabeça. —ele falava rápido e em italiano, e eu estava surpresa por entender tudo.

—Henry, ela se machucou? —outra voz aparece e reconheço como a de um dos clientes fixos da padaria. Meus olhos ainda estavam com algo quente molhando eles e só consigo resmungar.

—Não sei, o café voou todo no rosto. —algo macio toca minhas pálpebras. —Não estava quente demais... Graças a Deus.

—Minha cabeça. —finalmente encontro minha voz e com isso consigo abrir meus olhos encarando um mar azul com uma mancha me olhando preocupado. —Oi.

Ele faz uma careta.

—Eu avisei para tomar cuidado. —Henry parece irritado e sinto minhas bochechas esquentarem com a repreensão. —Você podia ter se machucado feio.

—Eu sei... Desculpe? —franzo a testa tentando sentar e ele me ajuda ainda me segurando. —Eu só estava empolgada com a feirinha de natal que você falou...

Natal é minha época favorita do ano.

—E esqueceu de olhar por onde anda? —mordo meu lábio encolhendo os ombros. —Okay, desculpe, só estou preocupado. Você bateu a cabeça com força quando caiu.

Dois meses era pouco para sermos tão amigos? Não sei, mas essa preocupação um com outro estava ali desde o começo.

—Minha mãe diz que tenho a cabeça dura..—franzo a testa de forma tímida olhando ele ri mais tranquilo. —Esta sangrando?

—Acho que não...—dedos longos passeiam por minha nuca e me encolho pela dor. —É, não está. Venha, vou te esquentar.

Espero ele se afastar, mas enquanto planejo me levantar ele suspende meu corpo nos braços.

—Henry? —olho em volta confusa, mas logo desisto pela expressão firme dele enquanto caminha para dentro da padaria.

Eu tinha aprendido a não discutir com ele.

—Fique sentadinha aqui. —Henry da a volta no balcão comigo ainda nos braços até me sentar em um banco ali, eu nunca estive do lado de dentro do balcão.

—Vai me colocar a trabalhar? —tento brincar vendo ele negar com a cabeça pegando o casaco pendurado em um gancho e passar sobre meus ombros.

Tinha cheiro de pão e algum outro perfume doce e ao mesmo tempo leve, como uma colônia.

—Você esqueceu o casaco em casa de novo? —franzo a testa me lembrando e fico vermelha outra vez. —Não sei como não esquece de calçar os sapatos. —ele se afasta e mordo meu lábio pensando em me levantar, mas eu ainda me sentia um pouco tonta.

—Henry deixei o dinheiro na mesa... —o senhor que viera nos ajudar lá fora avisa e me olha. —Um capacete da próxima vez mocinha.

Sorrio envergonhada e seguro o casaco mais forte envolta do meu corpo.

—Boa noite Sr. Vitalle, vou pensar em um novo acessório para fazer anjos na neve. —concordo vendo ele rir para a minha brincadeira antes de sair da padaria.

Olho para a porta da cozinha onde Henry sumiu e suspiro conseguindo me levantar sem sentir as pernas falharem.

—Onde você pensa que vai? —me assusto olhando para a porta que estava vazia a menos de meio minuto.

—Eu... —olho as mãos dele vendo o prato com um bolo em forma de estrela. —Que isso?

—Isso é um Pandoro. —ele parece decidir não discutir comigo e vem até onde estou. —Sente ai! —respiro fundo com o tom mandão dele e mostro a língua antes de me sentar novamente.

Henry revira os olhos colocando o prato na minha frente antes de pegar uma xícara.

—Do que é feito? —pego o garfo cutucando o bolo curiosa com aquilo. Parecia um panetone, mas sem as frutas, e também parecia mais fofo também.

—É segredo, precisaria te matar depois de contar. —ele coloca a xícara com chocolate quente ao lado do prato. — É isso que os italianos comem no lugar do nosso panetone...

—Eu pensei nisso mesmo. —Sorrio convencida e pego um pedaço colocando na boca sentindo o gosto novo e maravilhoso.

Era como um bolo, mas amanteigado, menos doce  e o toque do açúcar decorando por cima deixava perfeito.

—Então? —ele me encara como se minha resposta pudesse mudar o rumo da humanidade.

—É perfeito Henry, delicioso, fofo e doce na medida certa. Você vai vender para o natal? —bebo um gole do chocolate quente sentindo cair bem em meu corpo ainda abalado da queda e enfim entendo o que ele estava fazendo.

Meu coração esquenta e preciso focar meus olhos no prato para não deixar que ele veja minha expressão.

Henry estava cuidando de mim, gastando o tempo dele em se preocupar com minha saúde.

—Não, eu faço essa receita só para alguns poucos clientes que encomendam. —ele parece estar fugindo da pergunta e sorrio balançando a cabeça em sinal de que tinha entendido.

—Vai fazer mais vezes?

—Você gostou de verdade? —os olhos azuis parecem brilhar.

—Eu amei Henry.

E o sorriso que recebi poderia manter uma árvore de natal brilhando por dias.

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2 dia

—Pofessora. —sorrio ao ver um dos meus alunos correndo até estar perto de mim.

—Oi meu amorzinho. —me abaixo para estar na altura dele e enfim noto a caixa que ele carrega nas mãos.

—Mamãe fez pa mim pode da pa você. —ele parece todo envergonhado e até ignoro a forma errada de falar.

—Um presente? Você e sua mãe são muito gentis Lucca. — pego o presente de bom grato o abrindo e vendo que são pequenos cupcakes.

Uhn...

—Eu disse pa ela qui a pofessora gota de doce e ela fez. — o sorriso gigante que ele da esquenta meu coração.

—Pois diga a ela que eu amei, e que vou comer todos hoje mesmo. —sorrio vendo a animação dele quando se afasta correndo para onde seus pais estavam e eu aceno para os adultos.

—Me traindo assim? —me assusto ao ouvir a voz rouca e viro encarando Henry.

—Só posso trair alguém que me assuma. —mostro a língua caminhando em direção a minha casa que ficava no caminho contrário da padaria.

—Ouch... Minhas declarações não são o suficiente? —ele coloca uma mão no peito.

Nossa relação sempre foi assim, brincadeiras inocentes, abraços carinhosos, eu só não sei quando parei de o ver como apenas meu melhor amigo.

—São. —mordo meu lábio parando na frente de casa lembrando da aposta. —Você poderia mudar de profissão para leiteiro...

—Que? —ele franze a testa confuso enquanto eu abro minha porta.

—Porque ai além do pão você poderia me dar leite  também. —sorrio inocente. —Se você me desse leite eu nunca te trairia.

Henry abre a boca deixando explícito que não tinha entendido, mas entro em casa antes que ele possa me fazer surtar.

Dolce Pandoro - ConcluídaWhere stories live. Discover now